Secretário da Saúde afirmou que “muito provavelmente” a volta às aulas será adiada, já que São Paulo tem três regiões na fase mais restrita da quarentena
Por Rodrigo Gomes RBA
O estado de São Paulo não atingiu as metas para que a volta às aulas pudesse ocorrer a partir de 8 de setembro. Segundo os critérios elaborados pelo Comitê de Contingência do Coronavírus do governo João Doria (PSDB), seria preciso que, por pelo menos 28 dias consecutivos, todas as regiões que compõem o estado estivessem na fase 3-amarela do Plano São Paulo, que coordena a flexibilização da quarentena. No entanto, hoje ainda há três regiões na fase 1-vermelha, a mais restrita. Como o intervalo de avanço nas fases do plano é a cada duas semanas, uma data provável de retomada só ocorrerá na última semana de setembro ou no início de outubro.
Em entrevista coletiva realizada no dia (24), o próprio secretário estadual de Saúde, Jean Carlo Gorinchteyn, admitiu que “muito possivelmente” a volta às aulas em São Paulo não vai ocorrer em 8 de setembro. “Nós definimos muito bem que, para que houvesse um início bem flexibilizado e gradual das aulas no dia 8 de setembro, algumas regras deveriam estar muito claras e seguras. Entre elas, que as 17 regiões de saúde – são 22 no Plano São Paulo – estivessem amarelas, por 28 dias. Se nós olharmos o mapa de hoje, nós temos áreas ainda em vermelho. Nós temos outras em laranja e outras, em amarelo. Então, muito possivelmente, essa expectativa não ocorrerá”, afirmou.
As três regiões que estão hoje na fase vermelha são Franca, Ribeirão Preto e Piracicaba. Se a situação melhorar, elas podem passar para a fase 2-laranja em 7 de agosto. Em contínua melhora, para a fase 3-amarela, no dia 21 do mesmo mês. A partir daí, os 28 dias sem nenhum retrocesso – ou seja, sem aumento de novos casos, mortes e internações no estado – seriam atingidos em 18 de setembro. As aulas estão suspensas desde 24 de março.
Apressado
Apesar disso, o governo Doria já atropelou algumas vezes as regras do Plano São Paulo para acelerar o processo de reabertura do comércio. Há duas semanas, a região de Registro pulou direto da fase 1-vermelha para a faz 3-amarela, sem passar pela fase laranja. Além disso, o governo tucano já autorizou que comércios e serviços funcionassem mais horas que o estipulado na fase-2 laranja e que estabelecimentos que só poderiam abrir na fase 4-verde, pudessem abrir na fase 3-amarela.
A proposta é que volta às aulas em São Paulo seja feita de uma vez. Por isso, foi definido que só vai ocorrer quando todo o estado estiver na fase 3-amarela do Plano São Paulo, em que a ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) deve estar entre 60% e 70%, o aumento de casos deve ter índice entre 1 e 2 – dado que indica o aumento dos casos em relação à semana anterior, sendo 1 o indicador de estabilidade –, e índice de novas mortes e novas internações entre 0,5 e 1. Hoje, o estado tem três regiões na fase 1-vermelha, 11 na fase 2-laranja e oito na fase 3-amarela.
A volta às aulas será feita em três fases. Na primeira etapa, até 35% dos estudantes poderão voltar às escolas, com preservação de um 1,5 metro de distância entre eles, tanto na sala de aula e no transporte escolar como no refeitório e atividades coletivas. Na segunda etapa, concomitante ao avanço das regiões para a fase 4-verde, do Plano São Paulo, por 14 dias, voltam até 70% dos estudantes, com os mesmos protocolos. Se o controle da pandemia se mantiver na fase 4-verde por mais 14 dias, poderão voltar 100% dos estudantes.
Contra o retorno
No entanto, um modelo matemático elaborado pelo pesquisador Eduardo Massad, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), traz uma projeção assustadora: 17 mil crianças de 5 anos correm risco de morte de covid-19 em todo o país em decorrência da volta às aulas. “As aulas absolutamente não podem voltar em setembro. Nós temos hoje no Brasil 500 mil crianças portadoras do vírus zanzando por aí. Se você reabrir agora em agosto, mesmo usando máscara, mesmo botando distância de 2 metros. No primeiro dia de aula nós vamos ter 1.700 novas infecções, com 38 óbitos. Isso vai dobrar depois de 10 dias e quadruplicar depois de 15 dias. Então, abrir as escolas agora é genocídio”, disse Massad.
Os professores são contra a volta às aulas por considerar que há muito risco para estudantes, trabalhadores e famílias. “As escolas devem ser as últimas a retornar às atividades presenciais e, ainda assim, somente quando houver a drástica redução da pandemia e a garantia de segurança sanitária para professores, estudantes, funcionários e suas famílias. No contexto atual, sem perspectivas de um rápido controle da pandemia, deve ser mantida a utilização das tecnologias de informação e comunicação até dezembro”, defende o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp).
Comunidade escolar
Os professores e trabalhadores da educação municipal também são contra a volta às aulas. Em live para debater o protocolo de saúde de retomada das atividades escolares, o secretário municipal da Educação, Bruno Caetano, ouviu que “a volta às aulas é impraticável” e que os protocolos definidos até agora “estão muito distantes da realidade no ‘chão das escolas’”. Nos comentários da live, os posicionamentos de trabalhadores e familiares contra a volta às aulas também foram grande maioria.
Os profissionais da educação apontam que é preciso garantia de oferta de equipamentos de proteção individual (EPIs), de testagem para trabalhadores e famílias, que os protocolos elaborados a partir das unidades e do olhar dos trabalhadores da educação.
Dados de monitoramento das resdes sociais divulgados ontem (23) mostram que a proposta de volta às aulas foi criticada por 87% dos usuários do Facebook. Apenas 6% a defenderam, e os demais foram indiferentes. Entre os principais questionamentos esteve a correlação entre voltar as aulas enquanto grandes eventos são adiados ou cancelados, como o réveillon na Avenida Paulista, o carnaval de 2021, a Parada Gay e a Marcha para Jesus.