Levantamento da reportagem mostra que a cada dez gols que saíram foi marcado por um jogador do ex-clube.
Por Folhapress
O torcedor supersticioso acredita em rituais e coincidências que, na sua cabeça, fazem todo o sentido na hora de determinar o sucesso ou o fracasso do time de coração.
Entre tantas crenças, há uma que causa pavor nos mais desconfiados. É a chamada “Lei do Ex”, esse código não escrito do futebol que rege, por vezes, a história de uma partida, sempre a favor do adversário, segundo os descrentes.
Brincadeiras e superstições à parte, a tal “lei” tem sua influência dentro do Campeonato Brasileiro.
Levantamento da reportagem mostra que a cada dez gols que saíram na competição de 2020, um foi marcado por um jogador diante de um ex-clube.
Em 96 partidas disputadas até aqui no Brasileiro, foram anotados 228 gols. Desses, 32 (14%) contaram com o carimbo da “Lei do Ex”.
O levantamento considera tanto jogadores que chegaram a atuar profissionalmente como também atletas apenas formados na base dos clubes contra os quais marcaram no torneio.
Se considerados somente os gols de quem defendeu profissionalmente uma ex-equipe, são 25 do total de 228 -11%, mantendo a conta de um gol para cada dez anotados no Brasileiro.
Artilheiro da competição, o meia-atacante Thiago Galhardo, do Internacional, é também o jogador que mais vezes puniu times que defendeu em algum outro momento da carreira. Dos oito gols que tem no campeonato, três foram contra ex-equipes: um contra o Botafogo e dois diante do Ceará.
O clube cearense, inclusive, é quem mais sofreu com esse estigma até aqui na disputa do Nacional. Já são cinco gols de atletas que tiveram passagem pela equipe no passado. Além dos dois de Galhardo, o centroavante Elton, do Sport, também marcou duas vezes, e Felipe Jonatan, lateral esquerdo do Santos, anotou um.
O Vasco vem logo na sequência como o clube que mais sofreu gols de ex-atletas, com quatro. Fluminense, Goiás e Botafogo sofreram três.
Na 2ª rodada do Brasileiro, duas partidas tiveram a curiosidade de que ambos os clubes levaram gols de ex-jogadores.
Na vitória por 3 a 2 do Atlético-MG sobre o Corinthians, Hyoran, com passagem pela base corintiana, anotou dois, e Jô, campeão da Libertadores com a equipe mineira, fez um. No triunfo por 2 a 1 do Athletico contra o Goiás, Carlos Eduardo, revelado pelos esmeraldinos, anotou para os paranaenses, e Daniel Bessa, formado na base rubro-negra, marcou para os goianos.
Essa coincidência aconteceu uma terceira vez no campeonato. Na vitória por 3 a 2 do Vasco no clássico com o Botafogo, o vascaíno Ribamar, formado na base botafoguense, marcou um dos gols do triunfo cruzmaltino. Matheus Babi, que passou pelo Vasco quando tinha 11 anos de idade, anotou os dois do Botafogo no jogo.
Nas outras 19 partidas em que a “Lei do Ex” foi registrada, mas somente contra um time, a equipe que sofreu gol de um ex-jogador perdeu 13 vezes, empatou quatro e venceu apenas duas -aproveitamento de 17%. Não é muito bom reencontrar-se com caras conhecidas.
Por trás desses gols, há histórias de respeito pelas agremiações que um dia defenderam, mas também de superação de períodos difíceis vividos com a camisa de alguma equipe.
No caso de Thiago Galhardo, ele havia dito antes da partida contra o Ceará que não celebraria caso marcasse diante da ex-equipe. Em 2019, teve boa passagem pelo time alvinegro e marcou 12 gols no Campeonato Brasileiro, ajudando os cearenses a se manterem na elite nacional.
Em um dos gols anotados na vitória do Internacional por 2 a 0, no último dia 10, o artilheiro colorado apenas se dirigiu a uma câmera e deu um recado em Libras (Língua Brasileira de Sinais). Foi uma homenagem a Liliana Kruger, torcedora do Inter que é surda. Na mensagem, Galhardo disse com gestos: “Vamos, Inter! Eu te amo”.
Já Gustavo Mosquito, atacante do Corinthians, encontrou motivos de sobra para celebrar seu gol na vitória por 3 a 1 sobre o Coritiba, clube que o revelou, pela 4ª rodada.
Promessa da base alviverde, o atleta foi promovido ao profissional do clube paranaense em 2018. Negociações de contrato, porém, acabaram criando um impasse entre a direção e os representantes do jogador.
Por conta do imbróglio, Mosquito passou 2018 inteiro sem jogar e não chegou a estrear profissionalmente pelo Coritiba. Em outubro daquele ano, foi contratado pelo Corinthians, mas só foi entrar em campo com a camisa alvinegra em janeiro de 2019, com 21 anos de idade, sua primeira partida no futebol profissional.
Emprestado ao Paraná no início desta temporada para ganhar sequência, teve seu retorno solicitado por Tiago Nunes, então técnico corintiano. Contra o Coritiba, em Itaquera, entrou no intervalo e anotou um dos gols da vitória. No fim da partida, depois de se ajoelhar no gramado, chorou ao dar entrevista.
“A época em que estava no Coritiba tive alguns problemas, fiquei um ano sem jogar, mas não tenho mágoas, nunca vou torcer contra o Coritiba, jamais. [Tenho que] Agradecer a essas pessoas que estavam do meu lado, a Deus, porque foi muito trabalho, muita dedicação para chegar aqui e fazer um gol com essa camisa tão grande que é a do Corinthians”, disse Mosquito.
O experiente atacante Diego Souza, 35, é um dos jogadores mais rodados da elite nacional. Atualmente no Grêmio, ele já defendeu outros oito clubes que estão disputando a Série A do Campeonato Brasileiro em 2020: Fluminense, Flamengo, Vasco, Botafogo, Palmeiras, São Paulo, Atlético-MG e Sport.
Só nesta edição da competição, já enfrenteu três ex-equipes e marcou um gol diante do Fluminense, clube que o revelou, na primeira rodada da competição.
No domingo (19), o Grêmio recebe o Palmeiras, em Porto Alegre. Diego Souza defendeu o clube alviverde entre 2008 e 2010. Para o torcedor palmeirense supersticioso com os perigos da Lei do Ex, é bom ficar de olho.