A alta abstenção, porém, não foi suficiente para conter aglomerações.
Por Estadão
Estudantes que terminaram as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) neste domingo, 24, relataram salas ainda mais vazias do que viram na semana passada. A alta abstenção, porém, não foi suficiente para conter aglomerações na entrada e saída nem garantir o distanciamento social em algumas classes, segundo os estudantes.
Por volta das 15h30, Joandra Ferreira, de 18 anos, deixou o local da prova, a Unip Vergueiro, na zona sul de São Paulo. Na sala em que fez o exame, das 50 cadeiras dispostas, só 16 pessoas compareceram. Na semana anterior, diz, eram 21. “Essa evasão é boa porque a concorrência fica menor, mas também é triste pensando nas pessoas que não puderam vir”, diz a jovem que quer fazer um curso na área de Administração.
Uma chuva fina caía na zona sul de São Paulo quando os candidatos começaram a sair, o que os obrigava a ficar debaixo da marquise do prédio. Às 16h30, já era grande a concentração de estudantes, alguns deles sem máscara, na porta da universidade. Gustavo Cinquini, de 18 anos, não escondia o incômodo. “Acho que nem deveria ter tido essa prova.”
Mesmo tendo feito o exame em uma sala com 15 pessoas – no domingo anterior eram 17 – ele vê o risco da situação. “Muita gente fica sem máscara na sala. Tira, respira e fica cinco minutos sem”, reclama. “Eu me incomodo, moro com pessoa do grupo de risco e sei do perigo que é essa doença.”
Karina Rezende, de 26 anos, também notou ainda menos pessoas em sala. Ela até pensou em não fazer o Enem por medo da contaminação pelo coronavírus. “Não desisti porque é uma vez no ano e não sabemos como tudo vai ser”, diz a jovem, que quer uma bolsa para estudar Psicologia.
Já Nathalia Silva, de 24 anos, não deixou de ir por pouco. A irmã, que também fez a prova, é diabética e a família tem medo da covid-19. Na entrada, viram a aglomeração e passaram correndo direto para a sala. Ao sair, Nathalia tentava se manter mais afastada dos grupos de jovens sentados nas muretas da Unip, enquanto aguardava a irmã.
“Já está tudo tão difícil, arrumar emprego, estudar”, diz a jovem, que trabalha na área de recursos humanos e quer fazer um curso superior para se especializar. Na sala organizada para mais de 30 alunos, 17 compareceram neste domingo. Na semana passada, foram 20.
No mesmo prédio, Mateus Lopes, de 21 anos, contou bem mais de 20 candidatos em sua sala de prova. Antes de entrar na classe, olhou em volta e viu a disparidade. “Vi salas vazias e outras bem cheias.” Segundo conta, os aplicadores até tentaram manter o distanciamento entre os candidatos, mas em alguns pontos da classe não foi possível.
Para Matheus Kauê, de 17 anos, nem mesmo as ausências garantiram o cumprimento dos protocolos. “Mesmo com muita gente faltando, não teve distanciamento social, desde o acesso (ao local de provas) até o posicionamento em sala”, afirma o estudante.
Matheus fez a prova na Universidade Cruzeiro do Sul, na Avenida Paulista. “Acredito que, numa sala que comportaria cerca de 40 pessoas, 20 se ausentaram e, ainda assim, achei que estávamos próximos uns dos outros”, disse o candidato.
Estudantes barrados no primeiro domingo de provas em Florianópolis conseguiram fazer o exame neste domingo, o que aumentou o número de alunos em algumas salas. “Na minha sala, no primeiro dia, foram 14 pessoas. Hoje, tinha 17 carteiras ocupadas”, contou Camila Fernanda Pinto Lima, 19 anos. /JÚLIA MARQUES; VAGNER AQUINO e FÁBIO BISPO, ESPECIAL PARA O ESTADÃO.