Washington acompanha desdobramentos da crise militar no Brasil.

Democratas no Congresso americano se dividem entre duas alas.

O candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) participa da formatura da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende, interior do estado do Rio de Janeiro. Folhapress/Eduardo Anizelli – 18.set.2018

Por Estadão

A crise militar aberta pelo presidente Jair Bolsonaro com a abrupta troca de comando no Ministério da Defesa e nas Forças Armadas é acompanhadas de perto por Washington. Mas dentro do governo americano, até o momento, a avaliação é de que os eventos recentes fazem parte de um cenário político doméstico onde não cabem avaliações externas precipitadas.

Democratas no Congresso americano se dividem entre duas alas. Os expoentes da esquerda do partido veem com preocupação os gestos de Bolsonaro e temem uma ruptura democrática. Assessores destes parlamentares dizem que não seria estranho o surgimento de uma carta de repúdio assinada pelos deputados que frequentemente se insurgem contra Bolsonaro no Capitólio com base nos desdobramentos políticos de Brasília.

Já parlamentares centristas, mais próximos ao governo de Joe Biden, entendem a relação com o Brasil como estratégica e defendem um olhar pragmático ao governo Bolsonaro. Para este grupo, a tentativa de politização das Forças Armadas deve ser acompanhada sem sobressaltos por parte de Washington, e com a consciência de que a resistência da própria cúpula militar a esses esforços é um sinal positivo.

Democratas em Washington lembram que Donald Trump também tentou usar as Forças Armadas de maneira política – mas houve reação dos generais. Durante os protestos antirracismo de 2020, militares declararam publicamente ter sido um erro ficar ao lado do então presidente em ato político após manifestantes serem expulsos à força da praça em frente à Casa Branca. O comandante das Forças Armadas dos Estados Unidos, general Mark Milley, pediu desculpas por atrelar as Forças Armadas a um evento político. Para legisladores e diplomatas em Washington, portanto, os EUA também já viveram momentos em que o presidente tentou contar com a politização do exército. Mas tentar não significa conseguir.

Enquanto os desdobramentos no Brasil não são claros, os EUA monitoram a situação silenciosamente. No Conselho de Segurança Nacional e no Departamento de Estado, o comentário sobre a semana brasileira se restringe a dizer que eles “estão cientes dos acontecimentos no Brasil” e “apoiam as instituições democráticas brasileiras”.

Mesmo porque, segundo um experiente assessor parlamentar do Capitólio, Washington não tem tempo para lidar de perto com duas crises simultâneas no Hemisfério Ocidental. E apesar de as questões brasileiras repercutirem nos EUA, ainda estão mais distantes – inclusive geograficamente – do atual impasse com o fluxo de imigrantes da América Central na fronteira com o México. Todos os olhares dos que acompanham política externa na América Latina, segundo este assessor, estão voltados para lá.

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