Fiocruz aponta que pandemia no País continuará grave em abril

A análise mostra que o vírus Sars-CoV-2 e suas variantes permanecem em circulação.

Arquiteta Andrea Mandina,44, se protege do coranavirus para acompanhar o bloco de Bell Marques na av. Pedro Alvares de Cabral, no Ibirapuera . Eduardo Knapp/Folhapress/

Por Estadão

RIO – O boletim extraordinário divulgado nesta terça-feira, 6, pelo Observatório Covid-19 Fiocruz, da Fundação Oswaldo Cruz, alerta que a pandemia pode permanecer em níveis críticos ao longo do mês de abril, prolongando a crise sanitária e colapso nos serviços e sistemas de saúde nos estados e capitais brasileiras. A análise mostra que o vírus Sars-CoV-2 e suas variantes permanecem em circulação intensa em todo o país. Além disso, a sobrecarga dos hospitais, observada pela ocupação de leitos de UTI, também se mantêm alta. Pela primeira vez, o Brasil superou a marca de 4 mil óbitos em 24 horas nesta terça.

“Ao longo da Semana Epidemiológica 13 houve uma aceleração da transmissão de Covid-19 no Brasil. Devido ao acúmulo de casos, diversos deles graves, advindos da exposição ao vírus ainda no mês de março, o vírus permanece em circulação intensa em todo o país”, explicam os pesquisadores. Segundo os dados, foi observado ainda um novo aumento da taxa de letalidade, de 3,3 para 4,2%. Este indicador se encontrava em torno de 2% no final de 2020. Os pesquisadores responsáveis pelo Boletim alertam que esse crescimento pode ser consequência da falta de capacidade de diagnosticar, correta e oportunamente, os casos graves, somado à sobrecarga dos hospitais.

Com base neste cenário e a partir da premissa de que o essencial é proteger a saúde e salvar vidas, os pesquisadores do Observatório Covid-19 Fiocruz, responsáveis pelo estudo, defendem que é fundamental neste momento a adoção ou a continuidade de medidas urgentes, que envolvem a contenção das taxas de transmissão e crescimento de casos através de medidas bloqueio ou lockdown, seguidas das de mitigação, com o objetivo de reduzir a velocidade da propagação. Tendo como referência a Carta dos Secretários Estaduais de Saúde à Nação Brasileira, publicada pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) em 1 de março passado, a análise aponta para a necessidade de maior rigor nas medidas de restrição das atividades não essenciais para todos os Estados, capitais e regiões de saúde que tenham uma taxa ocupação de leitos acima de 85% e tendência de elevação no número de casos e óbitos.

Para que se alcance o resultado esperado, o estudo destaca que essas medidas de bloqueio precisam ter pelo menos 14 dias de duração e, em algumas situações, mais tempo, dependendo da amplitude do rigor da aplicação. Na visão dos pesquisadores, é fundamental a adoção de medidas combinadas e complexas, assim como a coerência e a convergência dos poderes do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como dos diferentes níveis de governo (municipais, estaduais e federal), em favor dessas medidas de bloqueio.

“Coerência e convergência são fundamentais neste momento de crise para que as medidas de bloqueio sejam efetivamente adotadas de forma a sair do estado de colapso de saúde e progredir para uma etapa de medidas de mitigação da pandemia, diminuindo o número de mortes, casos e taxas de transmissão e efetivamente salvando vidas”, afirmam os pesquisadores.

Dentre as medidas de bloqueio propostas estão a proibição de eventos presenciais, como shows, congressos, atividades religiosas, esportivas e correlatas, em todo o território nacional; a suspensão das atividades presenciais de todos os níveis da educação do país; o toque de recolher nacional a partir das 20h até as 6h da manhã e durante os finais de semana; o fechamento das praias e bares; a adoção de trabalho remoto sempre que possível, tanto no setor público quanto no privado; a instituição de barreiras sanitárias nacionais e internacionais, considerados o fechamento dos aeroportos e do transporte interestadual; a adoção de medidas para redução da superlotação nos transportes coletivos urbanos; a ampliação da testagem e acompanhamento dos testados, com isolamento dos casos suspeitos e monitoramento dos contatos.

Os resultados da investigação indicam que é fundamental insistir nos esforços para o fortalecimento da rede de serviços de saúde, incluindo os diferentes níveis de atenção e de vigilância, com ampla testagem, compra e ampliação da produção de vacinas e aceleração da vacinação. “É imprescindível ainda garantir condições para que a população possa se manter em casa protegida, limitando a circulação de pessoas nas cidades apenas para a execução de atividades verdadeiramente essenciais”, orientam os pesquisadores.

Leitos. Entre os dias 29 de março e 5 de abril, as taxas de ocupação de leitos de UTI para adultos vítimas de covid-19 no Sistema Único de Saúde (SUS) apresentaram redução em Roraima (de 62% para 49%), no Amapá (de 100% para 91%), no Maranhão (de 88% para 80%), na Paraíba (de 84% para 77%) e no Rio Grande do Sul (de 95% para 90%). Na direção oposta, ocorreu piora em Sergipe, com a taxa subindo de 86% para 95%. Exceto por essas mudanças, os dados obtidos em 5 de abril de 2021 ainda indicam relativa estabilidade do indicador, em níveis muito críticos, na maior parte dos Estados e no Distrito Federal.

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