Em entrevista à Folha publicada no dia 29 de junho, Dominghetti disse ter recebido de Dias pedido de propina de US$ 1 por dose para acertar a venda de imunizantes ao governo federal.
Por Folhapress
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em depoimento à CPI da Covid, o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias disse que se encontrou acidentalmente com o policial militar Luiz Paulo Dominghetti Pereira em um restaurante de Brasília, na noite de 25 de fevereiro.
Em entrevista à Folha publicada no dia 29 de junho, Dominghetti disse ter recebido de Dias pedido de propina de US$ 1 por dose para acertar a venda de imunizantes ao governo federal.
“Esse jantar não era com fornecedor, era com o amigo José Ricardo. Era um chope casual por volta das 18h30, 19h. No restaurante chegou o coronel Blanco e o Dominghetti. Eventualmente, eu converso com o coronel Blanco. Ao sentar à mesa, ele [Dominghetti] se apresentou”, disse Dias.
Além de Dias e Dominghetti, estavam no restaurante Vasto, na região central de Brasília, o coronel da reserva Marcelo Blanco, ex-assessor do departamento de Logística, e José Ricardo Santana, ex-secretário-executivo da CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos).
“No jantar do dia 25, quando ele se apresenta como vendedor de vacinas, eu peço que ele peça uma agenda oficial”, afirmou Dias aos senadores. O policial foi recebido no dia seguinte no Ministério da Saúde.
Dominghetti afirmou à CPI e a Folha de S.Paulo que recebeu, no dia 25 de fevereiro, ligação de Blanco para um jantar. “Cheguei lá, foi onde conheci pessoalmente o Roberto Dias”, afirmou o policial à reportagem.
Em depoimento à CPI da Covid, o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias negou que pediu propina para negociar a aquisição de vacinas da Astrazeneca.
DENÚNCIA
Reportagem da Folha Folha de S.Paulo mostrou denúncia do policial militar Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que apontou ter ouvido pedido de US$ 1 de propina por dose do então diretor de logística.
Dias disse que nunca pressionou nenhum servidor para avançar o processo de aquisição de vacinas e que a negociação para a compra da Astrazeneca não avançou porque o policial militar e a empresa Davati não apresentaram a documentação necessária.
Também disse que Dominghetti é um “picareta, que tentava aplicar golpes em prefeituras e no ministério da Saúde”.
“Foi constatado nessa CPI ser um picareta que tentava dar golpe na prefeitura e no Ministério da Saúde, e durante a audiência deu mais uma prova da desonestidade e mostrou não ser merecedor de nenhum crédito por parte dessa casa.”
INDICAÇÃO
O ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias afirmou que o ex-deputado federal pelo Paraná Abelardo Lupion apresentou seu currículo ao então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, o indicando para a pasta.
Dias evitou dar mais detalhes de sua conexão com políticos. Integrantes da CPI acreditam que ele seja ligado ao líder do governo na Câmara Ricardo Barros (PP-PR).
Em depoimento à CPI da Covid, o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias disse que a sua indicação a diretor da Anvisa foi barrada, em 2020, por um factoide.
Dias negou envolvimento em suspeitas de irregularidades na compra de R$ 133,2 milhões em insumos para testes RT-PCR da Covid. Esse contrato foi decisivo para a retirada da sugestão de seu nome à agência.
Dias disse que partiu dele o pedido para anular a compra, pois a área técnica afirmou que nenhuma empresa habilitada havia cumprido com as exigências do processo.
“Não cabe ao meu departamento, de forma alguma, habilitar as propostas. Simplesmente as ordeno pela vantajosidade econômica. Então a suposta irregularidade que foi atribuída ao meu departamento foi um factoide para que fosse retirada minha indicação à Anvisa”, disse Dias.
O servidor público foi indicado à Anvisa em outubro de 2020, mas Bolsonaro retirou a sugestão do nome na semana seguinte. Na sequência, o então ministro Eduardo Pazuello pediu a exoneração de Dias ao Planalto, o que foi barrado por pressão política.
Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou denúncia do policial militar Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que apontou ter ouvido pedido de US$ 1 de propina por dose do então diretor de logística.
VACINA DA ASTRAZENECA
Em depoimento à CPI da Covid, o ex-diretor de logística Roberto Dias afirmou que a proposta de 400 milhões de doses da Astrazeneca já havia circulado antes do encontro com Luiz Paulo Dominghetti. No entanto, disse que ela surgiu por meio de uma outra empresa e não pela Davati –representada por Dominghetti.
“A existência de Davati passa a existir, passa a aparecer no dia 26, no dia seguinte a esse jantar”, afirmou aos senadores.
Dias afirma que, antes do encontro, a proposta de venda das doses havia sido encaminhada por Cristiano Carvalho, que também é representante da Davati no Brasil. Mas Carvalho teria usado uma empresa que Dias não soube dar o nome com exatidão, mas indicou ser Latin Air Supplies.
Em depoimento à CPI da Covid, o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias disse que não participava das negociações de vacinas para Covid ou de outras compras da pasta.
Dias, porém, chegou a trocar mensagens por Whatsapp e e-mails com representantes da empresa Davati Medical Supply, que prometia a venda de 400 milhões de doses da AstraZeneca, mesmo sem aval da fabricante.
“Ao Departamento de Logística, cabe a operacionalização do processo. Eu não digo o quê, nem quanto, nem como, nem onde. E é essa segregação de função que mantém a segurança jurídica dentro do Ministério da Saúde na parte de aquisição”, disse Dias sobre a função do departamento.
O ex-diretor da Saúde disse que apenas cobrou de representante da Davati provas de que a empresa era credenciada pela AstraZeneca.
“Não faço triagem de proposta de que interessa ao governo. Mas na qualidade de subordinado do secretario-executivo, não posso passar ao meu chefe uma proposta sem pé nem cabeça”, declarou Dias.
Em 29 de janeiro o ex-secretário-executivo da Saúde Elcio Franco assinou ofício para centralizar na sua pasta as negociações das vacinas para a Covid-19. Antes as farmacêuticas eram recebidas por áreas técnicas, como a SVS (Secretaria de Vigilância em Saúde).
Dias foi exonerado em 29 de junho, horas após a Folha publicar entrevista de Luiz Paulo Dominghetti Pereira, policial militar de Minas Gerais que diz ter recebido dele pedido de propina de US$ 1 por dose para acertar a venda de imunizantes.
Dominghetti se apresentava como representante da Davati, mas Dias afirma que só conheceu o policial por acidente em um restaurante de Brasília, no dia 25 de fevereiro.
O policial afirma que Dias cobrou a propina neste jantar, o que dias nega. O ex-diretor da Saúde disse à CPI que apenas orientou Dominghetti a buscar uma agenda formal no Ministério da Saúde, o que ocorreu no dia seguinte ao jantar.