Duas delas estavam entre os criminosos mais procurados do estado: os traficantes conhecidos como Vinte Anos e Hello Kitty.
Por Folhapress
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Uma operação da Polícia Militar na manhã desta sexta-feira (16) terminou com ao menos quatro pessoas mortas, no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Duas delas estavam entre os criminosos mais procurados do estado: os traficantes conhecidos como Vinte Anos e Hello Kitty.
Hello Kitty, também apelidada de Dama do Comando Vermelho, é Rayane Nazareth Cardozo da Silveira, de 21 anos, que era braço direito de Alessandro Luiz Viera Moura, apontado pela polícia como chefe do tráfico do Salgueiro.
Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia informou que agentes do 7º Batalhão foram acionados via 190 para verificar uma denúncia de que uma família estaria sendo mantida refém no interior da favela.
Junto com policiais civis da 72ª DP, eles fizeram uma incursão emergencial para checar a queixa de crime. Mas, na chegada dos agentes ao local, houve intenso confronto e quatro mortos foram encontrados, ainda segundo a pasta.
A PM afirma ter apreendido dois fuzis e duas pistolas, mas não ter encontrado os reféns da denúncia. A corporação também não divulgou quem eram os outros dois mortos.
Além do comércio de drogas, Hello Kitty e Vinte Anos eram investigados por roubos e homicídios. A dupla tinha o rosto divulgado no Portal dos Procurados, do Disque Denúncia, que oferecia uma recompensa de R$ 1.000 por informações que levassem à prisão deles.
Rayane, que começou a assaltar na adolescência, costumava postar fotos em redes sociais ostentando armamento pesado, como fuzis. Também provocava a polícia dizendo que nunca seria presa.
Em 2015, ela tentou deixar o crime e passou a frequentar uma igreja evangélica, onde cantava louvores durante os cultos. Tinha, inclusive, uma tatuagem escrito “fé em Deus”.
Uma de suas postagens da época diz: “antes, andava de pistolas e fuzis, mas agora minha arma é minha Bíblia. Muitos não acreditam em Deus, mas ele é capaz de mudar a sua vida como mudou a minha”.
Logo depois ela ficou grávida —hoje o filho tem 4 anos. Mas a vida fora do criminalidade não durou muito e Rayane voltou a roubar com o namorado, que acabou morto em Minas Gerais.
Já com fama entre os criminosos e figura constante dos bailes funks, ela foi citada em um proibidão chamado “Tropa da Nova Grécia” —favela da região em que era gerente do tráfico. A letra faz apologia ao tráfico e fala de planos do Comando Vermelho para invadir outras comunidades de São Gonçalo. “É tropa do Vinte Anos, da Hello Kitty, RV e também o LC”, exalta um trecho.
Rayane também tinha uma tatuagem em homenagem a Vinte Anos com o nome dele, Alessandro, no braço. Os dois se tratavam como pai e filha, embora não fossem parentes.
Mais recentemente, ela namorava uma mulher, a DJ Isa, que lamentou sua morte nas redes sociais.
Há duas semanas, Rayane disse querer largar as armas e pediu ajuda ao líder comunitário da região, conhecido como Tchetcheco Trindade. “Ela queria se entregar, ser presa, para depois viver uma vida normal. Mas disse que não queria ir sozinha porque tinha medo da polícia matar ela”, conta.
Mas, segundo ele, amigos de Rayane a desmotivaram, dizendo que não tinha mais solução, que seria presa e voltaria para o crime. “Ela sempre gostou da igreja, de gospel. A pastora dizia que ela ainda ia contar seu testemunho, mas aí aconteceu isso. Infelizmente tem amigos piores do que inimigos”, diz Tchetcheco.
Rayane chegou a ser presa por suspeita de envolvimento com o tráfico em 2018, mas acabou solta para responder em liberdade. Também quase foi pega em uma operação da polícia no ano seguinte, mas conseguiu fugir.
Acumulava sete processos criminais no Tribunal de Justiça do Rio por tráfico e roubo majorado —com emprego de violência e arma de fogo. Chegou a ser condenada por roubo em ao menos duas dessas ações e tinha seis mandados de prisão preventiva em aberto.
Nesta sexta-feira, os moradores do Complexo do Salgueiro relataram o medo e a tensão com o confronto, que impediu a saída para o trabalho. Também interrompeu uma ação de entrega de cestas básicas para mulheres grávidas e mães solo.
Foram enviados para lá equipes do Batalhão de Ações com Cães (BAC) e do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).
“A gente fica sempre com medo, porque o armamento do Bope é muito pesado. Demos graças a Deus que hoje não entraram aqui nas ruas onde em moro, porque quando entra a gente nunca sabe pra onde as balas vão voar”, conta uma moradora, que prefere não se identificar.