Viúva de presidente assassinado do Haiti volta ao país com colete à prova de balas

Ferida no atentado que matou o presidente em sua casa na madrugada de 7 de julho.

O primeiro-ministro haitiano, Claude Joseph, recebe Martine Moïse, viúva do presidente Jovenel Moïse – Michel Jr. Dessources/AFP

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Martine Moïse, viúva do presidente assassinado do Haiti, Jovenel Moïse, voltou à capital do país neste sábado (17) para assistir ao funeral do marido. Ferida no atentado que matou o presidente em sua casa na madrugada de 7 de julho, ela havia sido levada para um hospital em Miami, nos Estados Unidos.

Com o braço direito apoiado em uma tipoia, Martine chegou a Porto Príncipe vestindo um colete à prova de balas. Ela foi recebida pelo primeiro-ministro em exercício Claude Joseph, e não falou com a imprensa.

Um dia antes de Martine voltar ao Haiti, cerca de 40 pessoas se reuniram em Miami, em frente ao hospital onde ela estava sendo tratada, para demonstrar apoio. A maioria eram mulheres, vestiam azul, uma das cores da bandeira haitiana, e carregavam faixas com frases como “Cura para o Haiti”.

O funeral de Juvenel Moïse será realizado na próxima sexta (23) em Cap-Haitien, uma cidade histórica no norte do país. O mandatário foi morto a tiros dentro de casa. Muitos dos detalhes do ataque, porém, ainda permanecem um mistério.

Um dia antes do retorno da viúva de Moïse, Claude Joseph prometeu novamente que a justiça seria feita pelo assassinato. No entanto, segundo a imprensa colombiana, o próprio Joseph é considerado suspeito de ter relação com o crime.

Até agora, não se sabe quem foi o mandante do assassinato nem a razão do crime. Segundo o governo haitiano, o presidente foi morto por um grupo de mercenários, que incluía militares colombianos aposentados. Mais de 20 pessoas foram presas por conexão com o caso.

A polícia haitiana acusou o médico Christian Emmanuel Sanon, 63, de ser o mentor do crime e o prendeu. Ele vive na Flórida, mas teria viajado ao Haiti com planos de assumir o comando do país.

Já Jorge Vargas, chefe da polícia colombiana, disse que um ex-funcionário do Ministério da Justiça do Haiti, Joseph Felix Badio, deu a dois mercenários colombianos a ordem de matar o presidente. Mas não está claro se Badio, por sua vez, estava seguindo as ordens de outra pessoa.

Alguns dos mercenários suspeitos disseram, em depoimento, que receberam a missão de prender Moïse e levá-lo para o palácio presidencial, mas que, ao chegar, encontraram-no morto.

Ex-funcionário de uma unidade anticorrupção do Ministério da Justiça, Badio é uma das muitas pessoas procuradas pela polícia haitiana, junto com o ex-senador da oposição Joel John Joseph, acusado de fornecer armas para o crime. Ambos são descritos como “armados e perigosos”.

Léon Charles, chefe da Polícia Nacional do Haiti, afirmou que o assassinato do presidente foi planejado na vizinha República Dominicana, em uma reunião na qual participaram o médico Sanon, James Solages, outro haitiano-americano que foi preso, e o senador Joseph. “Eles se encontraram em um hotel em Santo Domingo. À mesa estavam os arquitetos do complô, uma equipe técnica de recrutamento e um grupo financeiro”, disse o delegado.

Investigadores haitianos acreditam que o crime foi perpetrado em coordenação com a CTU, uma empresa de serviços de segurança de Miami liderada pelo venezuelano Antonio Emmanuel Intriago, que está foragido.

Há também questionamentos sobre a legitimidade do premiê interino Claude Joseph como líder temporário do país. Com a morte do presidente, Joseph assumiu o comando e declarou estado de sítio durante duas semanas, medida que ampliou os poderes do Executivo. Porém, segundo a Constituição, o sucessor de Moïse, segundo a Constituição, seria o presidente da Suprema Corte. O cargo, porém, está vago desde que seu titular, René Sylvestre, morreu de Covid-19.

Só que Joseph também estava prestes a deixar o cargo de premiê. Ariel Henry deveria ter assumido o posto no dia do crime, mas a situação impediu a posse. Assim, o interino seguiu no comando, com apoio inicial dos EUA e da ONU. No entanto, no sábado (17), o Core Group, que reúne embaixadores estrangeiros, defendeu a formação de um governo consensual e inclusivo, mas sem Joseph à frente.

“Encorajamos fortemente que o primeiro-ministro designado Ariel Henry continue a missão confiada a ele de formar um governo”, disse o grupo, em comunicado no sábado (17). O Core Group reúne embaixadores e outros representantes de Brasil, Alemanha, Canadá, Espanha, Estados Unidos, União Europeia, ONU e OEA (Organização dos Estados Americanos).

Há também um terceiro nome. No dia 9, o Senado do país aprovou uma resolução para indicar Joseph Lambert, líder da Casa, como presidente do país. Mas o Senado conta atualmente com apenas 10 dos 30 assentos preenchidos, e só oito parlamentares concordaram com a medida.

A morte acirrou a crise política do país, que tinha no centro da disputa uma discussão sobre o término do mandato de Moïse. Ele foi eleito em 2015 e deveria ter tomado posse em 7 de fevereiro de 2016 para um mandato de cinco anos. Em meio a acusações de fraudes, porém, o pleito foi anulado e teve que ser refeito no ano seguinte. Durante esse período, o país foi comandado por um governo interino.

Moïse saiu vencedor na nova votação e assumiu o comando do Haiti em 7 de fevereiro de 2017. Como o mandato presidencial no país é de cinco anos, ele alegava que deveria permanecer no cargo até fevereiro de 2022, portanto -uma alegação apoiada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pelos EUA. A oposição, porém, defendia que seu mandato deveria ter se encerrado em fevereiro deste ano.

Em meio a essa discussão, o então presidente decidiu suspender dois terços do Senado, toda a Câmara dos Deputados e todos os prefeitos e passou a comandar o país via decretos -o que rendeu uma onda de protestos contra o governo e acusações de autoritarismo.

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