Cauã Reymond volta às telas como gay dono de cinema pornô, dom Pedro e gêmeos

Ator se multiplica em papéis com filme ‘Piedade’, o monarca em longa de Laís Bodanzky e volta ao horário nobre da Globo

 ‘Pedro’, filme da diretora Laís Bodansky, conta a história do primeiro Imperador do Brasil na época em que volta à terra natal a bordo da nau inglesa Warspite. Fabio Braga/Divulgação/Fabio Braga/Divulgação

Por Folhapress

Cauã Reymond penteia os cabelos de Fernanda Montenegro, adornados por pérolas. Eles estão sentados num barco de madeira, boiando sobre o mar calmo de Pernambuco, numa simplicidade e harmonia que contrastam com a paisagem ao fundo —uma grande plataforma de petróleo, metálica e disruptiva, que se ergue das águas.

Em “Piedade”, filme de Cláudio Assis que chega aos cinemas na semana que vem, o ator dá uma amostra de um Cauã sereno, imerso numa rotina de agitação e trabalho árduo, embora incansável.

A carreira do carioca, afinal, não poderia estar num momento mais produtivo. Além da estreia de “Piedade”, ele se prepara para viver não um, mas dois personagens da próxima novela das nove da Globo, “Um Lugar ao Sol” —ele já deu vida a gêmeos na emissora antes, na série “Dois Irmãos”.

Mas agora, como protagonista de um folhetim de horário nobre, o trabalho é maior, com gravações que começam de manhã e se estendem até as últimas horas do dia. Foi a caminho de casa, depois de uma dessas diárias, que Reymond encontrou tempo para falar com o repórter.

“Eu acho que essa novela é o maior desafio que eu já tive como ator, tanto pela complexidade dos personagens, quanto pelo volume de trabalho”, diz ele, sobre “Um Lugar ao Sol”, em que dará vida a irmãos separados no nascimento.

É um trabalho que tem se apossado de qualquer brecha em sua rotina, sem mostrar piedade. Por falar nela, é justamente o filme de Cláudio Assis que conquista espaço na agenda do galã nos próximos dias, em compromissos para a divulgação do trabalho que rendeu a ele o prêmio de ator coadjuvante no Festival de Brasília, há dois anos.

Em “Piedade”, Reymond interpreta o dono de um cinema pornô na região metropolitana do Recife. Mergulhado nos corredores escuros, sempre impregnados pelo que diz ser cheiro de sexo, Sandro leva uma vida pacata por entre os gemidos que reverberam ali.

Veja filmes de Cauã Reymond

Até que ele recebe a visita de um burocrata de uma empresa petrolífera que crava os dentes na costa recifense. Aurélio, papel de Matheus Nachtergaele, se aproxima de Sandro como um tubarão —animal que infestou as praias de Piedade após a construção de uma plataforma de petróleo.

Em pouco tempo, os dois estão dividindo a cama e, numa cena, a câmera voyeurista percorre o corpo nu de Reymond até chegar às suas nádegas, que parecem despertar o interesse de Aurélio. “Eu achei essas cenas muito sexy, achei que a gente chegou num lugar de sensualidade sem precisar fazer muita estripulia”, conta.

Essa sensualidade de “Piedade” contrasta com outro núcleo de personagens. Liderado por Fernanda Montenegro, ele é formado pelos moradores da praia que dá nome ao filme, pressionados pela petroleira a abandonarem suas casas.

“Isso reflete o que vivemos hoje —queimadas, desmatamento, invasão de áreas indígenas, mudanças climáticas—, e eu espero que esse seja um momento de acordar as pessoas. Não dá para entrarmos no negacionismo”, afirma o ator.

“Piedade” é o primeiro de um trio de dramas cinematográficos estrelados por ele que o público verá em breve. Reymond também prepara o lançamento de “Pedro”, épico de Laís Bodanzky sobre dom Pedro 1º, que ele protagoniza e produz, e “Quase Deserto”, em que José Eduardo Belmonte vai filmar dois imigrantes ilegais —Reymond e o argentino Leonardo Sbaraglia— nos Estados Unidos.

“Pedro” marca a primeira vez que o ator assume a produção de uma obra de forma integral. Ele vai repetir a função em “Mata-Mata”, série sobre os bastidores do futebol que ele desenvolve para o Globoplay.

“Eu comecei a entender que, se eu ficasse só esperando, alguns personagens que eu gostaria de fazer nunca iam chegar, sabe? E eu sempre fui muito inquieto, e essa inquietação começou a tomar formas para além da atuação”, diz o ator de 41 anos, que ainda está desenvolvendo dois programas de variedades e uma outra série de ficção.

Tudo isso em paralelo às gravações de “Um Lugar ao Sol”, que deve estrear ainda neste ano e, diferentemente do habitual, passará a ser exibida apenas quando todos os capítulos estiverem gravados, a fim de driblar contratempos pandêmicos.

“A pandemia trouxe um nível de tensão e de dramaticidade que influencia o nosso trabalho. Mas quando tiro a máscara para gravar, eu me entrego 100%”, diz Reymond, que tomou a dose única da vacina da Janssen. “Agora, eu acho um absurdo a gente estar vivendo essa crise, um absurdo termos perdido mais de 500 mil pessoas e não termos grande parte da população vacinada.”

Reymond está longe das novelas desde “A Regra do Jogo”, de 2016. Nos últimos anos, ele tem se dividido entre filmes e séries —a última delas é “Ilha de Ferro”, do Globoplay, que curiosamente também fala de uma plataforma de petróleo e recentemente passou a ser exibida na grade da Globo. “Eu tive grandes experiências, muito distintas, nesses últimos anos. Me sinto agraciado”, afirma o ator.

Muita coisa mudou na carreira de Reymond nos 15 anos que separam o momento atual de sua primeira novela das nove, “Belíssima” —nos bastidores da qual ele já revelou ter sido depreciado pela pouca experiência. A trama e “Piedade”, aliás, têm outro rosto em comum além do dele, o de Fernanda Montenegro.

Se em “Belíssima” ele terminou sua participação de roupão, enroscado nos braços da vilã vivida por ela, como um garotão objetificado e calado, no novo filme ele se despede de forma igualmente silenciosa, mas, desta vez, os olhares que troca com a personagem dela são intensos, afetuosos e carregados de palavras.

Compartilhe esta notícia!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese