Exército do Afeganistão ordena evacuação de cidade atacada pelo Taleban

Lashkar Gah já teve 40 civis mortos; ataque em Cabul mata ao menos 3 pessoas.

Soldado afegão guarda estrada na região de Herat, sob ataque de forças do Taleban – Hoshang Hashimi – 1º.ago.2021/AFP

Por Folhapress

O Exército do Afeganistão pediu que os 200 mil moradores de Lashkar Gah, capital da província de Helmand (sudoeste do país), deixem suas casas.

A cidade está sob ataque de forças do grupo fundamentalista Taleban, em combates que deixaram ao menos 40 mortos e 118 feridos da segunda (2) para a terça (3), segundo estimativa das Nações Unidas.

Em mensagem para os moradores da cidade, o general Sami Sadat disse que “não deixará nenhum taleban vivo”, “mas se você ficar deslocado de sua casa por alguns dias, por favor nos perdoe”.

Ao serviço afegão da britânica BBC, Sadat afirmou que seus militares perderam espaço para as forças do Taleban desde a ofensiva do fim de semana, mas que ele duvida da capacidade dos insurgentes de manter sua posição por muito tempo.

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O Taleban comandou o país por meio de um regime brutal de 1996 a 2001, quando foi desalojado do poder pela invasão liderada pelos Estados Unidos —a ação militar foi tomada porque o governo afegão abrigava no país a rede Al Qaeda, que promoveu os ataques de 11 de Setembro. Desde que os americanos começaram a bater em retirada, porém, o grupo radical passou a avançar e está ganhando terreno.

A decisão do presidente Joe Biden ocorreu em abril, e o plano é evacuar todas as tropas até 31 de agosto. Os outros países que apoiam a missão americana, a maioria da Otan (aliança militar ocidental) fizeram o mesmo.

No maior ataque coordenado em anos, os talebans passaram do controle de vilarejos e pontos de fronteira para o assalto a cidades. Estão sob fogo Kandahar (sul), Herat (oeste) e Lashkar Gah.

Ponto estratégico desde sua fundação no século 9º, como seu nome em persa indica (“quartel de exército”), a capital desta província de 1,5 milhão de habitantes é central para o controle dos extensos campos de papoulas, que fornecem ópio para a produção de heroína.

Cerca de 40% da matéria-prima mundial para a droga sai da região, o que garante fonte de financiamento importante para quem os controlar. Militarmente, é um corredor entre o Irã e Kandahar, antigo coração do movimento taleban.

Durante os 20 anos da guerra dos EUA, havia duas enormes bases ocidentais lá, uma americana (Camp Leatherneck) e outra britânica (Camp Bastion), que apoiaram alguns dos mais sangrentos embates com os insurgentes. Ambos os locais foram repassados ao Afeganistão em 2014.

Durante seu governo purista islâmico, o Taleban proibiu a produção da papoula, mas o pragmatismo após ser chutado do poder afrouxou sua posição e hoje boa parte dos campos gera divisas para o grupo.

O ataque taleban fez com que o governo central em Cabul culpasse diretamente os americanos pela “saída repentina”, como disse na segunda o presidente Ashraf Ghani.

Pelo acordo de paz entre EUA e Taleban, firmado por Donald Trump e ratificado por Biden, os talebans sentariam à mesa com Ghani para dividir poder. Isso já os restringiu antes: em novembro, eles haviam tomado o leste de Lashkar Gah, mas recuaram quando os EUA pararam de fazer ataques aéreos na área.

Só que o grupo alega que os americanos romperam o acordo ao não deixar o país em maio, como havia sido acertado inicialmente. Sob essa desculpa, avançam em diversas frentes.

Ghani afirma que seu governo terá condições de resistir, amparado no amplo reequipamento das Forças Armadas sob orientação e ajuda americana, e que em seis meses a situação estará estabilizada. Falta combinar com o Taleban agora.

Nesta terça, uma forte explosão seguida de tiros foi registrada em Cabul. De acordo com as primeiras informações das agências internacionais de notícias, oficiais de segurança disseram que a explosão parecia ter sido causada por um carro-bomba na área conhecida como “zona verde”, região da capital afegã que abriga edifícios do governo e embaixadas estrangeiras.

As autoridades suspeitaram que o alvo seria a casa de Bismillah Khan, ministro da Defesa afegão. Em uma rede social, ele disse estar bem e pediu que seus seguidores não se preocupem. Nenhum grupo reinvindicou a autoria do suposto ataque, e não houve relatos imediados de mortos ou feridos.

Minutos após a explosão, centenas de civis saíram às ruas da capital, aos gritos de “Allahu Akbar (Deus é o maior), para expressar seu apoio às forças do governo afegão e oposição ao Taleban.

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