Em entrevista, Lloyd Austin e chefe do Estado-Maior ressaltaram que prioridade é segurança
Por Folhapress
SÃO PAULO Apesar do registro, nesta quarta (18), de novas confusões com feridos no aeroporto de Cabul, em uma corrida para sair do Afeganistão após a tomada do poder local pelo Taleban, o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e o chefe do Estado-Maior, general Mark Milley, dizem que a situação no país é segura.
Na primeira entrevista coletiva dos dois desde que o grupo fundamentalista islâmico voltou ao poder no Afeganistão, eles ressaltaram que a prioridade dos EUA é manter a segurança para a retirada de pessoas —das que tiverem permissão para sair.
Lloyd, que destacou sua ligação pessoal com o conflito, pois chefiou divisões no país da Ásia central durante dois anos, afirmou que não houve interações hostis com os talebans e que a comunicação com os comandantes do grupo seguem abertas, “como deve ser”.
Segundo Milley, são os combatentes que têm providenciado a passagem segura para pessoas que tenham permissão de deixar o país —em resumo, americanos e detentores de vistos de imigrante.
O secretário de Defesa deixou claro, porém, que os militares americanos não têm capacidade de auxiliar quem deseja chegar ao aeroporto de Cabul, já que o foco tem sido garantir a segurança do espaço aéreo.
Um pouco mais tarde, o presidente Joe Biden inclusive disse que, enquanto houver cidadãos americanos no país, as tropas permanecerão até que todos sejam evacuados. Questionado sobre um adiamento do prazo, o democrata explicou que a meta continua sendo o dia 31 de agosto. “Se não conseguirmos [retirar todos antes disso], vamos decidir naquele momento.”
Já o chefe do Estado-Maior reconheceu que existe o risco imposto por civis desarmados, como os que cercaram o cargueiro militar C-17 em uma tentativa desesperada de embarcar para fugir do país —o caos que tomou o aeroporto da capital na segunda (16) deixou ao menos sete mortos.
Milley falou ainda sobre diferentes relatórios de inteligência que indicavam a possibilidade de três cenários: a tomada taleban seguida de um rápido colapso do governo afegão; uma guerra civil; e uma negociação para transição de poder.
“O tempo para um rápido colapso foi estimado em semanas, meses e mesmo anos após nossa partida”, disse o general. “Não havia nada que eu ou qualquer outra pessoa tenha visto que indicava um colapso do Exército e do governo em 11 dias.”
A declaração vem na esteira da publicação de uma reportagem do jornal americano The New York Times sobre relatórios de inteligência elaborados nos últimos meses que indicavam o colapso do governo afegão, enquanto o presidente Joe Biden dizia ser improvável que isso acontecesse com tanta rapidez.
A ofensiva taleban começou logo após o Biden anunciar uma data certa (11 de setembro) para a retirada das tropas americanas, ainda em abril. O presidente americano, pouco tempo depois, adiantou a saída para 31 de agosto, enquanto a apreensão entre os afegãos aumentava, em especial aqueles que trabalharam para os americanos.
A partir do primeiro dia de agosto, o grupo extremista intensificou seu avanço, conquistando importantes cidades e capitais de províncias, até selar sua vitória com a tomada de Cabul no domingo (15).
As cenas de caos e desespero que se seguiram atingiram a imagem do governo de Biden, que, por sua vez, lavou as mãos e disse que a missão no país sempre foi lutar contra o terrorismo, não trabalhar para a construção de uma nação.
Nesta quarta, Milley não contradisse o chefe e jogou qualquer avaliação para o futuro. “Haverá muito tempo para fazer AARs [revisões pós-ação, na sigla em inglês] e agora não é o momento”, disse. “Agora temos que focar essa missão porque há soldados, cidadãos americanos e afegãos que nos apoiaram em risco. Isso é pessoal e vamos tirá-los [do país].”