Xi Jinping visita Hong Kong em meio à repressão e temores de domínio chinês

Primeira viagem do líder comunista para fora da China continental em mais de dois anos mira interesses políticos internos e reafirmação do domínio de Pequim sobre o território

Xi Jinping é recebido por apoiadores do Partido Comunista Chinês (PCCh) em Hong Kong. Foto: Information Services Department Ho/ Handout/ EFE

Por Estadão

O presidente chinês, Xi Jinping, visitou Hong Kong nesta quinta-feira, 30, em sua primeira viagem para além das fronteiras da China continental em mais de dois anos, em um movimento de reafirmação do domínio de Pequim sobre o território, após anos turbulentos na política interna da ilha.

Acompanhado da esposa, Peng Liyuan, Xi foi recebido pela chefe do Executivo do território, Carrie Lam. O presidente acenou para os apoiadores, que o receberam na plataforma de trem agitando bandeiras chinesas e de Hong Kong aos gritos de “bem-vindo” e “boas vindas calorosas”.

Hong Kong é o principal ponto de tensão na política chinesa, desde que protestos massivos contestaram a soberania da China sobre o território nos últimos anos. Pequim, sob a liderança de Xi, respondeu com uma campanha intensa de repressão a dissidências que ainda deixa marcas no país.

A reformulação da abordagem da China sobre Hong Kong passou por um sufocamento de qualquer contestação ao Partido Comunista Chinês (PCCh). Uma nova lei de segurança nacional aprovada em 2020 serviu como aparato legal para a repressão de protestos por liberdade que começaram pacíficos, o cerceamento da liberdade de expressão – com o fechamento de jornais e emissoras – e com o controle do currículo escolar, que adotou um viés “mais patriótico”.

A ampla repressão ficou marcada por episódios de violência policial e violações de direitos civis, resultando na prisão de milhares de dissidentes, incluindo legisladores, acadêmicos, editores de jornais e até um bispo católico aposentado. A cidade, anteriormente conhecida por sua cultura de ativismo político e liberdade de expressão, mudou e um sentimento de medo se espalhou entre muitos de seus habitantes.

Em um breve discurso em sua chegada, Xi se disse “muito feliz” por estar em Hong Kong e disse ter “prestado atenção” e “pensado” na ilha nos últimos cinco anos, tentando tratar com otimismo o futuro.

“Hong Kong resistiu a um desafio severo após o outro e superou um perigo após o outro”, disse ele. “Depois da tempestade, Hong Kong renasceu das cinzas, mostrando uma vitalidade florescente.”

Além das pressões internas, o território também motivou tensões nos últimos anos entre China e Estados Unidos – que intensificou sua abordagem geopolítica no Pacífico.

A última visita do líder chinês a Hong Kong foi em 2017, para a posse de Carrie Lam como chefe do Executivo, antes do início dos principais protestos. De acordo com especialistas, a nova viagem de Xi tem uma representação simbólica em um ano chave para sua continuidade política, uma vez que ele tentará renovar sua posição no partido pela terceira vez seguida no 2° semestre.

“Mesmo não estando longe da China continental desde o início de 2020, Xi acha que, em termos de prestígio e popularidade, seria bom que ele visitasse (Hong Kong) mesmo que apenas por algumas horas”, disse Willy Wo-Lap Lam, professor adjunto da Universidade Chinesa de Hong Kong.

“Hong Kong vem passando por mudanças drásticas nos últimos três anos, então ele quer tranquilizar o público”, acrescentou Lam.

Desafio logístico

Atender aos interesses estratégicos do presidente chinês e organizar a primeira viagem oficial para além da China continental em mais de dois anos exigiu um esforço logístico por parte da comitiva presidencial.

Xi Jinping e a esposa desembarcam em estação de trem em Hong Kong. Foto: Xie Huanchi/Xinhua via AP

Xi e a primeira-dama desembarcaram na estação de Hong Kong West Kowloo, de onde seguiram para compromissos com políticos e empresários simpáticos ao Partido Comunista em Hong Kong, após um breve discurso ao público. A agenda do casal previa um retorno ainda na noite de quinta a Shenzhen – cidade chinesa distante 15 minutos de Hong Kong em um trem de alta velocidade – antes de uma nova ida à ilha na sexta-feira para às comemorações do aniversário de incorporação de Hong Kong ao domínio chinês (em 1° de julho de 1997) e a posse do novo governador, John Lee.

Xi Jinping participa de reunião com a chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, e outras lideranças políticas locais. Foto: Information Services Department Ho/ Handout/ EFE

Além da agenda apertada, a cúpula dos governos de Pequim e Hong Kong determinaram uma série de medidas sanitárias na tentativa de criar um “circuito fechado” para a passagem do presidente, em razão do surto de covid-19 na região.

Milhares de funcionários do governo, dezenas de representantes estrangeiros e um grupo cuidadosamente selecionado de jornalistas foram convidados a passar por uma semana de testes rápidos diários de antígeno e a se confinarem em um hotel durante a semana.

Funcionários de escritório em um bairro que Xi supostamente planejava visitar foram instruídos a ficar em casa. Uma escola chegou a colocar dezenas de alunos em quarentena por vários dias para que pudessem cumprimentar Xi quando ele chegasse.

Os rigorosos protocolos epidêmicos coincidem com um aumento de casos de covid-19 em Hong Kong, onde mais de 2.000 casos diários foram registrados na quarta-feira pela primeira vez desde abril./ NYT e AP

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