MDB oficializa Simone Tebet como candidata à Presidência

PSDB e Cidadania também apoiam a emedebista, mas ainda não há acordo sobre vice

Foto: Wilton Junior/Estadão

Por Estadão 

BRASÍLIA – A senadora Simone Tebet (MDB-MS) foi escolhida nesta quarta-feira, 27, como candidata à Presidência da República. A convenção nacional do MDB referendou o nome da parlamentar para disputar o Palácio do Planalto. O evento aconteceu de forma remota e foi transmitido ao vivo pelas redes sociais. Apoiada pela federação formada entre PSDB e Cidadania, a parlamentar tenta se colocar como alternativa ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida pelo Palácio do Planalto. A candidatura emedebistas teve 262 votos favoráveis e nove votos contrários.

Mais cedo, a convenção do PSDB e do Cidadania, que formam uma federação, também aprovou o apoio à chapa presidencial do MDB. Os dois partidos vão indicar o candidato a vice-presidente, mas uma decisão ainda não foi tomada. Inicialmente o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) estava cotado para completar a chapa, mas ele desistiu após impasses regionais entre tucanos e emedebistas. As legendas também avaliam indicar as senadoras Mara Gabrili (PSDB-SP) e Eliziane Gama (Cidadania-MA) para a candidatura a vice.

“Tenho convicção de que o Brasil nunca precisou tanto deste partido histórico, nunca precisou tanto da nossa voz, da nossa força, do nosso amor incondicional. Será o amor que vai destruir o ódio, o amor que vai unificar o Brasil, que vai fazer com que o país tenha, pela primeira vez na sua história, condições de garantir igualdade de oportunidade para todos os nossos irmãos e irmãs brasileiras. Democracia já democracia sempre”, declarou Tebet

A confirmação do nome de Tebet na disputa acontece após uma pressão de uma ala do MDB, que prefere apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Esse grupo, que queria que a senadora desistisse de concorrer, tentou adiar a convenção e fazer com que ele acontecesse presencialmente, mas não teve sucesso. Há também no MDB, sobretudo no Sul, um grupo que está com o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Um dos principais apoiadores de Lula dentro do MDB, o senador Renan Calheiros (AL) foi quem articulou uma ação na Justiça para adiar a convenção. No entanto, ele desistiu de contestar a candidatura de Tebet. O parlamentar disse que não iria recorrer da decisão do ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que manteve a convenção nacional do partido. “Não vamos entrar com recurso porque não é uma obsessão da gente”, declarou. Um dia antes, o prefeito da cidade alagoana de Cacimbinhas, Hugo Wanderley Caju (MDB), havia entrado com um pedido no TSE para adiar a data da convenção.

Em seu discurso inicial, a agora candidata à Presidência disse hoje que os alicerces democráticos do País estão abalados. Tebet citou a fome, a miséria, a desigualdade e o desemprego e, principalmente, a polarização política e o discurso de ódio.

O ex-presidente Michel Temer, por sua vez, defendeu a reforma trabalhista aprovada em 2017, durante seu governo, e pregou “pacificação nacional” e “tranquilidade institucional”. “Nós precisamos ter coragem para defender as teses daquilo que fizemos no governo”, declarou o emedebista, que assumiu o comando do País em 2016 com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

“Nós temos aqui no Brasil, e durante as eleições isso ocorre com muita frequência, prezada candidata Simone Tebet, por razões eleitoreiras, colocar o empregado contra o empregador. Isso é um malefício que se faz para o País”, disse Temer, ao mencionar a reforma trabalhista, criticada por Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto para o Palácio do Planalto.

Em discurso na convenção, que ocorre hoje no formato virtual, Temer também falou em “pacificação nacional”, termo que costumava usar quando substituiu Dilma no Planalto. “Tenho absoluta certeza de que mesmo os que radicalizam posições, de alguma maneira, se sentem confortáveis quando verificam uma candidatura que prega a tranquilização, não só institucional, mas a harmonia entre todos os brasileiros”, disse.

O ex-ministro Carlos Marun, que assim como Tebet é do MDB do Mato Grosso do Sul, criticou as alas do partido que não apoiam a senadora. “Se não seguirem conosco não são bons companheiros. Se a democracia brasileira estabelece eleições em dois turnos, ela estabelece um caminho a ser seguido. O caminho deve sim passar pelo respeito à decisão partidária no primeiro turno”, disse.

Marun classificou os grupos como “antidemocráticos” e declarou que eles querem antecipar um segundo turno. “Se não estivermos no segundo turno, aí sim é o momento de votarmos no menos pior. Infelizmente companheiros nossos, talvez porque achem difícil ganhar a eleição, já estão tomando a decisão que talvez deveriam tomar daqui a dois meses. Estão querendo disputar o segundo turno antes do primeiro, aí reside nessas pessoas um fator antidemocrático”.

O emedebista disse ainda que não há motivos para votar em Lula ou Bolsonaro. “Não temos motivos para votar no Bolsonaro e nem para votar no Lula. Ao contrário, temos motivos de sobra para não votar em nenhum dos dois. Debato com a ala lulista, debato com a ala bolsonarista e elenco motivos suficientes para que não votemos em nenhum deles”.

O presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, é um dos maiores entusiastas da candidatura de Tebet. O dirigente se esforçou nos últimos meses para construir uma maioria que confirmasse a senadora na disputa presidencial, além de ter atuado na linha de frente para impedir que a ala lulista impedisse a oficialização da candidatura.

“Hoje nós vamos fazer uma convenção que vai entrar para a história do MDB. Não no discurso, mas na prática nós vamos mostrar que, efetivamente, lugar de mulher é onde ela quiser. E, se Deus quiser, a nossa Simone Tebet será a nossa próxima presidente do Brasil”, afirmou Baleia.

Presidente nacional do MDB, Baleia Rossi diz que avaliação será feita por deputados

É a quarta vez que o MDB concorre em uma eleição presidencial. Antes de Tebet, a legenda já lançou Ulysses Guimarães em 1989, Orestes Quércia em 1994 e Henrique Meirelles (hoje no União Brasil) em 2018.

Simone Tebet é filha do ex-presidente do Senado Ramez Tebet (MDB-MS) e começou a carreira política como deputada estadual. Também já foi prefeita de Três Lagoas (MS) e vice-governadora do Mato Grosso do Sul. Em 2019, foi a primeira mulher a comandar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, colegiado mais importante da Casa Legislativa. Concorreu à presidência do Senado em fevereiro de 2021, mas perdeu para Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, a senadora se notabilizou pelo empenho na colaboração do trabalho que ajudou a revelar um esquema de compra de vacinas contra o coronavírus.

A senadora pontuou 1% das intenções de voto na pesquisa Datafolha mais recente, empatada dentro da margem de erro com André Janones (Avante), que tem 2%, e atrás de Ciro Gomes (PDT), com 8%, Bolsonaro, com 28%, e Lula, com 47%.

No MDB, os principais adversários internos de Simone são os senadores Renan Calheiros, Eduardo Braga (AM) e o ex-senador Eunício Oliveira (CE). Os três já definiram alianças locais com o PT e dizem abertamente que vão apoiar Lula para presidente. Os três parlamentares não participaram da convenção.

PSDB

Além das dificuldades no próprio partido, a agora candidata a presidente também enfrenta problemas no PSDB, a principal sigla de sua coligação. Exemplos das resistências estão em Minas Gerais, onde tucanos já decidiram que vão ignorar a candidatura do MDB e apoiar Ciro Gomes, e no Mato Grosso do Sul, terra de Tebet, onde o candidato do PSDB ao governo, Eduardo Riedel, é declaradamente bolsonarista. O partido ainda fechou apoio ao deputado Marcelo Freixo (PSB), candidato de Lula a governador do Rio, e negocia uma aliança com o PT no Ceará.

Por outro lado, a cúpula nacional do MDB tem se esforçado em um acordo para apoiar Eduardo Leite (PSDB) para governador do Rio Grande do Sul. Hoje, o deputado estadual Gabriel Souza tem reafirmado que também vai concorrer a governador pelo MDB, mas na semana passada a maioria dos prefeitos do partido declararam apoio a uma aliança com Leite. Depois de São Paulo, o Rio Grande do Sul é a prioridade para os tucanos em termos de governo estadual nesta eleição.

De acordo com o presidente do PSDB, Bruno Araújo, a intenção é definir o vice de Tebet ainda nesta quarta, mas ele admite a possibilidade de o impasse permanecer e acontecer um adiamento. “Temos um espectro de alternativas que estão postas, que estão surgindo internamente dentro do partido. A convenção delegou ao colegiado da federação de tomar essa decisão. Eu e o presidente Roberto Freire vamos ao longo do dia hoje tentar afunilar esse conjunto de alternativas. Estamos na expectativa que possamos fazer isso o mais rápido possível”, declarou Bruno Araújo.

“Há um limite legal até dia 5 (de agosto), mas a política e nossa percepção, minha e do presidente Roberto, é que nós possamos oferecer uma solução o mais rápido possível”, reforçou o dirigente tucano. PSDB e Cidadania formam uma federação e precisam ter as mesmas posições em todas as eleições nacionais, estaduais e municipais por no mínimo quatro anos, além de agirem como uma só bancada no Congresso.

De forma remota, Simone Tebet participou da convenção do PSDB e Cidadania. No discurso, ela elogiou a decisão dos tucanos de abrirem mão de uma candidatura própria à Presidência pela primeira vez e disse que isso aumenta o desafio e a responsabilidade dela na eleição. A emedebista também fez críticas aos governos do PT e a atual gestão de Bolsonaro. “A recessão começou nos governos do PT e esse governo (de Bolsonaro) aumentou”, afirmou. Para ela, o governo Bolsonaro “além de tudo tem uma grande insensibilidade social e irresponsabilidades fiscal” e “isso está levando a um descrédito internacional”.

Tasso também participou da reunião virtualmente. O senador está em Fortaleza (CE), onde está imerso nas articulações para as eleições locais. Segundo Roberto Freire, o cearense declarou que, independente do papel dele na campanha, irá dar total suporte para Simone. “O senador Tasso participou. Uma afirmação dele muito clara: Qualquer que seja a posição que ele venha a ter, vai ser uma posição junto com Simone e para o que der e vier”, disse Freire.

Eunício Oliveira, que é aliado de Tasso e faz parte do grupo emedebista que apoia Lula, disse ao Estadão que a indefinição sobre a candidatura a vice-presidente da colega de partido representa uma “candidatura sem base”. Com a presença do ex-presidente petista, os diretórios do MDB e do PT no Ceará vão fazer uma convenção conjunta no sábado, 30, em Fortaleza. Lula também tenta atrair o PSDB de Tasso para o arco de alianças de Elmano de Freitas, pré-candidato a governador do Ceará pelo PT. O petista e o tucano conversaram por telefone no último domingo, 24. O PSDB também estuda uma aliança com o PDT, que lançou Roberto Cláudio como candidato a governador.

O presidente do PSDB minimizou as divisões internas no MDB e afirmou que isso faz parte da tradição da legenda. “O MDB nunca foi um partido de unanimidade. Não há nenhuma novidade em relação a isso. O importante é a decisão majoritária que possa se confirmar ao longo do dia de hoje um resultado condizente com o tamanho desse projeto em uma eleição presidencial que envolve um partido que tem tanta tradição na vida pública brasileira”, afirmou.

Araújo também afirmou que não se pode agir como se o resultado das eleições já estivesse definido. De acordo com ele, PSDB, Cidadania e MDB tinham que apresentar uma alternativa. “Temos certeza que Simone vai poder trazer algo inovador e carregar esperança na possibilidade de quebrar essa polarização. Enquanto partidos políticos estamos fazendo nossa parte de não ficar sentado assistindo um jogo que parece jogado, quando ainda não foi consultado ainda de forma objetiva o principal, que é o eleitor”, declarou.

Na mesma linha, o presidente do Cidadania reforçou que as legendas têm confiança em Simone. “A partir de agora a gente vai começar a escrever a história dessa eleição de outubro próximo”, disse.

A candidatura de Simone foi resultado de uma série de debates feitos entre partidos que queriam apresentar uma alternativa a Lula e a Bolsonaro. Nomes como o do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB), o do ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite e o do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) também chegaram a ser avaliados, mas eles não conseguiram o consenso da cúpula das legendas partidos.

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