Rússia culpa sanções ocidentais pelo corte no fornecimento de gás para a Europa

Porta-voz do Kremlin disse que suspensão do fluxo pelo oleoduto Nord Stream 1 é culpa da falta de manutenção por causa das sanções, uma justificativa refutada pelo Ocidente

Funcionário russo fala no telefone durante cerimônia de início das construções do oleoduto Nord Stream na Baía de Portovaya, cerca de 170 km a noroeste de São Petersburgo, Rússia, em 2010 Foto: Dmitry Lovetsky/AP

Por Estadão

MOSCOU – A Rússia culpou as sanções ocidentais pelas paralisações no fornecimento de gás natural de Moscou para a Europa. Segundo afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, nesta segunda-feira, 5, a retomada do fornecimento dependerá da suspensão das medidas. O impasse entre os países europeus e Moscou em torno do gás faz o preço da energia subir a cada dia e ameaça o fornecimento para o próximo inverno no Hemisfério Norte.

Segundo Peskov, as sanções contra Moscou e empresas russas criaram problemas com a manutenção de equipamentos para o fornecimento de gás, uma afirmação que é refutada por governos e engenheiros ocidentais. “Problemas no bombeamento surgiram por causa das sanções impostas contra nosso país e contra várias empresas por estados ocidentais, incluindo Alemanha e Reino Unido. Não há outras razões que levariam a problemas com bombeamento”, disse ele a repórteres, segundo a agência de notícias russa Interfax.

A empresa de energia russa Gazprom anunciou na sexta-feira, 2, que a suspensão do fornecimento de gás em direção ao oeste através do oleoduto Nord Stream 1 seria estendida indefinidamente porque vazamentos de óleo nas turbinas precisavam ser consertados. Esse movimento trouxe um aumento nos preços do gás natural na Europa e abalou os mercados de ações globais.

Questionado se o completo fornecimento do gás depende do alívio ou suspensão das sanções, Peskov respondeu: “É claro que as próprias sanções que impedem a manutenção das unidades, que as impedem de se mover sem garantias apropriadas.”

Os comentários de Peskov, porta-voz do presidente Vladimir Putin, foram alguns dos mais contundentes do Kremlin nas últimas semanas, vinculando sua redução nas entregas de gás às sanções ocidentais pela invasão da Ucrânia pela Rússia.

Peskov sugeriu que entregas limitadas através do oleoduto Nord Stream 1, que termina na Alemanha e fornece gás para grande parte da Europa, ainda poderiam ser retomadas por meio de uma única turbina que a Rússia disse estar danificada, mas que o sistema não retornaria à operação total enquanto o Ocidente mantivesse as sanções. Desde julho, o fluxo do oleoduto está em apenas cerca de 20% de sua capacidade total.

Os altos preços da energia e a possível escassez neste inverno na Europa Ocidental fizeram soar o alarme entre os governos, principalmente os da União Europeia. Autoridades alemãs rejeitaram as explicações de Peskov, dizendo que são apenas um jogo de poder político. A alemã Siemens Energy, que fabricou as turbinas que o duto Nord Stream 1 usa, disse que os vazamentos de turbina podem ser consertados enquanto o gás continua fluindo pelo duto.

Tubulações do gasoduto Nord Stream 1 são retratadas em Lubmin, Alemanha, em 8 de março de 2022 Foto: Hannibal Hanschke/Reuters

Aumento nos preços

Governos de toda a Europa se moveram neste fim de semana para introduzir medidas destinadas a combater os crescentes custos de energia e a inflação, em meio a crescentes preocupações de que o aumento dos preços possa alimentar uma agitação social. Alemanha, Suécia e República Checa estão entre os países que anunciaram no domingo planos para aliviar os custos de uma crise de energia.

O governo alemão divulgou um pacote de ajuda de US$ 65 bilhões, enquanto o governo da Suécia disse que ofereceria cerca de US$ 23 bilhões em garantias de liquidez para ajudar as empresas de energia a comprar suprimentos até março. Sem esse apoio, disse o ministro das Finanças, Mikael Damberg, no domingo, 4, alguns fornecedores de eletricidade correm o risco de entrar em “falência técnica”.

O governo tcheco anunciou planos de criar uma entidade governamental para comprar suprimentos de energia para escolas, hospitais e outras instituições do setor público, embora não tenha dito quando essas compras começariam. O anúncio veio apenas dois dias depois que o governo tcheco sobreviveu a uma moção de desconfiança instigada pela oposição por seu fracasso em conter a disparada dos preços da energia.

Um dia antes, no sábado, manifestantes saíram às ruas em Praga, capital tcheca, para pedir uma ação mais forte do governo para conter a disparada dos preços da energia. Dezenas de milhares de manifestantes, liderados por facções políticas de extrema-direita e outras, também criticaram a adesão do governo à Otan e à União Europeia.

Os protestos destacaram as preocupações crescentes entre os líderes europeus de que a crise de energia e a inflação crescente possam desencadear uma instabilidade política mais ampla.

Na Alemanha, a maior democracia da Europa, grupos de esquerda e extrema-direita anunciaram planos para iniciar manifestações semanais. Os sindicatos também ameaçaram realizar protestos, mas não ficou claro se esses planos continuariam depois que o governo divulgou um pacote de ajuda econômica de US$ 65 bilhões no domingo.

A França também está embarcando em seu maior esforço de conservação de energia desde a crise do petróleo dos anos 1970. O governo do presidente Emmanuel Macron está pedindo a seus cidadãos que se preparem para uma nova era de “sobriedade” energética em caso de inverno frio, mas também insistiu que o governo ajudaria a amortecer o golpe. Até agora, a França gastou US$ 26 bilhões para manter as contas de energia acessíveis./AP e NYT

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