Com o resultado, inflação em 12 meses recuou para 5,9%; no mês passado, combustíveis foram os maiores responsáveis pela alta de preços
Estadão
A inflação oficial no País ficou em 0,41% em novembro, a menor taxa para o mês desde 2018, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgados nesta sexta-feira, 9, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado surpreendeu analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, vindo no piso das estimativas, que iam de um avanço desde 0,41% a 0,65%, com mediana positiva de 0,54%.
A taxa em 12 meses desacelerou de 6,47% em outubro para 5,90% em novembro, ante uma meta de inflação de 3,5% perseguida pelo Banco Central, que tem teto de tolerância de 5% para este ano.
O índice de, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, passou de 68% em outubro para 59% em novembro, o menor desde agosto de 2020. Segundo Pedro Kislanov, gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, as promoções da Black Friday podem ter contribuído para a redução no número de itens com aumentos de preços.
“Desde que a Black Friday se firmou no calendário, temos notado em novembro queda de preços em equipamentos de informática, eletrodomésticos e itens de higiene pessoal”, contou Kislanov. “Observamos preços promocionais sendo praticados em lojas diferentes”, acrescentou, sobre a edição 2022.
A desaceleração acima do esperado nos resultados do IPCA de novembro está relacionada aos descontos da Black Friday, confirmou o economista do banco Santander Brasil Daniel Karp. Ele menciona quedas nos preços de TV, som e informática (-2,71%), perfume (-4,87%) e aparelhos eletroeletrônicos (-1,42%).
“O qualitativo da inflação melhorou”, avaliou Karp, embora atente para o risco que a inflação de serviços traz no médio prazo. “Ainda assusta um pouco, pois os níveis ainda são altos e o mercado de trabalho segue aquecido”.
Para o IPCA de dezembro, Karp espera nova desaceleração, com impacto dos cortes dos preços da gasolina e do diesel nas refinarias anunciados pela Petrobras na última terça-feira, além de alívios nos preços de alimentos. O Santander elevou a projeção para o IPCA de 2022, de 5,5% para 5,8%, mas Karp ressalta que o número tem viés de baixa pelo corte recente nos combustíveis.
O resultado de novembro confirma a “desinflação em curso em linha com normalização da cadeia global de valor e acomodação de preços de commodities, além do desaquecimento da demanda doméstica”, escreveu a economista Tatiana Nogueira, da XP Investimentos, que prevê alta de 5,8% no IPCA fechado de 2022.
No mês de novembro, sete dos nove grupos que integram o IPCA registraram altas de preços. As famílias gastaram menos apenas com Comunicação (-0,14%) e Artigos de residência (-0,68%). Na direção oposta, houve elevação de gastos com Alimentação (0,53%), Transportes (0,83%), Saúde e cuidados pessoais (0,02%), Vestuário (1,10%), Despesas pessoais (0,21%), Educação (0,02%) e Habitação (0,51%).
A gasolina foi o item de maior pressão sobre a inflação oficial no País em novembro, com aumento de 2,99%. Segundo Pedro Kislanov, a alta foi puxada por um aumento no etanol, que subiu 7,57%.
“A gasolina subiu porque o preço do etanol subiu bastante também. O etanol foi bastante afetado pelo período de entressafra da cana-de-açúcar. Não só isso: como o preço do açúcar está elevado, o produtor tem preferido produzir mais açúcar que etanol”, disse Kislanov.
Com gasolina e etanol mais caros, os combustíveis subiram 3,29% em novembro, após terem recuado 1,27% em outubro. O óleo diesel aumentou 0,11%, enquanto o gás veicular teve queda de 1,77%.
Além dos combustíveis, destacaram-se em novembro as altas de emplacamento e licença (1,72%), automóvel novo (0,50%) e seguro voluntário de veículo (0,97%). Na direção oposta, os preços das passagens aéreas recuaram 9,80%, após as altas de 8,22% em setembro e 27,38% em outubro.
Quanto aos alimentos, os preços que estão subindo são pressionados por restrição de oferta, justificou Kislanov. Os destaques foram as altas na cebola (23,02%), tomate (15,71%), frutas (2,91%) e arroz (1,46%).
“Cebola e tomate é restrição de oferta, algumas frutas também”, apontou Kislanov.
O preço do leite longa vida diminuiu 7,09%, mas ainda acumula alta de 31,20% este ano. Houve recuo também no frango em pedaços (-1,75%) e queijo (-1,38%).
Em Vestuário, todos os itens tiveram aumentos, exceto joias e bijuterias (-0,10%). O gasto com Saúde subiu menos graças aos artigos de higiene pessoal (-0,98%), com destaque para perfumes e artigos de maquiagem.
A inflação de serviços – usada como termômetro de pressões de demanda sobre os preços – passou de uma elevação de 0,67% em outubro para uma alta de 0,13% em novembro, puxada pela queda nos preços das passagens aéreas e pela alta mais branda na alimentação fora de casa. A taxa acumulada em 12 meses perde fôlego desde julho, mas ainda é “muito cedo” para falar em enfraquecimento da demanda. A satisfação de uma demanda reprimida por serviços, em função do período de isolamento social na pandemia, tem contribuído para os aumentos de preços dos serviços nos últimos meses, assim como a melhora no mercado de trabalho, com aumento no número de empregados e início do crescimento real da renda.
“Oscila mês a mês”, disse Kislanov, sobre a variação mensal. “Há demanda por esses serviços no mercado”, afirmou.
Os preços de itens monitorados pelo governo saíram de uma elevação de 0,18% em outubro para um aumento de 1,00% em novembro.