Putin visita Belarus para pressionar Lukashenko a expandir apoio à guerra da Rússia

Mantendo distância dos reveses militares e diplomáticos da Rússia, Putin procurou nas últimas semanas projetar uma imagem mais prática

Alexander Lukashenko, presidente de Belarus, recebe o presidente russo, Vladimir Putin, no aeroporto de Minsk. Foto: Sergei Karpukhin/Sputnik/ AFP

Estadão

VARSÓVIA – Sob crescente pressão do Kremlin para fornecer mais apoio à guerra da Rússia na Ucrânia, o presidente Alexander Lukashenko, de Belarus, recebeu nesta segunda, 19, uma rara visita de seu colega russo, Vladimir Putin.

Lukashenko, o aliado mais próximo de Putin, depende de Moscou para financiamento, combustível e assistência de segurança para se manter no poder, onde esteve nos últimos 28 anos. Os dois homens se encontraram pelo menos seis vezes desde que a Rússia lançou sua invasão em grande escala da Ucrânia em fevereiro, usando Belarus como base para seu ataque a Kiev, a capital ucraniana. Mas essas reuniões foram todas na Rússia.

Depois de meses enclausurado no Kremlin e em seu retiro rural perto de Moscou, mantendo distância dos reveses militares e diplomáticos da Rússia, Putin procurou nas últimas semanas projetar uma imagem mais prática. Sua viagem na segunda-feira a Minsk, capital de Belarus, segue uma visita na semana passada ao Quirguistão e uma visita na sexta-feira a um posto de comando militar russo em um local não revelado.

Putin desceu os degraus de seu avião em Minsk e foi recebido de braços abertos por Lukashenko na pista. Foi a primeira visita de Putin à Belarus desde 2019, segundo a agência de notícias russa Tass.

Enquanto a Rússia se debate no campo de batalha, Lukashenko permitiu que Moscou usasse seu território para lançar mísseis e bombardeios contra a Ucrânia, mas até agora resistiu à pressão do Kremlin para enviar suas próprias tropas. Em comentários relatados pela agência de notícias estatal Belta, o homem forte de Belarus insistiu que sua reunião com Putin na segunda-feira se concentraria em questões econômicas, particularmente o preço do gás natural russo, do qual Belarus é fortemente dependente.

Mas admitiu que “claro que não vamos evitar” questões militares e “vamos falar sobre a capacidade de defesa e a segurança do nosso Estado”.

A reunião ocorre após repetidas advertências da Ucrânia nos últimos dias de que as forças russas poderiam estar preparando uma nova ofensiva a partir de Belarus, com o objetivo de fazer outro esforço para tomar Kiev, a apenas cerca de 80 quilômetros da fronteira com Belarus, ou interromper o fluxo de armas ocidentais para a Ucrânia da Polônia.

Lukashenko, o aliado mais próximo de Putin, depende de Moscou para financiamento, combustível e assistência de segurança para se manter no poder. Foto: Konstantin Zavrazhin/Sputnik via Reuters

Mas muitos especialistas militares acreditam que as forças armadas da Rússia estejam tão depauperadas após 10 meses de guerra que não existam condições de lançar uma nova ofensiva a partir de Belarus, com ou sem a participação de tropas belarussas.

O Instituto para o Estudo da Guerra, um grupo de pesquisa com sede em Washington, disse em um relatório publicado na sexta-feira que um novo ataque russo na Ucrânia era improvável, pois “ainda não há indicadores de que as forças russas estejam formando uma força de ataque em Belarus”.

Os ministros da Defesa da Rússia e de Belarus assinaram um acordo no início deste mês para fortalecer os laços militares e, na semana passada, Belarus disse que estava verificando a prontidão de combate de suas tropas. A última vez que fez isso foi poucos dias antes de a Rússia invadir a Ucrânia a partir de seu território.

Mas a enxurrada de atividades militares em Belarus, incluindo a chegada de milhares de soldados russos para treinamento, pode ser parte de um elaborado estratagema destinado a forçar a Ucrânia a desviar suas tropas de frentes ativas no leste e no sul do país para o norte.

Putin e Lukashenko se reuniram nesta segunda-feira, 19, em Minsk. Foto: Sputnik/Kremlin pool via Reuters

Konrad Muzika, um analista de defesa independente, disse que análise de dados pela inteligência sugere que a Rússia tem entre 10.000 a 15.000 soldados envolvidos em atividades de treinamento em Belarus, embora seja uma fração do número que eles tinham quando lançaram a invasão em grande escala.

Ainda assim, o encontro de Putin com Lukashenko, de acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra, “reforçará a operação de informação russa destinada a convencer ucranianos e ocidentais de que a Rússia pode atacar a Ucrânia a partir de Belarus”.

Quaisquer que sejam os objetivos da Rússia, o alarme está crescendo na Ucrânia. O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, realizou uma reunião no domingo com seus chefes de defesa e segurança, onde Belarus era “o principal assunto da agenda”, disse seu gabinete em um comunicado. Mikhailo Podoliak, conselheiro sênior de Zelenski, disse ao The New York Times no domingo que a Ucrânia está se preparando para a possibilidade de a Rússia escalar a guerra lançando uma ofensiva de inverno.

Em um reconhecimento público incomum da visão de que ele está tão em dívida com Moscou que só pode se submeter às suas demandas, Lukashenko rejeitou na sexta-feira como falso o discurso de que “não há mais poder em Belarus, que os russos já estão comandando tudo”, e insistiu: “ninguém, exceto nós, governa Belarus”./ NYT

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