Ex-presidente falou em evento do PL no Rio e orientou parlamentares a criarem comissão de inquérito
Folha de São Paulo
Durante o evento de lançamento do diretório do PL em Niterói (RJ), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) falou em virar a página, disse que o partido fará bonito em 2026 e orientou os deputados e senadores da sigla a concentrarem esforços na criação da CPI mista (na Câmara e no Senado) sobre os atos antidemocráticos do 8 de janeiro, algo que a base do governo Lula (PT) vem tentando evitar.
Dos Estados Unidos, para onde viajou em dezembro, Bolsonaro falou ao público pelo viva-voz, na noite desta sexta-feira (17), por meio de uma ligação do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que estava presente no evento. Um vídeo do discurso foi publicado pelo jornal O Globo.
“Temos um sonho, temos um ideal, sofremos derrotas, mas a gente, acreditando em Deus e na força do nosso povo, nós atingiremos os nossos objetivos. Por vezes acontecem coisas na nossa vida que a gente não tem como explicar, mas vamos virar a página, vamos pensar no futuro”, disse Bolsonaro.
“Pessoal federal aí, deputados e senadores, vamos focar na CPMI [CPI mista], porque vamos fazer valer João 8:32 [Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará]. A verdade vai nos libertar”, orientou Bolsonaro.
“Tenho certeza de que nosso partido fará muito bonito ano que vem e mais bonito ainda em 2026”, afirmou o ex-presidente, estimando que o PL elegerá mil prefeitos em 2024. Em Niterói, o deputado Carlos Jordy (PL-RJ), organizador do evento, deve ser candidato.
Já Flávio pretende concorrer à Prefeitura do Rio de Janeiro no ano que vem, conforme admitiu pela primeira vez em entrevista à Folha. O senador afirmou ter colocado o nome à disposição do partido como opção para a eleição de 2024, mas pondera que a decisão deve ser tomada em conjunto com o grupo político do qual ele faz parte.
O discurso de Bolsonaro foi acompanhado com muitos aplausos e gritos de “mito”. Também estavam presentes o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o ex-ministro Braga Netto.
Como mostrou a Folha, Lula tem ampliado o espaço do centrão no governo —entregando mais diretorias da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) à União Brasil, por exemplo.
As mudanças na Codevasf e em outras estatais têm o objetivo de formar uma base mais consistente de apoio ao governo no Congresso. Com isso, o Palácio do Planalto tenta, de imediato, impedir a articulação a favor da CPI mista.
Na avaliação de aliados de Lula, o presidente conseguiu, até o momento, capitalizar politicamente os ataques antidemocráticos do início de governo e, se a CPI for aberta, há o risco de a oposição buscar fatos para inverter esse quadro.
No último dia 1º, o PL divulgou nota na qual, entre outras coisas, apoia a criação da CPI mista para apurar os atos do dia 8 de janeiro, “inclusive sobre a responsabilização do atual governo”.
A aposta da oposição é que a participação de deputados numa CPI mista é uma forma de evitar a criação de uma comissão de investigação só do Senado, onde a base de Lula é considerada mais controlável.
O governo tem argumentado que as autoridades já estão investigando o episódio, e que a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito interfere no dia a dia do Congresso e atrapalha a discussão das matérias.
A base de Lula deve atuar para a retirada de adesões à CPI mista, e eventual instalação depende também da leitura pelo chefe do Congresso, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).