A reunião desta semana entre os líderes da China e da Rússia marca outro momento-chave no aprofundamento das relações entre as duas potências
Estadão
Xi Jinping, o líder da China, chegou a Moscou para se reunir com o presidente Vladimir Putin, da Rússia, nesta semana. É a visita de maior destaque de qualquer líder mundial à Rússia desde antes da pandemia.
Ocorrendo mais de um ano depois que a Rússia lançou sua invasão à Ucrânia, a reunião será observada de perto por autoridades ocidentais em busca de qualquer indicação de até onde a China pode estar disposta a ir para atuar como mediadora no conflito – ou apoiadora da Rússia.
As autoridades chinesas classificaram a reunião em parte como uma missão para promover conversas construtivas entre a Rússia e a Ucrânia, embora as autoridades dos EUA tenham se mostrado céticas em relação aos recentes esforços de Xi para se tornar um pacificador global.
Aqui estão cinco pontos que você deve conhecer sobre a relação entre a China e a Rússia:
China e Rússia são aliadas?
China e Rússia não são aliados formais, o que significa que não se comprometeram a se defender com apoio militar.
Mas os dois países são parceiros estratégicos muito próximos, uma relação que se aprofundou durante a guerra na Ucrânia, quando a Rússia se isolou cada vez mais de muitos outros países.
As autoridades chinesas disseram que o relacionamento atual está em uma “alta histórica”. A parceria é alimentada por um objetivo comum de tentar enfraquecer o poder e a influência dos EUA.
A relação entre a China e a Rússia nem sempre foi tão calorosa. Os dois lados foram adversários ferozes na década de 1960 e se enfrentaram em 1969 por causa do território disputado ao longo de sua fronteira, aumentando os temores na época de um confronto nuclear entre os dois países.
Os dois também competem por influência na Ásia Central, uma região que o Kremlin há muito vê como seu território, mas que está se tornando cada vez mais importante para as ambições geopolíticas e econômicas da China.
Pequim está construindo mais ferrovias, rodovias e oleodutos em ex-repúblicas soviéticas como Casaquistão e Usbequistão, que ainda contam com a Rússia como um parceiro de segurança crucial.
Quão próximos estão Xi Jinping e Vladimir Putin?
Pouco antes do início da guerra na Ucrânia em fevereiro de 2022, Xi e Putin declararam publicamente que o relacionamento de seus países “não tinha limites”.
Xi muitas vezes descreveu Putin como “seu melhor amigo”. Durante um fórum econômico na Rússia em 2018, os dois fritaram panquecas russas e tomaram doses de vodca juntos. No aniversário de 66 anos de Xi em 2019, Putin o presenteou com um bolo e uma caixa gigante de sorvete.
Em um artigo publicado em um jornal chinês no domingo, Putin disse que os dois tiveram o “relacionamento mais caloroso”, observando que eles se encontraram cerca de 40 vezes nos últimos anos e sempre tiveram tempo para conversar em eventos “sem gravata”.
Qual é a relação econômica entre Rússia e China?
Os laços econômicos entre a China e a Rússia se fortaleceram significativamente desde a primeira invasão russa da Ucrânia em 2014, quando Putin anexou a Crimeia.
Na época, a China ajudou a Rússia a escapar das sanções impostas pelo governo de Barack Obama, que deveriam cortar o acesso da Rússia aos mercados globais.
Após sanções mais duras contra a Rússia depois do início da guerra na Ucrânia no ano passado, a China ajudou a fornecer muitos dos produtos que a Rússia comprava de países aliados ocidentais, incluindo chips de computador, smartphones e matérias-primas necessárias para equipamentos militares.
O comércio total entre a Rússia e a China aumentou 34% no ano passado.
O que Putin quer da China?
Putin precisa da China para ajudar a fortalecer sua economia, que foi atingida por sanções ocidentais. Para o líder russo, a China tornou-se cada vez mais uma tábua de salvação para investimentos e comércio.
Depois que os países ocidentais restringiram suas compras de petróleo bruto e gás natural russo no ano passado, a China ajudou a compensar o declínio comprando mais energia da Rússia.
No começo da guerra na Ucrânia, a Rússia pediu à China equipamento militar e assistência econômica, segundo os EUA. Autoridades americanas disseram recentemente que a China está considerando fornecer armas à Rússia para uso na Ucrânia, uma alegação que a China negou.
A China se absteve de condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia, embora a política externa da China esteja baseada nos princípios de soberania e integridade territorial. Embora a China tenha se retratado como uma parte neutra na guerra da Ucrânia, ela endossou as narrativas russas, culpando os EUA e a OTAN por iniciar o conflito.
Mas a China também hesitou em dar todo o seu apoio à Rússia. A turbulência e a instabilidade decorrentes da guerra podem ameaçar o crescimento da China e complicar seus esforços para fortalecer laços econômicos em todo o mundo.
Em setembro passado, depois que Putin e Xi se encontraram pessoalmente, Putin reconheceu que a China havia expressado “dúvidas e preocupações” sobre a guerra na Ucrânia.
O que Xi quer da Rússia?
Xi quer que Putin se junte a ele como um aliado no confronto contra o domínio hegemônico dos EUA e do Ocidente.
Em um artigo publicado em um jornal russo na segunda-feira, antes da visita, Xi disse que a China e a Rússia precisam cooperar para superar os desafios à sua segurança, incluindo “atos prejudiciais de hegemonia, dominação e intimidação”.
Xi adotou uma postura mais dura contra o que chama de “esforço americano para conter a ascensão da China”, retratando a China como uma nação sitiada – assim como Putin fez em discursos para os russos.
Xi pediu às indústrias chinesas que reduzam sua dependência da tecnologia ocidental e saudou o crescimento da China como prova de que ela não precisa adotar os valores políticos ocidentais.
A China tem comprado armas mais avançadas da Rússia para modernizar suas Forças Armadas, e as duas nações aumentaram seus exercícios militares conjuntos.
No ano passado, quando o presidente Biden estava visitando Tóquio, China e Rússia enviaram bombardeiros pelos mares no nordeste da Ásia como uma demonstração de força.