China ajuda Rússia a repor estoques de drones e amplia temor de cooperação militar na Ucrânia

China vendeu mais de US$ 12 milhões em drones e componentes de drones para a Rússia em 2022, de acordo com dados aduaneiros oficiais

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao lado do presidente da China, Xi Jinping, durante visita do líder chinês a Moscou, em imagem desta terça-feira, 21 Foto: Grigory Sysoyev/Sputnik/via AP

Estadão

O governo Biden prometeu no mês passado ações contra empresas que vendem para a Rússia tecnologias críticas como parte de seus esforços de conter o impulso de guerra russo contra a Ucrânia. Mas o fluxo contínuo de drones chineses para a Rússia explica por que isso será difícil.

Enquanto as vendas de drones têm diminuído de ritmo, as políticas impostas pelos Estados Unidos após a invasão da Rússia fracassaram em estancar as exportações de veículos aéreos não tripulados que funcionam como batedores nos céus para caças de combate. No ano que transcorreu após a invasão russa à Ucrânia, a China vendeu mais de US$ 12 milhões em drones e componentes de drones para a Rússia, de acordo com dados aduaneiros oficiais obtidos com um provedor independente de dados.

É difícil determinar se os drones chineses contêm tecnologias americanas que violariam as regras dos EUA ou mesmo se eles são legalizados. Os carregamentos, com uma mistura de produtos da DJI, a mais bem conhecida fabricante de drones do mundo, e de uma série de empresas menores, com frequência são realizados por intermediadores ou empresas pequenas de exportação.

Canais de vendas complicados e descrições vagas dos produtos dentro dos dados de exportação também dificultam demonstrar indubitavelmente se há componentes americanos nos produtos chineses, o que poderia constituir violação aos controles de exportação dos EUA. E as vendas oficiais são provavelmente apenas parte de um fluxo maior de tecnologias que trafegam por canais não oficiais e por outras nações amigas da Rússia, como Casaquistão, Paquistão e Belarus.

O resultado é um fluxo constante de novos drones para a Rússia que acabam nas linhas de frente de sua guerra com a Ucrânia. Nos campos de batalha, os quadricópteros duram apenas poucas lutas antes de serem derrubados dos céus. Repor estoques mesmo dos veículos aéreos não tripulados mais básicos tornou-se um elemento crítico, de um nível de necessidade similar ao de obter projéteis de artilharia e infantaria.

Militarmente, diplomaticamente e economicamente Pequim se tornou um pilar cada vez mais importante para a Rússia em seu esforço de guerra. A China continua um dos maiores compradores do petróleo russo, ajudando o Kremlin a financiar a invasão. Os países também realizaram exercícios militares conjuntos e atacaram a Otan conjuntamente.

Enquanto o líder máximo da China, Xi Jinping, se reúne esta semana com o presidente russo, Vladimir Putin, autoridades americanas alertam que Pequim ainda considera vender armas letais para uso na Ucrânia.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou na segunda-feira que a visita equivale a uma “cobertura diplomática para a Rússia continuar a cometer” crimes de guerra.

Os esforços dos EUA em isolar a Rússia de tecnologias muito necessárias e dinheiro têm sido complicados pela dominância da China nas cadeias globais de fornecimento de eletrônicos.

Os EUA buscaram conter algumas empresas chinesas por meio de controles de exportação nos anos recentes, mas o mundo continua pesadamente dependente das fábricas chinesas do tamanho de cidades e centros de fabricação de componentes especializados. O papel desproporcional do país dificulta compreender e controlar quais produtos estrangeiros entram em eletrônicos de consumo básicos, mas críticos, como drones, que podem ser fabricados a partir de componentes amplamente disponíveis comercializados em lojas de varejo.

“Isso apresenta um desafio em controle de exportações: o mesmo modelo pode ser usado por corretores de imóveis para analisar uma propriedade ou utilizado na Ucrânia para coleta de dados de inteligência”, afirmou William Reinsch, pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington, e ex-autoridade do Departamento do Comércio para supervisão de controles de exportação.

“Não estamos falando das tecnologias mais sofisticadas no mundo — é impossível evitar que os equipamentos contenham chips americanos”, acrescentou ele, afirmando que, se não há componentes americanos nos drones, seu comércio se torna uma questão política, não jurídica.

Particularmente problemática para o governo dos EUA é a DJI, fabricante dos quadricópteros que se tornaram símbolo do novo tipo de guerra na Ucrânia. A empresa continuou a vender drones para a Rússia, apesar de ter afirmado que suspendeu seus carregamentos tanto para a Rússia quanto para a Ucrânia. A empresa já é alvo de controles dos EUA sobre exportações.

O Departamento do Comércio incluiu a DJI em uma lista, em 2020, que impede empresas americanas de lhe vender tecnologias sem permissão expressa. A medida não abalou a dominância da DJI na indústria, e seus produtos constituíram cerca da metade das vendas de drones chineses para a Rússia, de acordo com dados aduaneiros. Parte dos equipamentos foi vendida pela DJI por meio de uma subsidiária, a iFlight Technology.

No total, cerca de 70 empresas de exportação chinesas venderam 26 marcas distintas de drones chineses para a Rússia desde o início da invasão. A segunda maior marca nessas vendas foi a Autel, fabricante chinesa de drones com subsidiárias nos EUA, na Alemanha e na Itália; os exportadores venderam aproximadamente US$ 2 milhões desses modelos de drone, o último carregamento foi enviado no mês passado. Em seu website, a empresa divulga que vende drones para forças policiais americanas.

Um porta-voz da DJI afirmou que a empresa não conseguiu encontrar nenhum registro de vendas diretas para a Rússia após 16 de abril de 2022 e que investigaria outras empresas que pareceram estar vendendo para a Rússia. A DJI, disse ele, cessou todos os envios para Rússia e Ucrânia, assim como suas operações nos países, desde o início da guerra e possui “protocolos rigorosos” para garantir que não viola sanções dos EUA.

“Como qualquer empresa de eletrônicos ao consumidor, com produtos vendidos em muitas lojas de eletrônicos, nós não conseguimos determinar como nossos produtos são usados uma vez que saem do nosso controle”, acrescentou o porta-voz em um comunicado por e-mail. A Autel afirmou por e-mail que não está ciente de nenhuma venda para a Rússia e que conduz atualmente uma investigação interna sobre o assunto. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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