Irvo Otieno morreu no último dia 6 ao ser transferido de uma prisão para um hospital psiquiátrico
Folha de São Paulo
Um vídeo divulgado pelo Ministério Público de Dinwiddie, no estado americano da Virgínia, mostra a ação de policiais contra Irvo Otieno, homem negro de 28 anos que foi asfixiado até a morte em um hospital psiquiátrico.
Parte das cenas foi publicada nesta segunda (21) pelo jornal The Washington Post, que teve acesso aos 27 minutos do registro da câmera de segurança do Central State Hospital, na cidade de Petersburg, a cerca de 40 km da capital do estado, Richmond. A gravação está sendo usada nos autos do processo.
Nos nove minutos divulgados pela imprensa, Otieno é puxado de forma violenta para uma sala do hospital, com as pernas e as mãos algemadas. A edição do vídeo não permite identificar claramente uma reação por parte da vítima, mas há sinais de que ele tentou lutar ao ser colocado no chão.
Durante o registro, até dez pessoas, entre policiais e funcionários do hospital, o seguram sobre o piso, enquanto outras observam a cena.
Depois, Otieno é visto caído e imóvel. Policiais iniciam, então, compressões torácicas e usam um desfibrilador para reanimá-lo, mas sem sucesso. Não fica claro no vídeo editado quanto tempo Otieno foi pressionado.
Otieno morreu quando era transferido de uma prisão para um hospital psiquiátrico, três dias após ter sido identificado como o possível autor de um roubo no último dia 3, segundo a emissora americana NBC. As autoridades, entretanto, não disseram por que Otieno foi preso ou por que ele estava sendo transferido.
De acordo com o advogado da família da vítima, Mark Krudys, a mãe de Otieno implorou para que os policiais não o tratassem com agressividade no dia em que foi levado.
O advogado afirmou que a vítima tomava medicamentos para tratamento psiquiátrico e passava por uma crise quando detida. “Em vez disso, ele foi jogado no sistema de Justiça criminal, tratado agressivamente e maltratado na prisão”, disse Krudys à CNN.
Um relatório preliminar de médicos legistas afirmou que Otieno morreu de asfixia. Promotores que coletam evidências para o caso haviam sido informados de que ele foi contido fisicamente durante a transferência porque era “combativo”.
Sete policiais do condado de Henrico e três ex-funcionários do hospital psiquiátrico foram presos e acusados de homicídio. Outras pessoas foram indiciadas e levadas sob custódia na última semana. Autoridades não descartam fazer mais acusações ou prisões.
Os policiais acusados foram colocados em licença administrativa, e a delegacia do condado de Henrico está conduzindo uma investigação independente sobre o caso.
Advogados de dois dos réus tentaram impedir a divulgação do vídeo, argumentando que divulgar provas ou publicar o registro na imprensa influenciaria a opinião popular em caso de um júri futuro.
A família de Otieno, que viu o vídeo na última quinta-feira (16), pediu aos promotores que ele fosse divulgado publicamente. Como a gravação não contém som, não se sabe o que foi dito pelos acusados e pela vítima durante o crime.
Irvo Otieno nasceu no Quênia e migrou para os EUA aos 4 anos de idade. Ele tinha o sonho de se tornar um artista de hip hop.
O episódio é mais um dos atos de violência policial nos EUA que lembram o assassinato de George Floyd, que morreu asfixiado em 2020 após ter o pescoço prensado contra o chão por um policial em Mineápolis, Minnesota. Sua morte desencadeou uma série de protestos nos EUA e no mundo contra a violência policial e o racismo.