Integrantes de um clube de futebol e uma servidora do Itamaraty estavam em Cartum, capital do Sudão, desde o início dos conflitos
Estadão
Dez brasileiros que saíram no domingo, 23, de Cartum, capital do Sudão, conseguiram atravessar a fronteira do país e entraram no Egito nesta segunda-feira, 24 segundo informou o Itamaraty. Tratam-se de nove jogadores e membros da comissão técnica do time de futebol Al-Merrick e de uma servidora do Itamaraty que estavam na capital sudanesa em meio ao conflito violento iniciado no dia 16 de abril.
O grupo saiu da capital sudanesa em direção ao Egito em um ônibus fornecido pelo clube de futebol e percorreu cerca de mil quilômetros até a fronteira. O Itamaraty afirma que estavam em contato com eles e todos receberão assistência a partir de agora na cidade egípcia de Assuã, onde servidores da embaixada brasileira no Cairo se encontram. Eles serão alojados e em breve repatriados.
Um dos jogadores da comitiva, Paulo Sérgio Luiz de Souza, criticou o Itamaraty nesta segunda-feira em entrevista à TV Globo. Desde o dia 16, quando os conflitos se iniciaram, ele tentava sair da capital sudanesa. “Não tivemos, em nenhum momento, a ajuda do Itamaraty”, declarou.
O Itamaraty informou que tem mantido contato com outros países que também têm cidadãos no Sudão para ações coordenadas de retirada, mas necessitava de condições de segurança para isso. A França, o Reino Unido e os Estados Unidos conseguiram retirar seus funcionários e dependentes da embaixada neste domingo, 23, mas em operações complexas com grande aparato de segurança. A União Europeia informou que mais de mil cidadãos foram retirados do país.
A China e outros países árabes também retiraram centenas de seus cidadãos que moravam no país africano, segundo a agência de notícias France-Press.
Segundo o Itamaraty, havia 16 brasileiros em Cartum no início do conflito. Contando com o grupo que chegou ao Egito, 15 deixaram a capital, incluindo três crianças que estavam acompanhadas do pai e foram transportadas em um comboio da ONU. A outra é uma médica vinculada ao Médico sem Fronteiras (MSF), que saiu no programa de retirada planejado pela organização.
O único brasileiro que permanece na capital não conseguiu se juntar ao ônibus do Al-Merrick por causa da falta de segurança para chegar ao ponto em que o ônibus partiu.
Ainda conforme o Itamaraty, o governo brasileiro teria chegado a viabilizar a retirada mais ampla em coordenação com a ONU e com países europeus, que não pôde ser concretizada por questões de deslocamento e segurança.
Ao menos três tentativas de cessar-fogo, incluindo um pedido do Secretário-Geral das ONU, António Guterres, fracassaram nos últimos dias. Mais de 420 pessoas morreram e 3,7 mil ficaram feridas até o momento, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). “O Governo brasileiro endossa o pedido feito pelo Secretário-Geral das Nações Unidas para o estabelecimento imediato de cessar-fogo de três dias”, disse o Itamaraty.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que os generais que se enfrentam no Sudão acordaram um cessar-fogo de três dias a partir da meia noite desta terça-feira, 25, mas o anúncio é visto com desconfiança após as tentativas fracassadas. “Durante esse período, os Estados Unidos esperam que o Exército e as FAR respeitem plenamente e de imediato o cessar-fogo”, afirmou Blinken em um comunicado nesta segunda.
O conflito no Sudão é uma disputa de poder entre os generais Abdel-Fattah Burhan e Mohammed Hamdan Dagalo, conhecido como Hemedti. Burhan, atual presidente do país, comanda o Exército sudanês e batalha contra as Forças de Apoio Rápido (FAR), um grupo paramilitar comandado por Hemedti, que ocupa o cargo de vice-presidente.