Megaexplosão atinge fábrica militar perto de Moscou; veja vídeo

Governo fala em acidente em galpão alugado; Rússia diz que Polônia virou instrumento dos EUA

Médicos socorrem pessoas feridas em explosão de fábrica em Sergiyev Posad, perto de Moscou. — Foto: AFP/Telegram/@VOROBIEV_LIVE

Folha de São Paulo 

Uma impressionante explosão atingiu nesta quarta (9) uma fábrica de instrumentos ópticos que fornece material para as Forças Armadas da Rússia, em Serguiev Posad, um importante centro religioso localizado a 70 km a nordeste de Moscou. Ao menos uma pessoa morreu, e 50 ficaram feridas.

Pela natureza do local e a força da explosão, que quebrou vidros em 38 prédios na vizinhança da fábrica, a primeira suspeita foi a de um ataque relacionado à Guerra da Ucrânia. Isso foi reforçado pelo fato de que as defesas aéreas de Moscou derrubaram dois drones lançados por Kiev contra a capital na mesma manhã (madrugada no Brasil).

O governo da região de Moscou, contudo, forneceu uma explicação mais prosaica. Disse que a fábrica alugava um galpão para a empresa Piro-Ross, que trabalha com produtos pirotécnicos —ela é responsável pelos famosos shows com fogos de artifício do Kremlin, mas também tem alguns contratos militares. A explosão teria sido causada, assim, por um “erro de procedimento”.

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Especialistas em explosivos afirmam, porém, que a natureza da nuvem em forma de cogumelo formada sugere que não houve material pirotécnico envolvido. Neste caso, a dispersão dos fogos seria para todos os lados.

O diretor da companhia foi detido para interrogatório porque, segundo a mídia local, empregava imigrantes ilegais. Ele negou à polícia que a explosão tenha ocorrido no depósito da planta industrial, e afirmou que ela na verdade se deu num prédio adjacente. A empresa está em recuperação judicial desde abril.

Seja qual for a verdade, o fato é que a explosão atingiu uma fábrica considerada vital para as forças russas, fornecendo binóculos, lentes de visão noturna, sensores termais e sistemas ópticos inclusive para tanques modernos dos modelos T-80 e T-90. A Fábrica Óptica-Mecânica Zagorsk foi fundada em 1935 e também produz material de precisão para laboratórios.

A especulação em torno de um eventual ataque se dá porque a Ucrânia escalou sua campanha com drones em território russo neste ano. Moscou passou a ser um alvo recorrente, e na semana retrasada duas ações danificaram os prédios no distrito financeiro Moscow-City. Até o Kremlin foi alvo, com o drone sendo interceptado já sobrevoando sua área.

Mas os ataques com drones em geral são mais simbólicos do que militarmente efetivos. Se o que ocorreu na fábrica Zagorsk foi uma ação ucraniana, fruto de sabotagem ou não, a destruição que ela causou seria inédita. Dificilmente se saberá a verdade, contudo.

Na Ucrânia, os combates seguem tanto nos pontos da contraofensiva de Kiev, que ainda não conseguiu romper as defesas russas, quanto no ataque de Moscou no nordeste do país. Em Feodosia, cidade portuária na Crimeia anexada, um incêndio em depósitos de combustível foi atribuído a drones ucranianos —o mar Negro se tornou a mais nova frente de ações militares desde que Vladimir Putin deixou o acordo que permitia à Ucrânia escoar grãos por ali, e tem sido palco de consecutivos bombardeios russos e ataques a navios de Moscou.

RÚSSIA DIZ QUE POLÔNIA É INSTRUMENTO DOS EUA

Em Moscou, o ministro da Defesa, Serguei Choigu, afirmou em um encontro de cúpula da pasta que a Rússia terá de reforçar seus flancos oeste e noroeste devido a dois fatores: a entrada da Finlândia na Otan, a aliança militar do Ocidente, e a militarização crescente da Polônia.

“O Ocidente coletivo está travando uma guerra por procuração contra a Rússia”, afirmou, em referência à ajuda militar massiva fornecida por membros da aliança à Ucrânia desde que ela foi invadida, em 2022. Ele afirmou que a adesão finlandesa e, provavelmente, a sueca à Otan são fatores “de séria desestabilização” que demandam “medidas adequadas”.

“No território finlandês, é provável que mais contingentes militares e armas de ataque da Otan sejam instalados, capazes de atingir alvos críticos no noroeste da Rússia com considerável profundidade”, afirmou.

Sobre a Polônia, disse que Varsóvia “se tornou o principal instrumento de política anti-Rússia dos Estados Unidos”. Na semana retrasada, o presidente Vladimir Putin já havia acusado sem provas os poloneses de planejar intervir na guerra.

Choigu repetiu a acusação, e afirmou que é necessário conter os cerca de 30 mil soldados que estão reforçando as fronteiras da Otan no Leste Europeu. A Polônia tem estado à frente da beligerância ocidental contra a Rússia, sua rival histórica.

Nesta quarta, anunciou que serão enviados 2.000 militares para a fronteira com Belarus, com quem vive renovada tensão. A ditadura aliada ao Kremlin abrigou mercenários do Grupo Wagner após o motim fracassado de junho, e Varsóvia teme que eles sejam usados em ações de infiltração. Nesta semana, Minsk promove exercícios militares com a suposta presença do grupo perto da fronteira polonesa.

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