Queda de barragens agravou tragédia e enchente na Líbia pode ter matado 15 mil; veja o que se sabe

Barragens romperam e provocaram inundações repentinas em cidades do leste do país, arrastando construções e carros

Após a forte tempestade, carros que foram arrastados pela água que inundou a cidade de Derna, no leste da Líbia, ficaram empilhados. Foto: REUTERS/Esam Omran

Estadão

TRÍPOLI – A tempestade Daniel, que atingiu a Líbia no fim de semana, devastou o leste do país. Autoridades estimam mais de 5 mil mortos e 10 mil desaparecidos em virtude da tragédia. O rompimento de duas barragens no país agravaram a tragédia, segundo autoridades locais.

A cidade de Derna, no leste do país, é a mais atingida. Ali ficavam as duas barragens que cederam com a força da chuva. No domingo, 10, moradores disseram ter ouvido fortes explosões. O rompimento provocou inundações repentinas

As autoridades declararam Derna uma zona de desastre depois que as enchentes inundaram bairros na manhã de segunda-feira, 11. Vídeos publicados nas redes sociais mostram grandes áreas de lama e destroços onde as águas turbulentas varreram os bairros residenciais. Prédios de vários andares que antes ficavam afastados do rio tiveram fachadas arrancadas e pisos de concreto desabaram. Carros arrastados pela água ficaram jogados uns em cima dos outros.

Quantas pessoas morreram?

As autoridades de Derna estimaram que o número de mortos passou de 2,3 mil para 5,3 mil ao longo desta terça-feira. Pelo menos 700 corpos recuperados foram enterrados até agora, segundo uma autoridade local.

A situação é tão grave que um hospital da região teve de guardar dezenas de corpos no pátio por falta de vagas no necrotério. Acredita-se que muitos corpos estejam presos sob os escombros ou tenham sido arrastados para o mar Mediterrâneo, disse Othman Abduljaleel, autoridade local da área da saúde.

O número de mortes deve crescer muito ainda, segundo Tamer Ramadan, enviado da Líbia para a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Ele disse em uma reunião da ONU que pelo menos 10 mil pessoas ainda estavam desaparecidas. Usama Ali, porta-voz dos serviços de emergência do governo de Trípoli, a capital da Líbia, também informou que a tragédia deixou 7 mil feridos.

Corpos de vítimas devido às fortes chuvas foram enfileirados no pátio de um hospital em Derna. Autoridades estimam mais de 2,3 mil mortos. Foto: REUTERS/Esam Omran Al-Fetori

Cidades isoladas

Os residentes de Derna ficaram sozinhos logo após o desastre, com as autoridades do leste da Líbia afirmando que não conseguiram chegar à cidade de cerca de 90 mil habitantes. Estradas bloqueadas, deslizamentos de terra e inundações impediram que os serviços de emergência chegassem à população das zonas afetadas, que teve de recorrer a meios rudimentares para recuperar os corpos e retirar os sobreviventes da lama.

Nesta terça-feira, 12, a maior parte do governo local chegou à cidade. Equipes do Crescente Vermelho de outras partes da Líbia também chegaram a Derna, mas escavadeiras extras e outros equipamentos ainda não haviam chegado lá, dificultados em parte por estradas cortadas e destruídas. Redes de telefonia móvel e de internet também estavam fora de funcionamento, contribuindo para que as cidades fiquem ainda mais isoladas.

A ajuda também começou a chegar a Benghazi, 250 quilômetros a oeste de Derna. Oficiais militares egípcios chegaram a Benghazi junto com uma equipe de resgate e helicópteros. O governo do oeste da Líbia, com sede em Trípoli, enviou um avião com 14 toneladas de suprimentos médicos e profissionais de saúde para Benghazi.

Ajuda a caminho de Derna

Comboios de ajuda foram enviados para Derna. O governo de Trípoli, dirigido por Abdelhamid Dbeibah, anunciou o enviou de dois aviões-ambulância e um helicóptero, com 87 médicos, uma equipe de socorristas e de investigação, além de técnicos para restabelecer a corrente elétrica.

O enviado especial dos Estados Unidos para a Líbia, Richard Norland, disse na plataforma X, anteriormente conhecida como Twitter, que os EUA estão em coordenação com as Nações Unidas e as autoridades locais para avaliar a melhor forma de direcionar a assistência oficial americana. Tunísia, Argélia, Turquia e Emirados Árabes Unidos também prometeram ajuda nos esforços de busca e resgate.

Tempestade mediterrânica Daniel atingiu a costa leste da Líbia, provocando o rompimento de barragens e inundações. Foto: AFP

País dividido

Conhecida pelas suas casas pintadas de branco e jardins de palmeiras, Derna foi construída em grande parte pela Itália quando a Líbia estava sob ocupação italiana na primeira metade do século 20. A cidade já foi um centro para grupos extremistas no caos que se seguiu ao levante apoiado pela Otan que derrubou e matou o ditador de longa data, Muammar Kadafi, em 2011.

Derna é controlada pelas forças do comandante militar Khalifa Hifter, o homem forte do governo do leste da Líbia, baseado em Benghazi. As autoridades locais negligenciaram Derna durante anos, muitas vezes discutindo o seu desenvolvimento, mas nunca agindo, disse Jalel Harchaoui, membro associado especializado na Líbia no Royal United Services Institute for Defense and Security Studies, com sede em Londres. “Mesmo o aspecto da manutenção estava simplesmente ausente. Tudo continuava atrasado”, disse ele.

As infraestruturas da Líbia sofreram repetidos golpes ao longo da guerra civil que eclodiu após a queda de Kadafi em 2011. O país continua agora dividido entre governos rivais no leste e no oeste. O oeste, que abriga o governo apoiado pela ONU, apressou-se em ajudar o leste depois que as imagens apocalípticas surgiram./Com Associated Press, Washington Post e AFP.

Compartilhe esta notícia!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese