Brasileiros que vivem na região falam sobre suas preocupações
O GLOBO
Nascida em São Paulo, Galia Schneider, 59 anos, afirma que todos estão em pânico no kibutz onde vive a apenas três quilômetros da fronteira de Israel com a Faixa de Gaza, formado, em sua maioria, por sul-americanos. Ela conta que tudo mudou no lugar onde escolheu para viver há 34 anos.
— Desde ontem, às seis e meia da manhã, começou aqui uma guerra e a gente está vivendo um filme de terror. Além de artilharia pesada que lançaram contra Israel, o Hamas e os moradores de Gaza que defendem esse grupo se infiltraram nas colônias agrícolas dos kibutz aqui da região. Sequestraram crianças, jovens, adultos e idosos. Além de sequestrarem, estão matando. Está tendo uma chacina aqui — relata.
Segundo ela, o Exército não conseguiu ter controle total sobre os terroristas infiltrados nas colônias. Já são mais de 500 pessoas assassinadas, com civis arrancados de suas casas.
Enquanto falava com O GLOBO, Galia foi alertada que teria de abandonar o kibutz — comuns em Israel, são comunidades onde pessoas vivem e trabalham em conjunto para produzir economicamente.
— Acabaram de me avisar que estão evacuando todo o kibbutz. Nós vamos todos sair daqui, toda a população do kibutz vai ser evacuada. As coisas aqui está só piorando.
Também morando da mesma região, o israelense e filho de brasileiros Yanai Gilboa trabalha na área de tecnologia. O kibutz onde vive com os quatro filhos fica a 7 quilômetros da fronteira.
Ele está preocupado, porque os filhos agora têm de ficar de prontidão e podem ser convocados para a guerra. Mas afirma que, se surgir uma oportunidade para vir para o Brasil, onde morou durante três anos, vai preferir ficar em Israel e lutar por seu país.
— A grande surpresa é a facilidade que os terroristas tiveram para cruzar a fronteira e entrar nas nossas cidades — afirma.
Prisão a céu aberto
Na Cisjordânia — território que, com a Faixa de Gaza, forma a Palestina — a brasileira Fátima Rashid, 50 anos, está preocupada. Embora o local esteja fora da zona de conflito, ela não duvida que o pesado contra-ataque israelense ganhe uma proporção maior.
Fátima é paranaense de origem palestina, casada com um comerciante palestino e mora na região desde 1994. Tem dois filhos, um de 24 e outro de 27 anos. Ela conta que as estradas estão fechadas e não é possível se deslocar de uma cidade para outra, devido ao aumento das barreiras militares.
— Os bombardeios estão na Faixa de Gaza, mas podem se expandir. Queremos viver em paz, com nossos legítimos direitos que não são cumpridos por Israel.
Questionada se concorda com o que fez o Hamas, ao atacar Israel na manhã de sábado, ela diz que é contra a violência, mas consegue entender o que se passa na cabeça das pessoas que vivem em Gaza.
— Quando o povo vive sob ocupação, em uma espécie de prisão a céu aberto, em um pedaço de terra onde vivem 2,5 milhões de palestinos, sem emprego, isso gera uma revolta tremenda, gera ódio dentro das pessoas. O povo palestino sofre muita violência há 70 anos — diz Fátima, que é presidente do Conselho de Cidadãos Brasileiros na Paletina.
Em Jerusalém, é grande a quantidade de brasileiros que querem voltar para o Brasil. Um deles é o cinegrafista Rico Faissol, que chegou na última sexta-feira para produzir um filme sobre a Igreja Adventista do Sétimo Dia e foi surpreendido com o som de sirenes na manhã de sábado.
— Estávamos eu e mais três pessoas e não sabíamos o que estava acontecendo. Ligamos para nosso motorista, que é brasileiro, e ele disse para ligarmos a televisão. Depois corremos para o bunker — conta ele, que tem 44 anos e mora no Rio de Janeiro.
Depois de enfrentar dificuldades para encontrar passagens de volta para o Brasil, no aeroporto de Tel Aviv, decidiu retornar a Jerusalém, não sem antes procurar a embaixada brasileira, para entrar no processo de repatriação.
Com um grupo de 103 brasileiros, o pastor evangélico Luiz Felippe Valadao de Azevedo está em um hotel de Jerusalém. Enquanto aguarda uma forma de retornar para o Brasil, eles oram para que tudo saia bem.
— Queremos sair daqui pela FAB ou pela companhia aérea que os trouxe — afirma.