Carnaval em SP: Prefeitura cancela desfiles de blocos de rua e mantém evento no sambódromo

Gestão Nunes afirmou que manterá evento no Anhembi se escolas de samba acatarem novos protocolos sanitários; Vigilância Sanitária também recomendou exigência de comprovante de vacinação em festas de qualquer porte

Carnaval de rua de 2020 foi o último celebrado em São Paulo; pandemia motiva cancelamento do evento pelo segundo ano consecutivo Foto: Carla Carniel/Estadão – 24/02/2020

Por Estadão

Com o avanço da variante Ômicron e o aumento de atendimentos de pacientes com sintomas respiratórios, a Prefeitura de São Paulo acatou recomendação da Vigilância Sanitária e cancelou o carnaval de rua de 2022. A decisão foi discutida em reunião com parte do secretariado a partir de um levantamento epidemiológico da covid-19 elaborado pelos técnicos da Saúde, que também recomendaram a criação de protocolos para o desfile das escolas de samba, a exigência de passaporte da vacina para festas de qualquer porte (que passará a valer a partir da próxima semana) e a manutenção do uso de máscaras obrigatório.

Segundo o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o carnaval do sambódromo do Anhembi está mantido desde que a representação das escolas acate os protocolos que serão elaborados para o evento, marcado para 25 a 28 de fevereiro, além do desfile das campeãs em 5 de março. Ainda não há definição sobre limite ou restrição de público, uso de máscaras e outras medidas.

Procurada, a Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo voltou a destacar que acatará todas as recomendações da Prefeitura e, em nota, destacou ter “completa disposição em acatar toda e qualquer recomendação das autoridades de saúde para um Carnaval SP 2022 seguro”. A venda dos ingressos foi iniciada em outubro de 2021.

“Por conta da questão epidemiológica, nós não teremos o carnaval de rua”, disse Nunes. Ele ainda anunciou que, com o aumento da procura por pacientes com sintomas respiratórios, as AMAs e as UBSs começarão a funcionar também nos sábados (consultas e vacinação) e, além disso, admitiu que está ocorrendo um “pouco mais” de espera no atendimento diante da alta demanda.

O secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, destacou que a Liga Independente das Escolas de Samba será chamada para discutir os protocolos para os desfiles do sambódromo. Um dos “pontos sensíveis” identificados pela Prefeitura é a concentração antes do desfile e os ensaios.

“Sendo um local só, a gente tem melhores condições sanitárias de fazer o controle de quem entra no sambódromo. Agora, evidentemente, não é só isso: tem uma série de outras questões que a Vigilância vai apontar, nós vamos chamar a Liga das escolas e discutir ponto a ponto”, comentou. Ele citou a Fórmula 1 e a São Silvestre como exemplos de eventos que respeitaram os protocolos determinados.

Além disso, destacou que a recomendação é exigir comprovante de vacinação em “qualquer evento”, não mais apenas nos com público superior a 500 pessoas. Segundo ele, 53 mil pacientes procuraram os serviços municipais de Saúde com sintomas respiratórios na quarta-feira, 5.

A possibilidade de realizar uma versão compacta do evento em ambiente com acesso controlado (mediante apresentação do passaporte da vacina), como no Autódromo de Interlagos, foi descartada. “A circulação de uma grande quantidade de pessoas pode agravar esse quadro que temos na cidade”, afirmou o secretário durante a reunião.

Ao menos 11 capitais cancelaram o carnaval de rua, como Rio, Salvador, Recife e Florianópolis. A situação também se repete no interior de São Paulo, incluindo a tradicional folia de São Luiz do Paraitinga.

Gráficos exibidos pela Vigilância Sanitária paulistana na reunião com o prefeito mostram uma elevação nos casos de síndrome respiratória a partir da segunda quinzena de dezembro. No caso da covid-19, o número mais que triplicou em duas semanas (chegando a 9024 novos diagnósticos na última semana epidemiológica).

Na quarta-feira, três organizações ligadas a blocos de rua publicaram um manifesto pelo cancelamento total da festa diante da situação sanitária, com aumento dos atendimentos de pacientes com sintomas respiratórios em meio ao apagão de dados do Ministério da Saúde. A carta é assinada pelo Fórum Aberto dos Blocos de Carnaval de São Paulo, que representa 195 agremiações, a Comissão Feminina do Carnaval de Rua de São Paulo, integrada por aproximadamente 60 blocos, e a União dos Blocos de Carnaval do Estado de São Paulo (Ubcresp).

A possibilidade de realização de celebrações com público restrito, mediante apresentação de passaporte da vacina, em locais fechados, como Interlagos, também foi rechaçada pelos grupos, assim como em clubes e espaços privados. Para os grupos, a retomada de ensaios no fim de 2021 demonstrou ser inviável a manutenção do carnaval, com a identificação da transmissão da doença nos eventos, mesmo restritos a algumas dezenas de integrantes.

Em meio às indefinições sobre a realização do evento, a Secretaria Municipal das Subprefeituras publicou no Diário Oficial de quarta, o adiamento da data de pagamento do patrocínio do carnaval para 20 de janeiro. O contrato de R$ 23 milhões foi assinado com uma empresa ligada à Ambev.

Em coletiva sobre medidas relacionadas à covid-19, também na quarta, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que a decisão sobre o carnaval de rua caberá às prefeituras, mas se posicionou contrário à realização. “Não é o momento para aglomerações desta ordem. Portanto, a recomendação é evitar que  aconteça.”

Já João Gabbardo, coordenador executivo do Comitê Científico do Estado, comentou considerar “impensável manter o carnaval (de rua) nestas condições”. “Mesmo o carnaval de desfile, nós temos que ter uma preocupação, porque essas pessoas, para chegar ao local de desfile, vão se aglomerar no transporte coletivo, vai ter aglomeração na entrada, na saída. E isso sempre é um risco e, neste momento, um risco muito alto. E isso tem que ser analisado com essa preocupação.”

Antes do manifesto, até 30 de dezembro, ao menos 32 blocos solicitaram o cancelamento de 41 desfiles na cidade, com a principal justificativa relacionada à situação sanitária. A lista inclui blocos de artistas e produtores de popularidade nacional, como Pipoca da Rainha (Daniela Mercury), Bloco do Alok e Bloco do Abrava (Tiago Abravanel), e locais, como Bloco do Temperadinho (Cangaíba, na zona leste), Bloco Perdendo a Linha (Caxingui, na zona oeste) e Localiza Aí BB (Cidade Tiradentes, zona leste). Outros 696 estavam autorizados a desfilar em fevereiro e março.

Como mostrou reportagem do Estadão, parte dos blocos havia se inscrito com hesitação e pretendia decidir se desfilaria apenas perto da data, enquanto outros retomaram os ensaios presenciais e começaram a promover festas.

Compartilhe esta notícia!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese