Flordelis colocou arsênico na comida de pastor e financiou compra de arma, diz polícia.

Polícia e MPRJ afirmam não ter dúvida de que a deputada arquitetou o plano para matar o marido, o pastor Anderson do Carmo; tentativas começaram em 2018, com envenenamento, até a execução.

Deputada federal Flordelis dos Santos Souza (PSD-RJ) e Anderson do Carmo 42.

Por Folhapress

A deputada federal Flordelis dos Santos Souza (PSD-RJ), que é apontada pela Polícia Civil do Rio como a mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, 42, em junho do ano passado, colocou veneno na comida dele e ainda financiou a compra da arma usada no crime.

A afirmação é do delegado Allan Duarte, titular da DHNSGI (Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá), que comanda a investigação.

Ele foi assassinado com mais de 30 tiros dentro da própria casa, em Niterói, região metropolitana do Rio.

De acordo com investigações da Polícia Civil, o plano para matar o pastor começou em maio de 2018, com um envenenamento em doses por arsênico.
O veneno era colocado na comida do pastor que teve várias passagens em hospitais de Niterói, com diarreia, vômitos, sudorese.

“O envenenamento foi feito de forma gradual, sucessiva. O arsênico era posto na comida do pastor de forma dissimulada”, disse o promotor Sérgio Luiz Lopes Pereira, do Grupo de Atuação Especializada e Combate ao Crime Organizado, do Ministério Público.

De acordo com o promotor, a associação criminosa entre os familiares começou com a tentativa de matar o pastor por envenenamento, depois por arma de fogo. Após o crime, houve a tentativa do grupo de fraudar as investigações, com uso de contrainformações.

Conforme o delegado Duarte, Flordelis arquitetou todo plano da morte, financiou a compra da arma, convenceu pessoas a realizar o crime, avisou sobre a chegada da vítima ao local e ainda tentou ocultar provas. “Não resta a menor dúvida de que ela foi a autora intelectual, a grande cabeça desse crime”.

O pastor, segundo ele, era responsável pela gestão de carreira da deputada. Ele solucionava os conflitos dentro da família da parlamentar.

“Havia a nítida diferença de tratamento entre os filhos adotivos e os de sangue. Como o pastor funcionava como o fiel da balança para restabelecer o equilíbrio, isso causou a ira da deputada para que o crime ocorresse”.

Ainda conforme o delegado, Flordelis havia tentado matar Anderson outras duas vezes.

“Em uma delas, ele foi comprar um carro na Barra da Tijuca, e Flordelis arquitetou para que o marido fosse então morto na volta, como se fosse um latrocínio. Mas, no dia, havia outro parente no carro e desistiram. Já no outro caso, ele seria morto na saída da igreja, mas uma troca do carro utilizado por Anderson causou certa confusão no suspeito e o plano não foi então realizado”, contou o delegado.

As investigações do crime chegaram a casos de rachadinha e nepotismo. Conforme o inquérito, em uma das situações, Rayane (neta) foi para Brasília com a promessa de ganhar R$ 15 mil pra trabalhar com Flordelis.

No entanto, segundo a polícia, ela recebia apenas R$ 2.500. Os investigadores acreditam que o restante do valor era destinado ao pastor ou para a deputada. Flordelis foi indiciada por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, falsidade ideológica, uso de documento falso e organização criminosa majorada. Para a polícia, a motivação do crime foi a insatisfação com a maneira que o pastor Anderson administrava a vida financeira da família.

A parlamentar e a família dela foram alvos, na manhã desta segunda-feira (24), da Operação Lucas 12, do Ministério Público estadual e da Polícia Civil do Rio.

Flordelis não foi presa pela Polícia Civil porque tem foro privilegiado. Uma cópia do inquérito policial será encaminhada para a Câmara dos Deputados. O procedimento poderá levar ao afastamento da parlamentar para que ela possa ser presa. “Ela foi surpreendida com a nossa chegada, chorou um pouco, porque tinha muita gente dentro de casa”, contou o chefe do DGHPP (Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa), o delegado Antônio Ricardo Nunes.

Conforme Nunes, 11 pessoas envolvidas no caso serão responsabilizadas criminalmente: “Crime bárbaro, covarde”, disse Nunes. Já de acordo com o delegado Duarte, a primeira fase da investigação identificou Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico da deputada, como autor do crime. Ele foi preso no velório do padrasto. Já Lucas César dos Santos, filho adotivo do casal, preso horas depois do irmão, foi apontado como a pessoa que comprou a arma utilizada no assassinato.

Lucas e Flávio foram denunciados por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima), com pena prevista de 12 a 30 anos. Em novembro, o Ministério Público do Rio apontou que Flordelis era suspeita de fraudar uma carta em que um de seus filhos confessou ter matado Anderson a mando de um dos irmãos.

O advogado Anderson Rollemberg, que defende a parlamentar, disse ter ficado surpreso com as prisões preventivas de cinco filhos da deputada e da neta dela, nesta segunda-feira.

“Tomaremos conhecimento de que há de indícios para que essas prisões fossem feitas e para o indiciamento da deputada, já que na primeira fase da investigação, passou longe de qualquer prova que a apontasse como mandante”, afirmou.

O advogado sustenta a versão de que a deputada é inocente. Segundo ele, Flordelis está muito aborrecida: “Ela Jamais foi mandante desse crime bárbaro”, destacou. Ainda conforme Rollemberg, Flordelis não tinha ingerência sobre o dinheiro da família.

“Ela é cantora gospel, líder religiosa e parlamentar federal. A questão dela sempre foi dar o melhor para os necessitados. Por isso tinha mais de 50 filhos. Na opinião da defesa, está havendo um grande equívoco no desfecho desta investigação”, assegurou o advogado.

Na ocasião do assassinato, a parlamentar disse que o pastor teria sido morto durante um assalto. Ela informou ainda que eles tinham sido seguidos por suspeitos em uma moto quando retornavam para casa.

PSD anuncia expulsão de deputada Uma nota assinada por Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD, anunciou a suspensão da filiação e prevê a expulsão de Flordelis.

“Diante do indiciamento da parlamentar, o corpo jurídico do partido adotará as medidas para a suspensão imediata de sua filiação e, a partir dos desdobramentos perante a Justiça, serão adotadas as medidas estatutárias para a expulsão da parlamentar dos seus quadros”, informou a nota.

Segundo determinação da juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, a deputada não pode se ausentar do país sem autorização judicial ou transferir sua residência para outra cidade. Flordelis também está proibida de manter contato com qualquer testemunha ou com os outros réus.

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