Secretaria de Meio Ambiente informa que foram realizadas autuações para punir os responsáveis pelas queimadas
Por Estadão
Um incêndio iniciado há pelo menos 15 dias tem destruído uma vasta área de uma Unidade de Conservação da floresta amazônica no sudoeste do Pará. Moradores e frequentadores da região ouvidos pelo Estadão afirmam que as queimadas, identificadas pela primeira vez em 21 de agosto, já devastaram uma reserva natural inteira, prejudicaram os negócios de quem trabalha com ecoturismo na região e dizimaram uma quantidade incalculável de animais e de vegetação da floresta.
O incêndio atinge uma unidade de conservação que se chama Refúgio de Vida Silvestre Rios São Benedito e Azul, constituída em 2020 pelo governo do Pará. A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) do Estado informou, por meio de nota, que uma equipe esteve no local e “realizou autuações a fim de punir os responsáveis pelos crimes ambientais cometidos”, e que segue apurando os fatos.
O Corpo de Bombeiros Militar do Pará e a Defesa Civil do Estado, também por nota, informaram que estão “atuando ativamente no local desde a semana passada com apoio do Grupamento Aéreo de Segurança Pública (Graesp) no transporte de efetivo e sobrevoos na área”. Não há informações de onde teria partido o incêndio e as motivações dos suspeitos.
Ao Estadão, o Corpo de Bombeiros Militar do Mato Grosso também confirmou que participou do combate ao incêndio nos últimos dias. O Coronel Ranie Sousa informou que o fogo “está controlado, mas não extinto”, o que ainda pode gerar riscos. “A equipe (do Corpo de Bombeiros do MT) continua monitorando e auxiliando combate direto das chamas”, afirmou o coronel.
A reportagem questionou também o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sobre as queimadas, mas não obteve um retorno até a publicação do texto.
Não é possível precisar com exatidão a quantidade de hectares queimados da floresta até o momento. Mas Raquel Machado, do Instituto “Raquel Machado”, responsável pelos cuidados de uma reserva de proteção ambiental privada, localizada dentro da unidade de conservação do Estado, estima que, ao menos, 5 mil hectares de floresta foram destruídos – um hectare corresponde a 10 mil metros quadrados.
“Está difícil sobrevoar a área por conta da fumaça. Então, está tendo que ser por carro. (Por isso) Não é possível precisar o quanto queimou até agora. Até ontem (domingo, 4 de setembro) eram 5 mil hectares queimados. Mas como o fogo não foi controlado ainda, provavelmente tem mais”, diz Raquel.
Fauna atingida
Ela afirma, porém, que a área privada pela qual é responsável foi “completamente destruída”. Funcionando há dois anos, o Instituto Raquel Machado protege uma região da unidade equivalente a 1,5 mil hectares, e que serve de casa para incontáveis espécies de animais, como onça-pintada, onça-parda, tamanduá, macacos, aves etc.
Em meio à diversidade da fauna destruída, o incêndio está atingindo também animais ameaçados de extinção, segundo Raquel. Cachorro-vinagre, e os macacos da espécie aranha e da cara branca são alguns exemplos citados por ela.
“Lá é uma área de papagaio-careca que é muito raro e está risco de extinção. Existe uma família que vivia na reserva e que, provavelmente, por estarmos em período de reprodução, perderam todos os filhotes”, conta a responsável pelo instituto. “É um dano incalculável ao meio ambiente”, lamenta.
Um veterinário foi chamado ao local por ela para tratar os animais que sobreviveram às chamas, mas que apresentam sequelas e lesões causadas pelo fogo.
“Não dá para ver o rio”
O gerente comercial Sandro Márcio Paukoski administra uma pousada na cidade paraense de Jacareacanga, que fica localizada dentro da Unidade de Conservação do Refúgio de Vida Silvestre Rios São Benedito e Azul e a cerca de 1,7 mil quilômetros da capital Belém.
À reportagem, ele relata que identificou a presença das queimadas pela primeira vez em 21 de agosto. As chamas, segundo Paukoski, se alastraram de forma rápida e chegaram bem próximas da sua pousada, a São Benedito, construída próxima um rio de mesmo nome. Ele conseguiu conter o fogo, mas precisou ligar para clientes e cancelar as reservas que já haviam sido feitas.
“O fogo queimou toda a nossa área e ficou em torno do gramado da nossa pousada, mas a gente conseguiu segurar as chamas para não queimar o lugar. Mesmo assim, a gente cancelou os novos clientes, evacuou o local e não deixamos mais ninguém vir”, conta Sandro Paukoski.
Assim como Raquel, o dono da pousada, que trabalha com pesca e ecoturismo, também lamenta a destruição provocada pelas queimadas: “Nosso negócio, infelizmente, está suspenso. Pescar não é possível porque não dá nem para ver o rio, está completamente cheio de fumaça. E ecoturismo também não dá (para fazer) porque não tem mais floresta. Ela derreteu, não sobrou exatamente nada.”
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup) do Pará informou por meio de nota que a Polícia Civil instaurou um inquérito policial na Delegacia de Conflitos Agrários de Santarém (Deca) para apurar o caso e está agindo, dentro das suas atribuições, em conjunto com os demais órgãos de segurança do Estado.