As duas últimas semanas, com a prisão de um ex-titular da pasta, marcaram o ápice de um ministério que nunca apareceu por causa da educação.
Por Estadão
COLUNISTA
Renata Cafardo
As duas últimas semanas marcaram o ápice de um Ministério da Educação (MEC) que nunca apareceu por causa da educação. Ao completar em julho três anos e meio de governo Jair Bolsonaro, chega-se à inacreditável marca de nunca ter lançado um só programa relevante para as escolas ou universidades públicas brasileiras. E ainda de ter o primeiro ex-ministro da Educação preso do Brasil.
A incompetência do governo é tamanha que nem em ideias prioritárias para os bolsonaristas houve algum êxito – sequer foram colocadas em prática e muito menos obtiveram resultados positivos.
Um bom exemplo da pífia atuação do MEC até no que o presidente alardeia desde a campanha como solução para a educação é o programa das escolas cívico militares. Lançado em 2019, tinha já um objetivo quantitativo irrisório: colocar militares da reserva e bombeiros para atuar na gestão de 216 escolas (o que representa 0,15% do total no País). Os Estados precisavam aderir e o MEC investiria cerca de R$ 50 milhões por ano nessas escolas estaduais.
O pressuposto era o de que disciplina militar, rigor e muito conteúdo são essenciais para que as crianças aprendam mais. Algumas dessas escolas obrigam meninos a cortar o cabelo bem curto, proíbem cores nas unhas das meninas e impedem namoros. Ideias e atitudes que estão longe da educação contemporânea, que ensina a pensar, a conviver com o diferente, a ter iniciativa, empatia e a ser flexível. Habilidades valorizadas no mundo atual em que informação se acha fácil no Google.
Documentos obtidos pela Fiquem Sabendo, agência de dados públicos especializada na Lei de Acesso à Informação, mostram que, depois de quase três anos, não é possível aferir o efeito dessa mudança nas 216 escolas para a qualidade da educação. O MEC tentou criar um índice de certificação, mas sem qualquer rigor estatístico. A avaliação foi feita por meio de simples questionários aos gestores, com perguntas sobre ambiente escolar, aprendizagem, evasão.
O relatório conclui que houve diminuição da violência em 80% das escolas, mas chega a isso apenas perguntando a opinião do próprio diretor.
Não há observação externa, não se sabe quais dados foram usados, ao que foram comparados e com qual critério. Lembrando que o período avaliado foi o de pandemia; é difícil uma escola ter problemas de violência quando alunos e professores estão em casa. Infelizmente, o MEC vai continuar a aparecer por mais seis meses só quando os assuntos forem corrupção, favorecimento, prisão. Quem sabe, mais ainda, numa CPI.
*É REPÓRTER ESPECIAL DO ‘ ESTADO’ E FUNDADORA DA ASSOCIAÇÃO DE JORNALISTAS DE EDUCAÇÃO (JEDUCA)