No mês, o óleo diesel teve alta de 17,93%, enquanto a gasolina subiu 5,18%; alimentação, por sua vez, teve queda, puxada por batata inglesa, cebola e feijão
Estadão
RIO E SÃO PAULO – Os reajustes dos combustíveis aceleraram a prévia da inflação oficial em setembro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) saiu de 0,28% em agosto para 0,35% neste mês, informou nesta terça-feira, 26, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Como resultado, a taxa de inflação acumulada em 12 meses subiu pelo segundo mês consecutivo, de 4,24% em agosto para 5,00% em setembro de 2023. No entanto, o índice de difusão, que mostra a proporção de itens com aumentos de preços, caiu para 43,9% no mês de setembro, já descontados os efeitos sazonais, o menor nível da série histórica, calculou o banco Santander Brasil.
“A leitura foi novamente favorável em termos qualitativos”, avaliaram, em nota, os economistas Daniel Karp e Adriano Valladão, do banco Santander Brasil.
O IPCA-15 de setembro corrobora a percepção de que a inflação corrente continua com dinâmica benigna e não deve ser um “problema severo” para a economia brasileira, opinou o economista João Fernandes, da gestora de investimentos Quantitas.
“Esse IPCA-15 foi misto, com várias sutilezas no número. Mas, no líquido, parece que dá continuidade à tendência benigna”, disse Fernandes, destacando também a queda da difusão do índice, de cerca de 50% em agosto para perto de 40% em setembro.
Após os reajustes nas refinarias em meados de agosto, o preço da gasolina registrou uma alta de 5,18% nas bombas dos postos de combustíveis, respondendo sozinha por aproximadamente 72% da taxa do IPCA-15 deste mês.
Pressionados também pelos aumentos nas passagens aéreas e no óleo diesel, os custos das famílias com transportes avançaram 2,02% em setembro, uma pressão de 0,41 ponto porcentual para a prévia da inflação de setembro. As passagens aéreas ficaram 13,29% mais caras, e o óleo diesel aumentou 17,93%.
Na direção oposta, três dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE registraram deflação em setembro: Alimentação e bebidas (-0,77%, impacto de -0,16 ponto porcentual), Artigos de residência (-0,47%, impacto de -0,02 p.p.) e Comunicação (-0,15%, impacto de -0,01 p.p.).
Os preços dos alimentos nos supermercados recuaram 1,25% em setembro. As famílias pagaram menos pela batata-inglesa (-10,51%), cebola (-9,51%), feijão-carioca (-8,13%), leite longa vida (-3,45%), carnes (-2,73%) e frango em pedaços (-1,99%). Por outro lado, houve alta no arroz (2,45%) e frutas (0,40%), com destaque para o limão (32,20%) e a banana-d’água (4,36%). A alimentação fora do domicílio subiu 0,46% em setembro, devido a aumentos no lanche (0,74%) e na refeição fora de casa (0,35%).
Os preços do grupo alimentação e bebidas já recuaram 0,22% no acumulado do ano, ajudando a conter a inflação no País no período. O custo da alimentação no domicílio caiu 1,89% de janeiro a setembro de 2023. Os tubérculos, raízes e legumes ficaram 16,17% mais baratos, e os preços das carnes diminuíram 10,72% neste ano. Aves e ovos acumulam queda de 6,72%, e óleos e gorduras recuaram 15,69%.
“O índice fechado de setembro deve ser impactado pela aceleração dos preços de alimentos. Ainda que o subgrupo Alimentação no Domicílio tenha renovado as quedas nos últimos resultados, o recrudescimento de pressões no atacado e a alta marginal dos preços de commodities agrícolas devem ser repassados ao consumidor nos próximos meses”, ponderou Luiza Benamor, em análise da Tendências Consultoria Integrada.
Para o C6 Bank, o resultado do IPCA-15 de setembro não muda a previsão de alta de 5,4% na inflação de 2023, seguida de aumento de 5,5% em 2024.
“Entre os fatores que influenciam essa trajetória está o mercado de trabalho aquecido, que pressiona a inflação de serviços, um importante termômetro de para onde vai a inflação geral. A taxa de desemprego se encontra abaixo da média histórica brasileira, dificultando a desaceleração da inflação de serviços e, portanto, trazendo desafios para a convergência da inflação à meta”, justificou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, em comentário.
A meta de inflação para este ano perseguida pelo Banco Central é de 3,25%, com teto de tolerância de 4,75%. Moreno manteve a projeção de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC mantenha cortes de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, nas próximas duas reuniões do ano. Atualmente a Selic está em 12,75% ao ano.