Taxa acumulada em 12 meses ficou em 7,96%, apontam dados do IBGE
Por Estadão
Após nova rodada de redução nos preços dos combustíveis, a prévia da inflação oficial no País voltou a cair em setembro. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) caiu 0,37%, o recuo mais acentuado para o mês desde 1998, informou nesta terça-feira, 27, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em agosto, o IPCA-15 tinha registrado deflação de 0,73%.
O resultado de setembro ficou perto do piso das estimativas dos analistas do mercado financeiro consultados pelo Estadão/Broadcast, que esperavam uma queda entre 0,39% e 0,06%, com mediana negativa de 0,20%. A taxa acumulada pelo IPCA-15 em 12 meses arrefeceu de 9,60% em agosto para 7,96% em setembro, a mais baixa desde maio de 2021.
Com o dado anunciado nesta terça, o IPCA-15 acumulou um aumento de 4,53% no ano. A taxa em 12 meses ficou em 7,96%. As projeções iam de avanço de 7,94% a 8,30%, com mediana de 8,14%.
O IPCA-15 de setembro trouxe um resultado “surpreendentemente positivo”, na opinião da economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta. Ela pondera que alguns núcleos ainda mostram níveis de preços consistentemente elevados, puxados por serviços e por bens de extrema necessidade, como itens de despesas pessoais e saúde. “Não deixa de ser um ótimo resultado a ser comemorado, inclusive pelo Banco Central”, frisou Argenta, em nota.
O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, concorda que a deflação mais forte que o esperado no IPCA-15 de setembro é uma notícia positiva para o Banco Central (BC), no momento em que a autarquia decidiu encerrar o ciclo de aperto monetário.
“Pensando em política monetária, o dado reforça que o ciclo de aperto chegou ao fim e que agora a discussão é quando o BC começa a cortar juros. Ainda tem uma incerteza se que vai depender da política fiscal do próximo governo, e o próprio BC ressaltou isso na ata”, observou o estrategista-chefe do Banco Mizuho, que espera manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano até julho do ano que vem, com cortes consecutivos até descer a 11,25% ao ano no fim de 2023.
Três grupos com deflação
Seis dos nove grupos de produtos e serviços que integram o IPCA-15 registraram altas de preços em setembro. A deflação foi concentrada nos grupos Transportes (-2,35%), Alimentação (-0,47%) e Comunicação (-2,74%).
Os combustíveis ficaram 9,47% mais baratos. A gasolina caiu 9,78%, maior contribuição negativa para o IPCA-15 do mês, -0,52 ponto porcentual. Houve quedas também no etanol (-10,10%), gás veicular (-0,30%) e óleo diesel (-5,40%).
“Cabe ressaltar que houve redução no preço da gasolina vendida para as distribuidoras em R$ 0,18 por litro, em 16 de agosto, e R$ 0,25 por litro, em 2 de setembro”, frisou o IBGE, em nota.
A tarifa de ônibus urbano caiu 0,08%, devido à redução dos preços das passagens aos domingos em Salvador (-0,82%), desde 11 de setembro. Na direção oposta, as passagens aéreas subiram 8,20%. Houve altas ainda no seguro voluntário de veículo (1,74%), emplacamento e licença (1,71%) e conserto de automóvel (0,62%).
Os gastos das famílias com alimentação e bebidas tiveram uma redução de 0,47%, graças ao recuo na alimentação consumida dentro do domicílio (-0,86%). A queda foi puxada por cortes nos preços do óleo de soja (-6,50%), tomate (-8,04%) e, principalmente, leite longa vida (-12,01%). Apesar da queda em setembro, os preços do leite ainda acumulam uma alta de 58,19% no ano.
Na direção oposta, houve pressões de aumentos na cebola (11,39%), frango em pedaços (1,64%) e frutas (1,33%). A alimentação fora do domicílio também subiu: 0,59%.
O grupo de despesas com queda de preços mais intensa em setembro foi Comunicação, influenciada pela redução nos planos de telefonia fixa (-6,58%) e de telefonia móvel (-1,36%), mas também pelos pacotes de acesso à internet (-10,57%) e pelos combos de telefonia, internet e tv por assinatura (-2,72%). Além disso, houve queda nos preços dos aparelhos telefônicos (-0,99%).
“A Lei Complementar 194/22, sancionada no final de junho, fixou um limite para a alíquota máxima de ICMS sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações”, lembrou o IBGE.
Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, o corte de impostos demorou um pouco mais para ser sentido nos serviços de comunicação.
“Assim como combustíveis e energia elétrica, os serviços de comunicação também foram afetados pela redução da alíquota de ICMS”, escreveu Moreno, em nota. “Mas é preciso ter cautela para interpretar os dados de inflação, que ainda estão muito contaminados por essa redução pontual de impostos.”
Em setembro, as famílias brasileiras gastaram mais com Habitação (0,47%), Vestuário (1,66%), Educação (0,12%), Artigos de residência (0,24%), Despesas pessoais (0,83%) e Saúde e cuidados pessoais (0,94%).
Em Vestuário, houve aumentos de preços das roupas femininas (1,83%), masculinas (1,78%) e infantis (1,52%), além de calçados e acessórios (1,58%) e joias e bijuterias (0,98%). No grupo Saúde e cuidados pessoais, os destaques foram os aumentos nos itens de higiene pessoal (1,28%) e nos planos de saúde (1,13%). Os produtos farmacêuticos subiram 0,81% e contribuíram com 0,03 ponto porcentual para o IPCA-15 de setembro.
Segundo a XP Investimentos, o índice de difusão, que mostra porcentual de itens com aumentos de preços, desacelerou de 65% em agosto para 60% em setembro. De forma geral, o resultado da prévia da inflação foi melhor do que o esperado, acrescentando um viés de baixa à projeção do IPCA fechado de setembro, de -0,16%, avaliou Tatiana Nogueira, economista da XP.
“Para o ano, projetamos o IPCA em 6,1%, incorporando uma queda adicional nos preços da eletricidade devido a alterações tarifárias e um aumento de 5% nos preços da gasolina no final do ano. Estas hipóteses estão sendo analisadas. Em breve divulgaremos projeções mensais com possíveis revisões”, escreveu Nogueira, em nota.
O C6 Bank prevê que o IPCA termine o ano em 6%, mas a taxa ainda pode ser revista para baixo. Para 2023, a projeção do banco é de inflação de 5,7%. “Acreditamos que a inflação continue caindo, mas em ritmo lento”, apontou Claudia Moreno.
(Colaboraram Maria Regina Silva e Cícero Cotrim)