Nas redes sociais, ministro da Educação disse que saída de Danilo Dupas foi por ‘motivos pessoais’ e ‘a pedido’; bastidores apontam temor de desgaste. Carlos Moreno assume cargo a partir de agosto
Por Estadão
A menos de quatro meses da realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Ministro da Educação, Victor Godoy, anunciou, nesta quarta-feira, 27, a saída de Danilo Dupas da presidência do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela prova. Conforme anúncio nas redes sociais, a troca de chefia ocorreu “por motivos pessoais e a pedido”. Quem assume o cargo, a partir de 1º de agosto, é Carlos Moreno.
Conforme apurou o Estadão, Danilo Dupas deixou o cargo a pedido do Palácio do Planalto. A preocupação do governo era que sua atuação, questionada há meses por servidores e especialistas em educação, prejudicasse o presidente Jair Bolsonaro durante a campanha para reeleição. Servidores e especialistas comemoram a indicação de Moreno para o cargo, destacando seu caráter técnico.
Dupas, que nunca havia trabalhado com avaliações educacionais, assumiu o cargo em fevereiro do ano passado. Durante o período, envolveu-se em polêmicas e teve de enfrentar acusações de interferência do governo federal nas provas do Enem. O ex-ministro Milton Ribeiro, no entanto, o manteve no cargo. Ribeiro é investigado e foi preso por supostos crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência no caso do gabinete paralelo do MEC, revelado pelo Estadão.
A reportagem apurou que o Planalto temia que eventuais problemas na preparação do Enem ou outras polêmicas envolvendo o Inep poderiam levar a novas investigações em um ministério já fragilizado. As provas deste ano serão aplicadas em 13 e 20 de novembro.
Este mês, em novo embate, Dupas enviou um ofício à associação de servidores do Inep, que fazia oposição a ele, pedindo dados como quantidade de associados e atas das reuniões. A entidade viu a iniciativa como um “assédio institucional” e uma forma de cercear a liberdade dos servidores.
Em novembro de 2021, quando faltavam 13 dias para o Enem, mais de 30 servidores do órgão pediram exoneração e dispensa coletiva. Dupas foi acusado pelos funcionários de assédio e desconsideração de aspectos técnicos na tomada de decisões. Ele negou as acusações.
Também em novembro, o Estadão apurou que houve supressão de “questões sensíveis” na prova. O presidente Jair Bolsonaro chegou a afirmar que as perguntas do Enem teriam “a cara do governo”.
Naquele mesmo mês, em comissão do Senado, Dupas falou ser “comum” a adição e a retirada de questões durante a montagem do teste. E explicou que a “cara do governo é seriedade e transparência”.
‘Minha missão é garantir a execução do Enem sem problemas’
Godoy informou que, a partir de 1° de agosto, Carlos Moreno assume o cargo, “respondendo interinamente e garantindo a continuidade dos exames e avaliações fundamentais para toda a sociedade brasileira”.
Ao Estadão, Moreno disse que a prova do Enem está pronta. “Estou tranquilo porque confio muito nos servidores do Inep”, afirmou. Segundo o novo presidente do Inep, o ministro deu “total liberdade” a ele para atuar e conhecer os detalhes do exame e do que vinha sendo feito na gestão de Dupas. “Minha missão é a de garantir a execução do Enem sem problemas.”
Moreno é um dos servidores mais experientes e mais respeitados do Inep e da comunidade educacional. Ele disse que sua nomeação foi uma surpresa e que foi chamado durante as férias. O nome também foi bem recebido por especialistas, apesar de representantes de universidades manifestarem preocupação com a troca repentina.
O novo presidente do Inep afirmou que vai avaliar a situação do órgão e analisar possíveis cargos ocupados por profissionais sem experiência em avaliação, como vinham denunciando os servidores.
Moreno é bacharel e mestre em Estatística pela Universidade de Brasília (UNB) e doutorando em Educação na Universidade Católica de Brasília. É servidor de carreira do Inep desde 1985 e ocupava o cargo de Diretor de Estatísticas Educacionais desde 2010. Recentemente, foi condecorado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e recebeu o Prêmio Todos pela Educação pela sua contribuição para a área durante a carreira.