Crescimento dos maiores bancos do Brasil desacelera no 3º trimestre

Lucro das quatro maiores instituições do Brasil somou R$ 29 bilhões entre julho e setembro de 2024

Agência do Banco do Brasil (BB) de Cocal, região Norte do Piauí. Foto: Marcos Ranyere Portela da Cunha (15.nov.2024)

A trajetória de recuperação dos grandes bancos após a alta inadimplência no pós-pandemia desacelerou no terceiro trimestre. Os atrasos acima de 90 dias voltaram a crescer ante o segundo trimestre nos casos de Banco do Brasil e Santander e tiveram quedas de apenas 0,1 ponto percentual no Bradesco e no Itaú Unibanco.

A piora na qualidade do crédito coincide com a piora no cenário macroeconômico. Ao fim do terceiro trimestre, a alta no dólar e na curva de juros futuros —combinada a uma inflação resiliente no Brasil e a um risco fiscal elevado com a incerteza sobre o corte de gastos— levou à deterioração das projeções futuras, com uma expectativa de Selic para 2025 indo de 11% para perto de 14%, Houve ainda um catalisador na piora do sentimento econômico: as eleições nos Estados Unidos.

Por consequência, o crescimento do lucro líquido dos bancos também perdeu ímpeto. Juntos, as quatro maiores instituições financeiras do país lucraram R$ 29 bilhões de julho a setembro.

Novamente, o maior resultado foi do Itaú Unibanco (R$ 10,7 bilhões). O banco segue como um ponto fora da curva do setor, dado a uma carteira de crédito menos arriscada e mais rentável, com maior presença de clientes de alta renda.

“Os destaques negativos ficaram por conta da tesouraria, que apresentou recuo trimestral de 24,7% dada a abertura da curva de juros no período”, diz Rafael Reis, analista do BB Investimentos.

A mudança nas precificações de juros futuros prejudicou o setor como um todo no período, levando a tesouraria do Bradesco a um patamar historicamente baixo, e sendo um dos principais fatores pela queda trimestral no lucro da Caixa Econômica Federal.

O Banco do Brasil segue como o segundo maior resultado do setor, com lucro de R$ 9,5 bilhões no terceiro trimestre. A instituição, porém, foi impactada negativamente por uma leva de recuperações judiciais de clientes do agronegócio, o que obrigou o banco a aumentar o provisionamento, reduzindo a margem.

“Enquanto essas condições eram, de certa forma, esperadas, a magnitude das provisões foi uma surpresa” disse o Goldman Sachs em relatório.

O Bradesco segue em trajetória de recuperação após sofrer com a inadimplência em 2023, com a nova diretoria redesenhando a estrutura do banco e lançando novos produtos para ampliar a penetração na alta renda na carteira de crédito. No terceiro trimestre, obteve lucro de R$ 5,2 bilhões.

“O banco se recupera, mesmo sacrificando a margem bruta. Agora, está com créditos menos rentáveis, mas que dão mais resultado na frente”, diz Evandro Medeiros, analista da Suno Research.

“Embora confirmando a tendência de recuperação, a curva de crescimento esperada parece um pouco mais lenta, e o ambiente macro pode atrasar essa recuperação no crescimento do crédito”, diz a XP em relatório.

“A qualidade do crédito merece menção como tendência positiva, com a inadimplência recuando em todas as modalidades, ajudando a cristalizar a percepção de que as novas safras de crédito estão de fato mais salutares”, diz Rafael Reis, analista do BB Investimentos sobre Bradesco.

O Santander segue a mesma lógica. No trimestre em que lucrou R$ 3,7 bilhões, o banco desacelerou a concessão de crédito em busca de ativos de maior qualidade e lucratividade em um cenário macroeconômico de deterioração.

“O resultado [do Santander] foi, em nossa leitura, uma continuidade da retomada de rentabilidade engatilhada pelo banco há cerca de um ano, embora com uma decepção mais notável na expansão da carteira de crédito, mas explicada pela política mais restritiva em voga”, disse Reis, do BB.

Fonte: Folha de São Paulo 

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