Atriz está se divertindo com maldades de Gilda, sua segunda malvada em 25 anos de novelas
F5
Se não tivesse o compromisso profissional, Mariana Ximenes, 41, tinha destino certo na última terça-feira (14). “Hoje é dia de Marielle”, diz, lembrando o aniversário de cinco anos do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, que foi marcado por atos cobrando a elucidação completa do caso. “Se não tivesse que estar aqui, eu estaria lá”, comenta a atriz.
Porém, a data também foi escolhida pela Globo para apresentar à imprensa a novela “Amor Perfeito”, que estreia na segunda-feira (20) na faixa das 18h, substituindo “Mar do Sertão”, e Mariana precisava estar disponível para falar com jornalistas. Na pauta, sua mais nova personagem, a vilã Gilda, que vai infernizar a vida da mocinha Marê, vivida por Camila Queiroz na trama.
Na trama criada por Júlio Fischer e Duca Rachid, Gilda é uma mulher ambiciosa e dissimulada que se casa com Leonel (Paulo Gorgulho), pai de Marê. De olho na fortuna dele, a ex-prostituta arma para que a enteada seja acusada pela morte do próprio pai e passa a comandar as empresas da família.
Em pleno Mês da Mulher, Mariana afirma que a rivalidade entre as duas personagens não espelha a relação das protagonistas nos bastidores. “Entre eu e a Camila é só amor”, conta. “A gente trabalha muito, temos muitas cenas juntas e um jogo cênico importante, então estamos agarradas. Estou adorando trabalhar com ela, mas como é alta, né? Agora, é muito linda —a gente não cansa de olhar— e um amor, então é uma delícia trocar com ela.”
Agora, claro, destilar maldades em cena ela confessa que tem sido uma diversão. “Vilã é sempre um deleite para uma atriz porque tem muitas camadas”, diz. “A Gilda não tem caráter e não tem moral. Ela extrapola todos os limites para conseguir o que quer. Ela faz coisas terríveis.”
Mariana conta que não é desses atores que defendem seus personagens com unhas e dentes quanto está fora das gravações. Embora entenda suas ações, não concorda com boa parte delas. “Apesar de ela ter um passado complicado, não justifica você fazer maldade só porque você teve uma vida ordinária, nada justifica… Então, eu não posso passar a mão na cabeça da Gilda”, resume.
Ela define a personagem como uma “vilã absurda” e “de tintas fortes”, dessas que poderiam estar nas páginas de uma história em quadrinhos. A composição, ela diz, é bem diferente da feita para sua primeira malvada, a icônica Clara de “Passione” (2010-2011). “Hoje, estou mais madura, mas aprendi muito nessa novela. A Clara tinha um tom bem mais realista, aqui a história é mais ficcional mesmo.”
Perguntada se teme uma rejeição do público, como costumava ocorrer antigamente —com atores sendo xingados ou até agredidos fisicamente nas ruas—, ela conta que está preparada para qualquer tipo de reação. “Pode vir quente que eu estou fervendo”, brinca. “Se vier, está tudo certo, mas acho que, hoje em dia, com as redes sociais, você desassocia um pouco mais a sua imagem da personagem.”
Com mais de 4,5 milhões de seguidores, Mariana usa as redes para dividir com os fãs recortes do seu dia, de festas glamorosas e campanhas publicitárias para marcas prestigiadas a imagens onde aparece menos produzida, de cara lavada e em meio à natureza. Elas são entremeadas por momentos divertidos de bastidores da novela atual e por lembranças dos trabalhos anteriores.
E tem muitos, viu? Apesar do rostinho de menina, a atriz completa 25 anos de carreira em maio. “Às vezes, até eu falo: ‘Meu Deus, quanto tempo!’. Mas estamos aí”, brinca. Sua estreia foi como a espevitada Emília de “Fascinação” (1998), do SBT. Por acaso, trata-se de uma trama que se passava nos anos 1930, mesmo período em que a nova novela começa —serão duas fases, sendo a segunda nos anos 1940.
Apesar de já ter feito vários, Mariana diz não ter fetiche por papéis de época. “Eu gosto, mas depende da história”, explica. “Essa história agora era uma que eu queria muito ajudar a contar. Essa coisa das tramas de época traz consigo um mundo que a gente não viveu, então a gente pode fazer de acordo com a nossa imaginação, com a dos autores e com a de toda a equipe que compõe a obra.”
Recentemente, no entanto, ela viveu uma personagem de época que existiu de fato, a condessa de Barral da novela “Nos Tempos do Imperador” (2021-2022). “Ali tínhamos personagens reais, como o Dom Pedro 2º e a minha própria personagem. Era uma história muito interessante porque permeava a história do Brasil, mas de alguma maneira também tinha um lado ficcional. Mas, em ‘Amor Perfeito’, é só fantasia mesmo.”
A atriz evita comparar as experiências e diz que “cada processo é um processo”. “Ao longo desses mais de 24 anos de carreira, eu sempre penso que cada novela é uma aventura e uma jornada diferente”, afirma. “A cada ano, vou fazendo uma avaliação do que passou e dos projetos que vão surgindo, e assim vai-se construindo uma carreira.”
Mesmo com a experiência acumulada em 15 novelas, sem contar filmes, séries e especiais, a atriz diz que, a cada novo trabalho, é como se tudo estivesse começando de novo. “A batalha nunca está ganha, então é sempre um frio na barriga”, confessa. “A gente fica nervosa até para começar a gravar cada cena. É um desafio que a gente tem que vencer.”
“E tudo depende, né? Do colega que vai contracenar, do texto que vem para você fazer, do diretor, então são sempre experiências únicas”, completa. “Isso que me instiga a continuar trabalhando, aprendendo e trocando.”
Entre os trabalhos anteriores, dois estão em voga no momento. A impulsiva Bionda está de volta em “Uga Uga” (2000-2001), que entrou recentemente no catálogo do Globoplay. “Imagina se já tivesse Instagram naquela época? Porque o figurino dela ela deslumbrante e realmente foi uma personagem muito forte”, lembra. Ícone fashion da época, ela usava caixas de cós bem baixo —que estão voltando com tudo— e acessórios como brincos, colares e braceletes que foram parar nas lojas de comércio popular.
Para além disso, a atriz diz que conseguiu se enxergar com um olhar generoso na tela. “Foi muito interessante de rever agora”, diz. “Meu Deus, eu era uma baby de 18 anos. Nem tudo eu gosto, mas tudo bem, faz parte da minha história e eu tenho orgulho disso.”
Outra versão de Mariana que pode ser conferida atualmente é a de “Chocolate com Pimenta” (2003-2004), na qual ela interpretou a ingênua Ana Francisca. Sucesso garantido nas tardes da Globo, a trama está sendo reapresentada pela terceira vez no Vale a Pena Ver de Novo —sem contar outra reprise no canal pago Viva e o fato de também estar disponível no Globoplay.
“Fui muito feliz ali e sou muito feliz até hoje porque as pessoas sempre vêm me falar como a história e a personagem se conectaram com elas”, celebra. “É um projeto que segue me dando muitas alegrias também porque várias gerações foram vendo em diferentes momentos. E é muito curioso, não dá para explicar muito, né? Como é que uma história pega e a outra não pega? Como é que você explica isso, né? E eu fico feliz que ‘Chocolate com Pimenta’ pegou.”