Atriz e apresentadora lança segunda temporada de podcast e fala sobre as dores e as delícias da maternidade
O GLOBO
Thaila Ayala e Julia Faria lançam, no próximo dia 7, a segunda temporada do podcast “Mil e uma t(r)etas”. O primeiro episódio é um especial de Dia dos Pais, e os convidados são os respectivos maridos. “Damos espaço para falarem sobre as questões deles”, adianta Thaila, casada com o ator Renato Góes, com quem teve os filhos Francisco, de 1 ano, e Tereza, de 3 meses. “Mesmo que a gente não comente tanto as transformações que a paternidade traz, sabemos que o mundo deles também está em mutação.”
A atriz concedeu uma entrevista exclusiva à Revista ELA, em que falou também sobre os desafios da maternidade e a angústia sentida diante do medo de perder a filha. Aos 2 meses, Tereza teve que passar por uma cirurgia para tratar um problema no coração descoberto ainda dentro do útero. Ela foi diagnosticada com comunicação interventricular (CIV), um buraco entre as cavidades do coração que desviava parte do sangue.
O GLOBO – Como será este episódio de Dia dos Pais do podcast?
THAILA AYALA – Pensar na minha maternidade sem pensar na paternidade do Renato é impossível, e isso ficou muito claro durante a primeira temporada. A gente falou muito dos nossos companheiros – para o bem e para o mal (risos). Então, achamos que seria muito especial ter os dois ali no Dia dos Pais. Queríamos dar o espaço para falarem sobre as questões deles. Porque mesmo que a gente não fale tanto sobre as transformações que a paternidade traz, sabemos que o mundo deles também está em transformação, em mutação. Então, quisemos ouvir e acolher o que eles também têm a dizer, já que a gente passou uma temporada falando neles.
Como o medo de perder a sua filha a transformou como mulher e como mãe?
O que aconteceu com a Tereza mudou especialmente a minha intimidade do Deus. A minha relação com ele ficou ainda mais próxima, de mais confiança e de mais entrega. Em um momento como estes, não tinha outra coisa a fazer além de orar e entregar nas mãos dele, acreditar que ele estava cuidando de tudo. A maternidade é a experiência mais maravilhosa e cheia de altos e baixos que já vivi. Chico veio para começar essa revolução na minha vida, e Tereza agora está consolidando ainda mais essas mudanças. Outra coisa que mudou foi a minha percepção do tempo com eles. Passa tão rápido. Estou aproveitando mais agora, tentando olhar mais devagar e curtir mais cada fase deles.
Muitas mulheres, infelizmente, ainda sofrem com a culpa materna, fruto da sociedade patriarcal. Como é no seu caso? Como faz para não cair em armadilhas?
Acho que é quase impossível não cair em armadilhas, justamente porque é algo que estrutura nossa sociedade. Se mães saem sem os filhos, são culpadas. Se acham que ela fica com o filho demais, são culpadas. Se se dedicam à criação dos filhos e não trabalham fora, também são criticada. Se trabalham fora, ainda assim são criticadas. Não tem jeito de acertar aos olhos da sociedade. Nesta hora, o importante é criarmos nossa rede de apoio, que envolve a família, os amigos, outras mães… O “Mil e uma t(r)etas” nasceu desta vontade de compartilhar os assuntos, mostrar que as mamães por aí não estão sozinhas em suas questões, que elas podem escolher como é o jeito certo para elas de maternar, que não tem uma receita pronta para viver a maternidade. Quando eu engravidei do Francisco, mergulhei em uma depressão profunda. Ficava dias na cama e não conseguia entender. Francisco foi uma criança desejada, estava tudo “certo”. Mas a gravidez foi um processo doloroso para mim, não pelo meu filho, mas por mim: mexeu com muitos gatilhos de infância, traumas… Eu me sentia muito sozinha. Depois que ele nasceu e eu me senti fortalecida para compartilhar esse momento da nossa jornada, recebi tanto apoio, tanto acolhimento, vi que tantas outras mulheres passam por isso. Muita gente agradeceu o relato e disse que se sentiu acolhida. Nessa hora, tive certeza de que queria ampliar essa rede de apoio para as mães. Cada experiência com a maternidade é única. Não é igual nem entre os nossos filhos (risos). Busco manter isso em mente e não me exigir perfeição. Serei a melhor mãe que puder ser, pensando tanto no bem-estar dos meus filhos quanto no meu. É isso que me guia.
Sente que as pessoas cobram de você algum comportamento que não está disposta ou não se sente obrigada a ter?
É engraçado que parece que quando você engravida e depois, quando o bebê nasce, você vira domínio público: na gravidez, queriam me dizer como eu tinha que me comportar, depois que o bebê nasce, todo mundo sabe o que é melhor para ele – menos a mãe. Olha que impressionante! Eu não tenho muita paciência com essa cobrança e intromissão (risos). Sempre coloco um limite bem claro quando estou pedindo uma opinião, uma ajuda, e quando não estou. Dizer nossos limites nos ajuda a evitar algumas dores de cabeça, além de educar as pessoas. Não que eu ache que seja meu papel educar ninguém. Mas às vezes acaba acontecendo.
Você tem falado muito sobre a maternidade real. Qual o maior “perrengue” em ser mãe de duas crianças pequenas?
O que não é perrengue? (risos) Tudo é dobrado. Estou descobrindo como é ser mãe de dois. Mas se o perrengue é dobrado, as alegrias também são. O maior perrengue é a sensação de que não estou sendo boa o suficiente para algum deles. O que me dá angústia é pensar que não estou sendo boa para um deles, que está “faltando mãe” para algum deles. Esse é um dos maiores desafios com certeza. E também achar a Thaila que não é mãe, aquela parte que é mais individual. Porém eu sou mãe. Então as coisas se atravessam (risos).
E como não deixar que isso afete a vida íntima do casal?
Dois filhos mudam a rotina do casal, não tem como ser diferente. O desafio, na verdade, é descobrir novas maneiras de ser um casal, de ter um tempo para nós dois… Para variar, não tem receita. Vamos descobrindo no dia a dia.