Eles e elas bebem e conversam animadamente.
Por Folhapress
TÓQUIO, JAPÃO (FOLHAPRESS) – Em ruas tão estreitas que carros não passam, centenas de jovens podem ser vistos andando sem máscara. Eles e elas bebem e conversam animadamente. Nas vias repletas de bares e restaurantes próximos à avenida Meijo-dore, no bairro Shinjuku, em Tóquio, restaurantes servem álcool e ficam abertos além do horário, apesar das proibições do governo.
Em um deles, um funcionário ofereceu à Folha cerveja e, com inglês arrastado, disse que não haveria problema nenhum, enquanto fazia o convite com o braço para entrar.
Shinjuku é uma das áreas preferidas pela juventude da capital e a de vida noturna mais ativa. A estação de trem local, antes da pandemia da Covid-19, era a mais movimentada do mundo, com dois milhões de passageiros por dia.
Alguns comerciantes, mais discretos, oferecem álcool apenas no interior dos bares. Mas há os que colocam as mesas na rua, sem receio de qualquer fiscalização.
Isso fez com que até jornalistas fossem flagrados bebendo enquanto usavam a credencial de cobertura dos Jogos. Ao chegar no Japão, é necessário cumprir uma quarentena de quatro dias, em que são permitidas apenas uma saída diária de 15 minutos para comprar comida. Do 5º ao 14º dia, o deslocamento externo é permitido, mas apenas para locais aprovados previamente pela organização da Olimpíada. Bares e restaurantes não estão incluídos.
O desrespeito às normas do estado de emergência deu gás aos críticos da bolha olímpica planejada pelo governo japonês para evitar o aumento do número de casos de Covid-19.
“São tentativas que não vão dar certo porque o governo quer que as pessoas aceitem mais uma restrição enquanto milhares de pessoas entram no país para a Olimpíada”, afirma o advogado Kenji Utsunomiya, responsável pelo movimento “Cancel the Tokyo Olympics to protect our lives” (Cancelem a Olimpíada de Tóquio para proteger nossas vidas, em inglês), que já reuniu 457 mil assinaturas.
A Folha de S.Paulo entrevistou dois comerciantes japoneses que têm ligações com a comunidade brasileira na capital. No último dia 12 entrou em vigor o quarto estado de emergência no país desde o início da pandemia. Este deve durar até 22 de agosto. A primeira competição dos Jogos será realizada nesta terça (20), às 21h -partida de softbol entre Japão e Austrália. A cerimônia de abertura acontece na sexta (23), às 8h, e a de encerramento está marcada para 8 de agosto.
O estado de emergência determina, entre outras medidas, o fechamento do comércio às 20h e a proibição da venda de álcool. Nenhuma dessas duas medidas têm sido respeitadas por todos, como um passeio noturno por Shinjuku mostra.
Em entrevistas na condição de anonimato, por temerem represálias da fiscalização do poder público de Tóquio, os dois comerciantes criticam a renovação das restrições e as consideram “desnecessárias e ineficazes”.
Uma das reclamações é que nos dois estados de emergência anteriores o governo pediu a compreensão e apoio dos estabelecimentos comerciais da capital, sob o argumento de que as medidas não voltariam a se repetir. Não foi o que aconteceu. Um deles disse à reportagem ter preferido fechar seu comércio do que vender álcool de forma clandestina, como outros têm feito.
Mesmo assim, o empresário considera ser um erro do governo proibir o consumo. Até porque os supermercados continuam a vender bebidas livremente porque, teoricamente, seriam consumidas apenas em residências. Também não é o que ocorre, e jovens andam, à noite, com garrafas de cerveja nas ruas.
Os comerciantes se queixam também que o governo prometeu uma ajuda financeira durante estes meses, mas esta medida não se materializou até o momento.
O segundo empresário confessou seguir na comercialização de bebida alcóolica no seu horário de sempre, até às 22 horas, por ser a única maneira de manter seu negócio em funcionamento. Ele alega também que a maioria de seus colegas pensa da mesma forma e que a população “está cansada” das restrições.
Ainda mais agora, que o país vai receber os Jogos Olímpicos, com a chegada de milhares de pessoas.
Segundo estimativa do Fórum Econômico Mundial, serão 90.500 pessoas envolvidas no evento esportivo, entre japoneses e estrangeiros. Destes, 11 mil são atletas.
Segundo dados da Johns Hopkins University foram registrados nesta segunda (19) 2.368 novos casos de Covid-19 no Japão. A média dos últimos sete dias é de 3.113 novos infectados.