A jornalista descobriu na corrida um esporte que faz bem para o corpo e para a mente
Estadão
O público se acostumou a ver Carol Barcellos nas grandes coberturas do esporte, como a Copa do Mundo, e também superando limites em aventuras incríveis. Ela não é atleta de alta performance, longe disso. É mãe, jornalista e as aventuras fazem parte dos desafios profissionais. No livro “Quebrando Limites” (editora Planeta), ela conta como faz para equilibrar tantas equações. “A corrida veio pela simplicidade e descobri ali um esporte que faz bem, muito mais do que para o meu corpo, faz bem para minha cabeça. A corrida me traz tranquilidade!”, explica Carol.
Carol trabalhou no SportTV e, desde 2008, atua como jornalista de esportes na TV Globo, onde apresentou o programa Planeta Extremo ao lado de Clayton Conservani. Tem uma filha, a Júlia, e dá palestras de motivação por todo o país. Para Carol, cada uma dessas aventuras com o Clayton, tem algo de muito especial. “Tenho muito carinho pela Maratona do Polo Norte. À época, minha filha tinha acabado de completar 1 ano, e essa maratona trouxe uma transformação na minha vida. Tudo mudou depois dela,profissionalmente e na minha vida pessoal. Depois dessa maratona me chamaram para fazer o Planeta Extremo com o Clayton e isso foi um dos maiores presentes da minha vida, depois da minha filha. Conheci lugares e pessoas que nunca imaginaria conhecer. Tem também a Ultramaratona do Atacama, pelo sofrimento, foi inesquecível. O mergulho em caverna na China também foi marcante. A vida foi muito boa comigo. Tenho 41 anos, tenho uma filha de 10 anos, e ainda quero viver muito. Acompanhar as descobertas dela, aplaudir. Mas quando olho para trás vejo que o saldo está legal. Vivi muita coisa boa, tenho muito a agradecer. No Atacama, passamos sete dias numa barraca, sem ter como tomar banho, mas pude ver o céu mais bonito da minha vida!”, lembra.
A maternidade trouxe um turbilhão de sentimentos. “A maternidade é uma jornada intensa, que a gente quer muito dar o melhor de nós. Claro, que temos limites, como todo mundo. Tudo que a Julia trouxe, despertou e me ensinou foi ter a chance linda de viver ao lado dela. Mas lido o tempo inteiro, como todas as mães com um sentimento, que para mim realmente é um desafio, que é a culpa. E não é fácil emocionalmente lidar com isso, levando em conta o tipo de vida que eu levo. Eu amo meu trabalho. Contar as histórias das pessoas, descobrir as histórias e estar em eventos esportivos. Tem muita paixão envolvida. Mas tem um elemento difícil de lidar, que é a distância. Fico um tempo fora de casa. Isso desde que a Julia nasceu. Eu brinco com ela, sou a melhor mãe que eu posso ser pra você, e você é a melhor filha que eu podia ter. Mas não tenho muito romantismo em relação à maternidade. Há várias formas de amar e ser feliz. Não acho que a felicidade passe por obrigações. A maternidade trouxe muito encanto para a minha vida, muita leveza”, conta Carol.
A Maratona de Jerusalém foi a primeira que ela fez depois que a Julia nasceu. E foi a segundamaratona de Carol. “Ela veio nesse formato de reportagem participativa. Quando me chamaram, a Julia estava com 10 meses, eu estava amamentando ainda. Foi um período bem louco – amentava, trabalhava e tentava voltar a treinar. Foi muito intenso mesmo. O Clayton foi comigo, teve um apoio. Estava muito feliz de estar ali. O primeiro ano da maternidade é um tempo de muita entrega. A prioridade é o filho. Essa maratona foi um momento só meu. E lembrei várias vezes do esforço que fiz para estar lá. E Jerusalém é um local de muita fé, e você sente isso. Foi bem legal essa corrida, tenho muito carinho por ela também”, recorda Carol.
E por causa de uma entrevista, com a maratonista Katherine Switzer, Carol começou a se dedicar a um projeto social – o Destemidas. Em 2017, ela foi para Boston (EUA) entrevistar Katherine por conta dos 50 anos, da primeira maratona de Boston corrida oficalmente por uma mulher. Katherine se inscreveu utilizando o sobrenome, e no meio da prova, quase foi retirada a tapas pela organização, pois maratonas eram proibidas para mulheres. À época a ciência apontava risco mortal para mulheres correr 42km. Katherine foi uma das mulheres que conseguiram mudar essa realidade. “Quando acabou a entrevista, comecei a agradecê-la por ter se arriscado tanto em prol das mulheres. E ela me disse: em vez de me agradecer, por que não devolve ao esporte tudo que ele te deu? A Katherine tem um projeto e resolvi desenvolver um no Brasil – o Destemidas, junto com a ONG Luta Pela Paz. O objetivo não é formar atletas de alta performance, mas trabalhar a confiança das mulheres, criar redes de apoio. Hoje temos um atendimento com psicólogo, nutricionista, preparador físico. Fácil, não é. Mas temos vontade de crescer muito”, explica Carol. O projeto busca promover o potencial de meninas e jovens utilizando o esporte de corrida como ferramenta de desenvolvimento pessoal e empoderamento de mulheres através de treinos de corrida, ocupação de espaços públicos para atividades de esporte e lazer e campanhas contra assédio sexual.