Atentados com explosivos deixam ao menos quatro mortes na Colômbia e ampliam tensão no país

Polícia registra 13 ataques, 4 deles com carros-bomba, na cidade de Cali e municípios vizinhos; ações ocorrem três dias após pré-candidato à presidência ser baleado

Joaquin Sarmiento/AFP
Pessoas observam prédios destruídos após a explosão de um carro em frente à Prefeitura de Corinto, no departamento de Cauca, Colômbia, em 10 de junho de 2025 Foto: Joaquin Sarmiento/AFP

Treze ataques com explosivos mataram ao menos quatro pessoas nesta terça-feira, 10, na cidade de Cali, na Colômbia, e municípios vizinhos nas regiões do Valle del Cauca e Cauca.

As explosões estão ligadas ao terceiro aniversário da morte de Leider Johany Noscué, ou Mayimbú, chefe do Columna Móvil Jaime Martínez, grupo armado dissidente das Forças Armadas Revolucionárias na Colômbia (Farc). O grupo atua nas regiões, no sudoeste colombiano, e mantêm um conflito contra o governo de Gustavo Petro.

Segundo informações, os ataques foram dirigidos contra a polícia. Pelo menos dois policiais foram mortos. Os outros dois mortos são civis.

Os ataques foram feitos com pelo menos quatro carros-bomba. Houve ataques sem vítimas fatais nos municípios de Buenos Aires, Morales, Timbiquí, Corinto, Patía e Toribío, no Cauca. Também houve ataques em Buenaventura e Jamundí, no Valle del Cauca.

Um possível ataque em Palmira foi interrompido a tempo após cilindros com pichações das extintas FARC serem encontrados na estrada do aeroporto.

Em Cali, a capital do Valle del Cauca, as autoridades fecharam ruas próximas às sedes da Polícia Metropolitana, da Terceira Brigada e do Governo do Valle do Cauca. A segurança foi reforçada nesses locais, e postos de controle especiais foram instalados para prevenir novos ataques.

O prefeito de Cali, Alejandro Eder, condenou os ataques, que descreveu como “uma onda de terrorismo”. “O fato de bombas estarem explodindo em Cali é extremamente grave. É essencial que as forças armadas e a polícia tenham o apoio e os recursos necessários para restaurar a ordem pública”, declarou ao Noticias Caracol.

O ministro da Defesa da Colômbia, Pedro Sánchez, declarou que os ataques são reação aos sucessos militares na região. “Estamos entrando em um centro nevrálgico das estruturas de Mordisco, tanto no Cânion de Micay quanto na Serra de Nariño. A maneira de tentar aliviar a pressão, já que não conseguem enfrentar as forças de segurança, é realizando atos terroristas”, declarou à Rádio Blu.

A governadora do Valle del Cauca, Dilian Francisca Toro, solicitou ao presidente Gustavo Petro, por meio de X, a convocação de um Conselho Extraordinário de Segurança “em vista da escalada do ataque terrorista”.

Ataque contra Miguel Uribe

Os ataques ocorrem três dias após o senador Miguel Uribe ter sido baleado em um comício na capital Bogotá.

O clima de tensão no país já era alto depois do episódio com Uribe. Pré-candidato à Presidência nas eleições de maio de 2026, ele está internado em estado grave após ter passado por uma cirurgia na cabeça e na perna. Segundo boletim divulgado pelo hospital, o senador apresenta “pouca resposta” ao tratamento médico.

Os atentados revivem o trauma da violência política dos anos 1980 e 90, em um momento em que a polarização está inflamada e os grupos armados do país voltam às armas.

Passados três dias dos tiros disparados contra Uribe, senador pelo Partido Centro Democrático, são poucas as informações concretas sobre o ataque, mas seu efeito paralisou a agenda política do governo do esquerdista Gustavo Petro e criou um temor sobre o retorno da violência contra políticos.

O que se sabe até o momento é que Uribe Turbay sofreu dois tiros na cabeça disparados por um adolescente de 15 anos durante um evento de pré-campanha em um bairro de classe média da capital, Bogotá. O adolescente está sob custódia, e as autoridades buscam descobrir quem foi o mandante do atentado e por quê.

A imprensa colombiana afirma que não existem indícios conhecidos que possam indicar quem e o quê estaria por trás do atentado. Antes de ser senador, Uribe Turbay foi secretário do governo e vereador de Bogotá.

Ele é filho da jornalista Diana Turbay, sequestrada e assassinada em 1991 pelo grupo narcoterrorista Extraditáveis, liderado por Pablo Escobar (a história foi retratada pelo escritor Gabriel García Márquez no livro Notícias de um Sequestro). Uribe tinha três anos na época.

A tragédia familiar está inserida na história do conflito armado da Colômbia, que surgiu nos anos 50 e tem evoluído ao longo do tempo. Nas décadas de 1980 e 90, com o aumento do narcotráfico, a violência política passou a envolver os cartéis de Medellín e Cali, grupos paramilitares de direita e guerrilhas como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o Exército de Libertação Nacional (ELN). As duas décadas ficaram marcadas por 220 mil mortos e 25 mil desaparecidos, além de numerosos atentados políticos.

Estadão

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