Reunião entre as duas lideranças antecede a cúpula do G20 e a COP26, com americano sob pressão de católicos dos EUA
Por Folhapress
CIDADE DO VATICANO | REUTERS
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, encontrou-se com o papa Francisco nesta sexta-feira (29) para uma conversa pautada na resposta global às mudanças climáticas, mas também influenciada pelo debate doméstico sobre o apoio do democrata aos direitos ao aborto.
A comitiva de Biden chegou ao Vaticano sob um forte esquema de segurança, ainda mais reforçado devido à escolha de Roma como a sede da cúpula do G20, o encontro das principais economias do mundo, neste fim de semana.
Em seus tradicionais uniformes coloridos, os guardas suíços responsáveis pela segurança dos líderes da Igreja Católica, receberam o presidente americano e sua esposa, Jill Biden, com uma saudação de honra no pátio do Palácio Apostólico. A bandeira dos EUA tremulava na varanda da residência oficial do papa Francisco.
“Muito obrigado, é bom estar de volta”, disse Biden a um dos funcionários do Vaticano. A outro oficial, que estava conversando com a primeira-dama, o democrata, em tom bem humorado, disse: “Sou o marido de Jill”.
O encontro entra o primeiro papa latino-americano e o segundo presidente católico a ocupar a Casa Branca ocorre em meio a um debate acirrado na igreja dos EUA, em que Biden sofre pressão de lideranças conservadores por sua posição em relação aos direitos das mulheres ao aborto.
O presidente americano vai à missa semanalmente e mantém uma foto do papa Francisco atrás de sua mesa no Salão Oval. Em nível pessoal, ele já manifestou sua oposição ao aborto, com a ressalva de que, como líder eleito democraticamente, não pode impor suas opiniões ao país que governa.
Na hierarquia da igreja, críticos mais fervorosos já disseram que Biden deveria ser proibido de receber a comunhão, um dos principais sacramentos da fé católica.
“Caro Papa Francisco, você afirmou com ousadia que o aborto é ‘assassinato’. Por favor, desafie o presidente Biden neste assunto crítico. O apoio persistente dele ao aborto é uma vergonha para a igreja e um escândalo para o mundo”, escreveu o bispo Thomas Tobin, do estado de Rhode Island, em uma publicação no Twitter.
O cardeal Raymond Burke, também um conservador, não mencionou Biden diretamente, mas escreveu em seu site sobre o “grave escândalo causado por alguns políticos católicos”.
“Eles têm, de fato, contribuído de forma significativa para a consolidação de uma cultura de morte nos EUA, na qual o aborto é simplesmente um fato da vida cotidiana”, disse Burke.
Em junho, a Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês) submeteu a votação uma resolução sobre como os líderes religiosos americanos devem lidar com políticos católicos, incluindo o presidente. O tema deve voltar à discussão no próximo mês, embora o Vaticano tenha advertido que isso semearia discórdia em vez de promover a unidade.
Questionado no mês passado, o papa Francisco disse a jornalista que considera o aborto um “assassinato”. O pontífice criticou, porém, a posição dos bispos católicos americanos por lidarem com o tema da comunhão de forma política, em vez de pastoral.
“Comunhão não é um prêmio para os perfeitos. Comunhão é um presente, a presença de Jesus e de sua igreja”, disse Francisco, acrescentando que os bispos devem usar “compaixão e ternura” com os políticos católicos que apoiam o direito ao aborto.
Apesar da pressão dos mais conservadores, a decisão final sobre permitir ou não que Biden (ou qualquer outro fiel) receba a comunhão cabe ao bispo responsável por cada diocese. No caso do democrata, que frequenta missas em Washington e em Wilmington, no estado de Delaware, a proibição é altamente improvável.