Mesmo com autorização para cruzar a fronteira, grupo teve de adiar na sexta-feira a viagem rumo ao Brasil

O GLOBO
O embaixador Alessandro Candeas, chefe do Escritório de Representação do Brasil em Ramallah, afirmou neste sábado que a entrada do grupo de 34 pessoas — 24 brasileiros, 7 palestinos com residência no país e 3 parentes — no Egito ainda depende da passagem de ambulâncias com feridos de Gaza. No entanto, segundo ele, a intensificação de ataques a hospitais da região mina a possibilidade de deslocamento do comboio.
“Monitorando a possibilidade de reabertura da fronteira. O pré-requisito para isto é a passagem de comboio de ambulâncias. Entretanto, até o momento, não há perspectiva para deslocamento desses veículos, pois há hospitais cercados e atacados, sem possibilidade de transferência de feridos do Norte para o Sul da Faixa. Nessas condições, ainda não há possibilidade de evacuação de estrangeiros pela passagem de Rafah”, destacou o diplomata.
A expectativa era alta e parecia que, finalmente, após dez dias de espera angustiante — ficando de fora de lista após lista — eles conseguiriam deixar para trás a Faixa de Gaza, sob pesado ataque israelense há mais de um mês. Com autorização emitida para a passagem de 33 dos 34 membros do grupo para o Egito no fim da noite de quinta-feira, e a inclusão da última que faltava horas depois, o drama se aproximava do fim. Bastava apenas esperar a abertura da fronteira pela manhã. No entanto, pelo terceiro dia consecutivo, a fronteira permaneceu fechada. E o grupo teve de adiar, por pelo menos mais um dia, a viagem rumo ao Brasil.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou na sexta-feira que, apesar de os brasileiros na Faixa de Gaza terem sido autorizados a deixar a região, a saída deles não aconteceu porque o posto de controle na fronteira com o Egito permaneceu fechado.
— Novamente não saíram, apesar de terem sido mobilizados até a região do posto de controle, não puderam passar porque o posto de controle não foi aberto. Estamos em contato com todas as partes e esperamos que esses nomes sejam autorizados a cruzar o mais rapidamente possível. Os nomes fazem parte da lista dos que foram autorizados a cruzar, mas até o momento nenhum desses nacionais de nenhuma nacionalidade cruzou nos últimos três dias — afirmou o ministro.
Sem data certa
Segundo Vieira, não é possível estimar quando eles poderão cruzar a fronteira por causa da situação de conflito em Gaza. Ele também disse que o governo trabalhou desde o começo para retirar brasileiros e que ele próprio falou em quatro ocasiões diferentes com o chanceler israelense, Eli Cohen.
— A passagem [para o Egito] é complexa porque fica aberta durante poucas horas por dia. Há entendimento que primeiro passa ambulância com feridos e só depois disso passam os nacionais de outros países. Foi o que aconteceu hoje, ontem e quarta. Não teve passagem de Gaza para o Egito por impossibilidade de terminarem de passar as ambulâncias — justificou o ministro.
Feridos têm prioridade
O embaixador do Brasil no Egito, Paulino Franco de Carvalho Neto, confirmou ao GLOBO que só algumas ambulâncias passaram durante o dia. Nenhum estrangeiro autorizado a deixar o enclave passou.
— Ninguém passou — afirmou ele.
Não é a primeira vez que isso acontece. Segundo fontes diplomáticas, enquanto as ambulâncias não passarem com os feridos, os estrangeiros não são autorizados a cruzar a fronteira, e há um limite de horário para que essa operação seja realizada. Ao longo do dia de sexta, apenas cinco veículos cruzaram a fronteira.
Segundo o embaixador, a equipe da embaixada deveria pernoitar na cidade egípcia de el-Arish, no Sinai, para onde o grupo será levado após cruzar a fronteira.
O chanceler Mauro Vieira afirmou esperar que a ordem de saída de nacionais seja mantida quando a fronteira for aberta, mas que será uma definição das duas partes.
— Esperamos e contamos com o fato de que, no momento que for aberta a passagem de Rafah, essa ordem de passagem seja mantida, com atraso de dois dias, três dias, mas que seja mantida. O ministro afirmou que o grupo que será repatriado estava na fronteira desde a manhã de sexta e foi levado para um alojamento próximo a Rafah providenciado pela embaixada brasileira a fim de esperar a abertura da passagem.
Interior de São Paulo
Segundo Vieira, o grupo em Gaza continuará recebendo auxílio do governo brasileiro enquanto permanecer na região, o que inclui uma casa perto da fronteira e dinheiro para comida. A operação de resgate prevê que desembarquem em Brasília e, em seguida, sejam levados para cidades onde têm familiares ou amigos.
O secretário Nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, disse na sexta que o governo federal irá providenciar abrigo no interior de São Paulo a 14 integrantes do grupo. Por questão de segurança, o governo não deu detalhes sobre a cidade.