Na capital, Washington, pequenas e reiteradas detonações foram ouvidas em algumas ruas e a fumaça subiu de uma área onde os manifestantes atearam fogo em reboques, observou um jornalista da AFP. Os ativistas também furaram pneus de carros e quebraram janelas de trailers. A polícia de choque enfrentou a multidão. Algumas pessoas usaram guarda-chuva para se proteger do spray de pimenta.
No sábado, a polícia de Seattle disse que 45 pessoas foram presas por episódios relacionados aos protestos, classificados como tumultos pelos agentes, segundo a conta oficial da corporação no Twitter. A chefe de polícia, Carmen Best, condenou os protestos. “Os agitadores não levaram em conta a segurança da comunidade, a segurança dos policiais, ou dos negócios e propriedades que eles destruíram”, afirmou, segundo os jornais locais.
Um confronto violento ocorreu depois que policiais e agentes federais dispararam gás lacrimogêneo e dispersaram manifestantes à força, ao sul de Portland, na manhã de sábado (25). A cidade, a maior do estado de Oregon, é palco de protestos noturnos contra o racismo e contra a brutalidade policial há quase dois meses.
Portland também é palco de uma repressão altamente polêmica, por parte dos agentes federais, ordenada por Trump e que não tem apoio das autoridades locais.
No sábado, os protestos começaram de maneira pacífica, com música, cantorias da multidão, e pessoas soltando bolhas de sabão e colando rosas vermelhas nas barricadas. Mas o ato terminou com gás lacrimogêneo, depois que manifestantes amarraram cordas às barricadas que cercavam o tribunal de Justiça da cidade e tentaram derrubá-las.
A polícia de Portland delimitou uma zona de “distúrbios” e ordenou que a multidão deixasse o local. Agentes federais ajudaram a esvaziar a área. Pelo menos dois homens foram detidos. De acordo com um comunicado da polícia de Portland, um homem foi esfaqueado, e o suspeito, “mantido pelos manifestantes”, foi detido em seguida por policiais e acusado de agressão. A vítima foi levada às pressas para o hospital com uma lesão grave.
O Departamento de Justiça americano disse ter aberto, na quinta-feira (23), uma investigação oficial sobre a repressão federal. Na sexta (24), porém, um juiz federal do Oregon rejeitou uma tentativa legal do estado de impedir policiais de prenderem manifestantes. Na semana passada, Trump anunciou o envio de um “mar” de agentes federais para lugares onde, segundo ele, há maior criminalidade – incluindo Chicago, após um aumento na violência na terceira maior cidade do país.
Para Portland, conflitos sociais e tumultos nas rua não são novidade. Essa cidade do estado do Oregon tem uma longa história de ativismo operário e de desafio à autoridade, mas também um sombrio passado segregacionista.
Assim, apesar de sua pequena população negra, Portland não foi uma inesperada cena dos protestos contra o racismo que assolam os Estados Unidos e que levaram o presidente Donald Trump a enviar agentes federais para diferentes cidades.
Os manifestantes se mobilizam quase todas as noites desde que o afro-americano George Floyd morreu sufocado sob o joelho de um policial branco em maio passado, em Minneapolis.
Com cerca de 650 mil habitantes, Portland começou a construir sua reputação de militância de extrema esquerda durante os agitados anos da década de 1960, como aconteceu com Seattle, ao norte, e San Francisco, mais ao sul.
E, desde a eleição presidencial de 2016, Portland simboliza a oposição mais virulenta contra Trump e seu Partido Republicano.
“Os políticos antiautoritários de esquerda (…) estão presentes na verdadeira cultura de protesto de Portland nos últimos 30 anos, ou mais”, afirmou o professor de Ciência Política Joe Lowndes, da Universidade de Oregon.
A cidade ganhou o apelido de “Little Beirut” (“Pequena Beirute”), em referência à longa guerra libanesa depois que o então presidente George H.W. Bush enfrentou barricadas, pneus em chamas e cânticos hostis.
“Mais recentemente, houve um tipo de trabalho antifascista nas ruas de Portland”, lutando contra grupos supremacistas brancos e de extrema direita, disse Lowndes.
Protestos e “ataques violentos” dos grupos de extrema direita contra os moradores de Portland surgiram em 2016, acrescentou o professor, levando a “uma ativa rede de ativistas antifascistas que foi crescendo nos últimos anos”.