Egito autoriza saída de brasileiros da Faixa de Gaza após um mês

Grupo de 34 brasileiros já está na passagem de Rafah, aguardando trâmites legais para entrar no Egito; grupo está desde o mês passado em casas alugadas pelo Ministério de Relações Exteriores no sul do enclave

Os passageiros atravessam a fronteira de Rafah, no Egito, com a Faixa de Gaza, em 9 de novembro de 2023, em meio às batalhas em curso entre Israel e o grupo palestino Hamas.  Foto: AFP

Estadão

Os 34 brasileiros que estavam no sul da Faixa de Gaza, nas cidades de Khan Younis e Rafah, receberam autorização para deixar o território comandado pelo grupo terrorista palestino Hamas rumo ao Egito nesta sexta, 10.

O grupo foi levado em ônibus para a o posto de fronteira de Rafah, onde está desde o começo da manhã (madrugada no Brasil) esperando os trâmites legais para sair. A fila para deixar o local é grande, por causa dos recentes fechamentos do local controlado pelo Cairo.

A lista inicial não incluía a avó de uma das brasileiras que havia sido registrada pelo Itamaraty, Shahed al-Banna, mas a questão foi resolvida.

O Itamaraty, que havia sido alertado por Israel de que a autorização viria, se mobilizou já na quinta, enviando diplomatas no Egito para receber o grupo, além de ter o avião da Presidência que fará o resgate autorizado a ir do Cairo para Al Arish, aeroporto a 50 km de Gaza.

Longo caminho de volta

Após a liberação da passagem de Rafah na fronteira com o Egito, as famílias de brasileiros que estavam na Faixa de Gaza e que serão repatriados terão um longo caminho por terra e, também, pelo ar até chegarem em Brasília.

Com a saída do grupo de Gaza nesta sexta-feira, 10, a chegada está prevista para o Brasil somente no domingo, 12.

Segundo a Embaixada do Brasil no Egito, assim que cruzarem a fronteira, será avaliada a necessidade de atendimento médico ainda em Rafah. Uma equipe do Itamaraty está sob aviso para recebê-los. O governo egípcio também montou um hospital de campanha para o atendimento dos estrangeiros.

No Egito, o grupo será recebido por uma equipe de diplomatas e pelo embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto.

A partir de Rafah existem duas possibilidades de trajeto: ir em um ônibus até o aeroporto de El Arish, que fica a 53 km de Rafah, para embarque no avião presidencial que já está no Egito à espera do grupo. A aeronave depois fará escalas no Cairo, Roma, Las Palmas, Recife antes da chegada no destino final em Brasília. Ou viagem até a cidade do Cairo em um ônibus. Neste caso, a previsão é que a viagem por terra dure entre cinco e seis horas.

O avião presidencial está no Aeroporto do Cairo à espera do grupo que será repatriado e também com autorização para decolar até o aeroporto de El Arish. Uma médica oficial da Aeronáutica também irá acompanhar as famílias no voo com destino ao Brasil.

Saída demorada

A liberação ocorre após promessa do chanceler de Israel, Eli Cohen, ao ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, na quinta-feira. Foram quatro tentativas de uma negociação para a saída dos brasileiros e seis listagens com cerca de 24 países que já haviam conseguido a concessão. Segundo fontes do Itamaraty, o grupo de brasileiros está desde o mês passado em casas alugadas pelo Ministério de Relações Exteriores em Rafah e Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, à espera de uma definição.

Na última sexta-feira, Israel prometeu incluí-los na lista de autorizações até esta quarta-feira, o que não aconteceu. Cohen justificou a Vieira que não foi possível cumprir a garantia por “fechamentos inesperados na fronteira”, segundo o Itamaraty.

Autoridades brasileiras afirmam que um ônibus, medicamentos e alimentos já estavam preparados para o transporte do grupo ao aeroporto do Cairo, no Egito, onde um avião da FAB aguarda para repatriá-los.

O Egito controla a única fronteira de Gaza que não tem limite com Israel, mas o posto de Rafah é submetido a rigorosos controles alfandegários e de pessoas. Após os atentados terroristas do Hamas no dia 7, o posto foi fechado e ninguém podia sair ou entrar no território palestino. No fim de semana, após um acordo negociado com a ajuda do Catar e dos Estados Unidos, o posto foi aberto para a entrada de ajuda humanitária. Nesta quarta, além da saída de estrangeiros, ambulâncias também recolheram feridos em Gaza.

Veja a listagem de países

  • Estados Unidos: 14 pessoas
  • Canadá: 265 pessoas
  • Romênia: 101 pessoas
  • Indonésia: 6 pessoas
  • Polônia: 26 pessoas
  • Brasil: 33 pessoas
  • Rússia: 82 pessoas
  • Índia: 7 pessoas
  • Albânia: 14 pessoas
  • China: 10 pessoas
  • Dinamarca: 5 pessoas
  • Alemanha: 8 pessoas
  • Holanda: 2 pessoas
  • Nova Zelândia: 12 pessoas
  • Malásia: 2 pessoas

Total: 587 pessoas

Relações estremecidas

Nos últimos dias, a relação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Israel esteve estremecida após o embaixador de Israel em Brasília, Daniel Zonshine, ter se envolvido em reuniões com parlamentares de oposição e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Declarações públicas sobre a suposta presença de representantes da milícia radical xiita Hezbollah no Brasil também incomodaram o executivo.

A insatisfação com as autoridades israelenses foi expressada publicamente pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, e pela Polícia Federal. Internamente, Itamaraty e Planalto também reconhecem o desconforto. Em nota, a embaixada de Israel disse que Bolsonaro apareceu sem ser convidado na reunião da Câmara e agradeceu ao governo brasileiro pela operação contra o Hezbollah. Apesar da irritação, uma eventual cobrança de explicações do diplomata só seria avaliada após a chegada dos 34 brasileiros.

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