Com participação alta, socialistas surpreendem e podem chegar a maioria no Parlamento sem recorrer a alianças com partidos menores
Por Estadão
LISBOA – O Partido Socialista de Portugal, liderado pelo primeiro-ministro António Costa, ganhou as eleições legislativas deste domingo, 30, e agora espera a definição dos 230 deputados do Parlamento para saber se terá maioria para governar sozinho ou se terá de se aliar a partidos menores. A maior participação eleitoral desde 2005 foi decisiva para o triunfo de Costa, que, nas últimas pesquisas de opinião, vinha empatado com o Partido Social-Democrata (PSD), de centro-direita.
Com 95% da apuração realizada, o PS tinha 42% dos votos, contra 29% do PSD. O terceiro partido mais votado foi o Chega, de extrema direita, com 7% dos votos. A Iniciativa Liberal, de centro-direita, ficou com 4,2%, em quarto, empatado com o Bloco de Esquerda. A aliança entre comunistas e verdes foi a sexta mais votada, com 4,1%
Os números indicam uma queda na preferência do eleitorado português pelos partidos de extrema esquerda que compunham a chamada “Geringonça”, a coalizão que manteve apoio a Costa no último mandato até que um desacordo sobre o Orçamento deste ano levou às eleições antecipadas deste domingo.
Costa afirmou neste domingo que os resultados provisórios dão uma clara vitória ao seu partido. “É um sinal de que os portugueses querem que o PS (Partido Socialista) governe e querem tranquilidade nas suas vidas”, disse à emissora estatal RTP após os primeiros resultados. “Há claramente não só uma vitória como um reforço da posição do PS”, insistiu Costa, que, embora tenha pedido para aguardar os resultados finais, considerava a vitória “já evidente.”
Costa, que chegou ao poder em 2015 após a crise da dívida de 2011-14, presidiu um período de crescimento econômico constante que ajudou a reduzir o déficit orçamentário e até mesmo a obter um pequeno superávit em 2019, antes da pandemia.
Caso os socialistas consigam os 118 assentos projetados pelas pesquisas de boca de urna, não precisará do apoio do Bloco de Esquerda e dos Comunistas. Os deputados eleitos para compor a Assembleia da República determinarão quem será o próximo primeiro-ministro de Portugal. Até a noite deste domingo, os socialistas já tinham garantido 81 deputados.
Participação recorde
Ao todo, mais de 10,8 milhões de eleitores foram convocados para votar no pleito, convocado pelo presidente conservador Marcelo Rebelo de Sousa após a dissolução do parlamento. O medo da abstenção, que em 2019 ultrapassou os 51%, marcou a reta final da campanha, realizada em meio a uma nova onda de infecções por covid-19 no país.
Ao longo do dia, candidatos de diferentes partidos e o próprio Rebelo apelaram à votação e garantiram que as condições sanitárias eram seguras para os eleitores. De acordo com dados iniciais do Ministério da Administração Interna, 45,66% da população apta a votar havia comparecido às urnas no meio da tarde, maior taxa registrada desde as eleições legislativas de 2015.
Cerca de 1 milhão de pessoas com mais de 18 anos estavam em confinamento domiciliar no domingo devido a infecções por covid-19, disseram autoridades de saúde. Eles foram excepcionalmente autorizados a votar.
Os eleitos devem encontrar um cenário desafiador. Além da nova onda de covid-19, Portugal enfrenta problemas em sua economia, que está ficando para trás do resto dos 27 países da UE desde 2000, quando seu PIB per capita era de 16.230 euros, em comparação com uma média da UE de 22.460. Em 2020, Portugal subiu para 17.070 euros, enquanto a média do bloco subiu para 26.380 euros . Hoje, Portugal é a nação mais pobre da Europa Ocidental.
O novo governo terá a responsabilidade de investir os 45 bilhões de euros recebidos da União Europeia para ajudar a estimular a economia após a pandemia de covid-19. Dois terços dessa quantia destinam-se a projetos públicos, como grandes infraestruturas, dando ao próximo governo uma bonança financeira. O outro terço será concedido a empresas privadas.
Um dos principais temas da campanha foi o salário mínimo, renda total de cerca de 900 mil trabalhadores portugueses. Este ano, o valor passou de 589 para 822 euros.
Durante a campanha, o premiê António Costa prometeu continuar aumentando o valor todo ano, até que ele chegue aos 1.000 euros em 2026.
Já o Partido Social Democrata focou em promessas de cortes no imposto de renda e mais ajuda para empresas privadas, reduzindo o imposto corporativo dos atuais 21% para 17% até 2024. /AFP, REUTERS, AP e EFE