Estratégia de Israel deve ser derrubar regime do Hamas

É impossível Netanyahu não responder com gravidade a ataques terroristas classificados por alguns como o 11/9 israelense

Primeiro ministro Benjamin Netanyahu fala em vídeo aos israelenses após ataques do Hamas — Foto: Reprodução

O GLOBO

Israelenses dormiram na sexta-feira sem imaginar que poderiam ser acordados no dia seguinte como alvos da maior ofensiva militar de uma organização palestina na História. A magnitude dos ataques terroristas do grupo extremista armado Hamas é inédita. Ninguém previa que o grupo, e seus aliados, possuíssem a capacidade de atacar os israelenses de uma forma tão bem planejada e sucedida. É um divisor de águas. Entre outras vitórias dos militantes estão milhares de foguetes contra múltiplos alvos, invasão ao território de Israel e relatos de soldados e civis reféns.

Ao mesmo tempo, houve enorme falha na área de segurança e de Inteligência de Israel. A avaliação era de que as forças israelenses controlavam a fronteira com Gaza. Ataques a partir do território palestino não iriam além do lançamento de foguetes contra vilas fronteiriças, sem provocar muitos estragos. Como foram pegos de surpresa desta forma? É algo que não ocorria desde a Guerra do Yom Kippur, há 50 anos — mais um motivo para os israelenses ficarem mais atentos. Uma vulnerabilidade gigantesca.

Israel já iniciou uma dura resposta aos ataques. Bombardeios começaram. Uma ação terrestre é mais complicada porque não está clara a quantidade de armadilhas em Gaza, além de precisar levar em consideração o risco para soldados e civis que capturados. Há informações de 57 israelenses reféns — ao longo dos anos, houve apenas um israelense capturado, em 2006, pelo Hamas, Guilat Shalit, trocado, cinco anos mais tarde, por mais de mil palestinos presos em Israel.

Para complicar, existe o risco de uma nova frente ser aberta a partir do Líbano com o Hezbollah, embora ainda não haja indicação de que isso vá ocorrer.

Há enormes diferenças entre o grupo libanês e o Hamas. O Hezbollah é baseado no Líbano, composto por libaneses de religião xiita. É incomparavelmente mais bem armado do que o Hamas e com capacidade bélica superior. Ao mesmo tempo, um braço do grupo integra o espectro político em Beirute. Conta com forte apoio dos xiitas libaneses, cerca de um terço da população. Mas cristãos de diferentes denominações, sunitas e drusos adotam postura contrária ao grupo, que ficou mais impopular nos últimos anos. Um dos temores é sugar o Líbano para um conflito desnecessário com Israel.

Não podemos descartar também uma escalada da violência na Cisjordânia, com embates entre palestinos e colonos israelenses. É um cenário distinto de Gaza porque a região tem uma presença militar israelense forte, além de centenas de milhares de colonos que habitam assentamentos. A administração das cidades está nas mãos da Autoridade Palestina, controlada pelo Fatah, rival do Hamas.

No contexto de Gaza, não há a menor possibilidade de cessar-fogo. O premier israelense, Benjamin Netanyahu, precisará provar para a população que Israel está seguro. Neste momento, o ideal seria a formação de um governo de coalizão nacional, com a inclusão da oposição, como parece ser o caminho a ser seguido pelo primeiro-ministro em suas declarações. Todas as medidas de política doméstica, como a tentativa de enfraquecimento da Suprema Corte, devem ser suspensas. Uma vez terminado o conflito, e não temos ideia de quando isso poderá ocorrer, Israel precisará investigar como pode ter ocorrido uma falha tão grande de Inteligência e segurança.

No campo militar, a estratégia israelense em outros conflitos em Gaza, o “aparar a grama”, reduzindo o poderio bélico do Hamas em bombardeios até o grupo, anos depois, conseguir recompor o seu arsenal, não funcionou. A organização demonstrou estar mais poderosa do que nunca.

A tendência de Israel é partir para mudança de regime na Faixa de Gaza. Para atingir este objetivo, e diante de uma Autoridade Palestina enfraquecida, os israelenses precisariam reocupar o território de onde se retiraram em 2006, o que produzirá enormes efeitos colaterais. Ainda assim, no Oriente Médio apenas se entende a linguagem da força. Qualquer demonstração de fragilidade pelos israelenses neste momento será usada por seus adversários.

As nações árabes que mantêm boas relações com Israel devem insistir e talvez até negociar um cessar-fogo no futuro. Neste momento, não há como ir além da retórica. É simplesmente impossível que Israel não responda aos ataques classificados por alguns como o 11 de Setembro israelense. As principais potências ocidentais estão integralmente ao lado dos israelenses e tratam como terrorismo o que aconteceu. E há sinal verde de Washington para Israel responder da forma que quiser.

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