Os 31 Abrams não deverão, contudo, chegar a tempo para fazer diferença na contraofensiva
Folha de São Paulo
Os Estados Unidos anunciaram nesta segunda (7) que os 31 tanques pesados prometidos à Ucrânia em janeiro estão prontos para serem enviados à Europa, mas não devem chegar a tempo para fazer alguma diferença na contraofensiva de Kiev contra a invasão russa do país.
“Eles estão prontos. Agora, precisam ir para a Europa e, de lá, para a Ucrânia, com todas as coisas que vão com eles. Munição, peças sobressalentes, equipamento de combustível, instalações de reparo. Não são só tanques, é o pacote todo que vai com eles”, afirmou o chefe de aquisições do Exército, Doug Bush.
Ele não detalhou nada acerca de treinamento de pessoal para operar os blindados, do modelo M1A1 Abrams. Presume-se que os operadores, que estão sendo ensinados desde maio na Alemanha, estejam prontos até a chegada dos 31 veículos, que se somarão aos tanques alemães Leopard-1 e 2 e aos britânicos Challenger-2, enviados para uso na contraofensiva.
Se entrarem em combate, serão os primeiros tanques pesados americanos a enfrentar diretamente os russos. Eles foram retirados dos estoques americanos, que têm cerca de 2.000 modelos M1A1 e M1A2, mais moderno, e passaram por uma reforma.
Com 56 toneladas a depender do modelo, os M1A1 são bastante pesados para operar em certos terrenos. Um problema adicional é que seu motor a turbina, semelhante ao usado pelo russo T-80, consome horrores de combustível, tornando sua logística mais complexa, como os próprios americanos argumentavam.
Politicamente, contudo, o governo de Joe Biden acelerou o processo de reforma dos blindados para dar uma resposta a Kiev, que reclama ter recebido material insuficiente para fazer avançar sua contraofensiva. Nesta segunda, o presidente Volodimir Zelenski voltou a dizer que os ganhos são lentos, “mais do que muitos gostariam”.
Os M1A1 são, no contexto de uma guerra que está vendo russos tirarem até modelos dos anos 1960 de estoques para usá-los como armas kamikaze, armas poderosas. Foram os tanques mais produzidos do modelo Abrams, que teve três gerações desde 1979 —cerca de 5.000 unidades de 1985 a 1992, quando M1A2 foi introduzido.
O Pentágono afirma que foram feitos “upgrades” no tanque, equivalendo-o à versão mais moderna em vários aspectos. O número enviado, contudo, beira o simbólico. Até aqui, os americanos enviaram em maior quantidade blindados mais leves Bradley e Stryker, para ficar nessa categoria de armas.
Washington prometeu os tanques pesados no mesmo dia em que a resistência da Alemanha a autorizar a exportação de seus Leopard expirou, 25 de janeiro deste ano. Até aqui, Berlim enviou boa parte dos 88 Leopard-1A5, versão mais antiga do seu produto. Do Leopard-2, alemães e outros europeus forneceram cerca de 70, 21 dos quais modelos mais recentes.
Segundo o site de perdas militares Oryx, já foram perdidos 14 desses Leopard-2, 8 deles dos mais avançados. Os próximos lotes prometidos só devem chegar no ano que vem, quando o destino da contraofensiva já será conhecido. Não se sabe se os Challenger-2, tanques ainda mais pesados (62,5 t), foram usados.
Kiev tem guardado os tanques ocidentais, superiores aos seus T-72 e T-64 soviéticos, para movimentos mais agressivos. O problema, como está colocado, é que seu avanço mal superou a primeira linha de defesa russa, de em geral três, e apenas em pontos isolados da frente de 1.000 km.
Hoje, os EUA operam 1.605 Abrams M1A1 e 2.105 M1A2, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (Londres). Eles foram exportados a diversos países, mais recentemente à Polônia, que tem subido o tom de sua hostilidade com a Belarus, ditadura aliada de Vladimir Putin.
Os modelos enviados a Kiev têm um canhão de 120 mm e levam tripulação de quatro soldados por até 450 km de distância. Foram amplamente usados nas guerras americanas desde os anos 1980, como a do Golfo (1991), do Afeganistão (2001-21) e Iraque (2003-11). A Arábia Saudita empregou o tanque na Guerra Civil do Iêmen, e o Iraque, contra o Estado Islâmico.