Trump tem defendido que o pacto proporcionará um incentivo econômico para que os EUA continuem investindo na defesa e na reconstrução do país devastado pela guerra

Os Estados Unidos e a Ucrânia anunciaram a assinatura de um acordo para compartilhar as receitas da futura venda de minerais e terras raras ucranianos. O presidente Donald Trump tem defendido que o pacto proporcionará um incentivo econômico para que os EUA continuem investindo na defesa e na reconstrução da Ucrânia após eventual acordo de paz com a Rússia.
Após meses de tensas negociações, o acordo sobre minerais estabelecerá um Fundo de Investimento para a Reconstrução entre EUA e Ucrânia. Segundo o governo americano, o pacto ajudará a reembolsar cerca de US$ 175 bilhões em ajuda prestada à Ucrânia desde o início da guerra.
“Este acordo sinaliza claramente à Rússia que o governo Trump está comprometido com um processo de paz centrado em uma Ucrânia livre, soberana e próspera a longo prazo”, disse o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent.
A ministra da Economia da Ucrânia, Yulia Sviridenko, disse que o acordo “reflete a dedicação dos EUA à segurança, recuperação e reconstrução” de seu país. “O documento que temos hoje pode garantir o sucesso para ambos os nossos países”, disse.
A versão mais recente do acordo, analisada pelo jornal Washington Post, não chega a fornecer nenhuma garantia concreta de segurança à Ucrânia, mas a linguagem utilizada por si só já representa uma vitória para Kiev, que tem buscado qualquer demonstração de apoio dos EUA desde que a relação entre os dois países se tornou instável sob o governo Trump. A Ucrânia buscará garantias de segurança mais tangíveis em qualquer futuro acordo de paz.
Este acordo não faz menção à usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior instalação desse tipo na Europa, que a Rússia tomou no início de 2022 e agora ocupa. Autoridades americanas propuseram assumir o controle da usina como parte de um futuro acordo para encerrar a guerra.
Inicialmente, a Ucrânia negociou sua vasta riqueza mineral como uma possível oportunidade de investimento em um plano apresentado pelo presidente Volodmir Zelenski em setembro. Mas uma versão inicial do acordo, apresentada a Zelenski por Bessent em fevereiro, oferecia muito pouco à Ucrânia e descrevia o pacto como um meio para Washington recuperar o custo de sua ajuda militar ao país invadido.
Zelenski recusou-se a assinar o documento, insistindo que não concordaria com nenhum documento que reclassificasse a ajuda como dívida. Ele também criticou a falta de formulação dessa versão em relação à segurança futura da Ucrânia.
Autoridades ucranianas então reescreveram o acordo e pretendiam assinar uma versão inicial diferente quando visitassem Washington em fevereiro. O plano deu errado quando Trump e o vice-presidente J.D. Vance criticaram Zelenski ao vivo na TV no Salão Oval, antes de cancelar o restante de sua visita à Casa Branca.
Desde então, a falta de acordo pairava sobre as negociações de paz dos EUA com a Ucrânia em separado com a Rússia. Trump, que se orgulha de ser um negociador, tem ficado cada vez mais impaciente, escrevendo em sua rede social Truth Social na semana passada que o acordo mineral “está com pelo menos três semanas de atraso”.
Um ucraniano familiarizado com o processo disse que, apesar dos relatos de desacordo generalizado, as discussões foram produtivas e ambos os lados ouviram os argumentos um do outro./COM W. POSTO, AFP E AP
Estadão