Zelenski chega a Riad para negociações e oferece cessar-fogo aéreo e marítimo; conversas começarão na terça-feira, 11

Um dia antes do início formal das negociações entre EUA e Ucrânia em Riad, na Arábia Saudita, para pôr fim à guerra com a Rússia, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, disse que Kiev terá de ceder parte de seu território a Moscou, em relação ao que eram as fronteiras do país em 2014. O diplomata também afirmou que o Kremlin terá de fazer concessões, sem especificar quais.
O futuro dos territórios ucranianos ocupados pelo Kremlin no leste do país, que incluem as províncias de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhya, além da Península da Crimeia, anexada em 2014, são um dos principais impasses entre Volodmir Zelenski e Vladimir Putin.
“Acho que os dois lados precisam chegar a um entendimento de que não há solução militar para essa situação. A coisa mais importante com a qual temos que sair daqui é uma forte sensação de que a Ucrânia está preparada para fazer coisas difíceis, assim como os russos terão que fazer coisas difíceis para acabar com esse conflito ou, pelo menos, interrompê-lo de alguma forma”, disse Rubio.
“Os russos não podem conquistar toda a Ucrânia e, obviamente, será muito difícil para a Ucrânia, em qualquer período de tempo razoável, forçar os russos a voltarem para onde estavam em 2014″, acrescentou
O corte temporal usado por Rubio na declaração, com referência indireta à anexação da Crimeia, pode sinalizar uma perda menor de território para a Ucrânia que as quatro províncias ocupadas atualmente, mas o diplomata se recusou a dar detalhes das possíveis concessões.
Segundo com a revista britânica The Economist, a Ucrânia provavelmente avisará que não aceitará nenhum acordo que limite sua capacidade de rearmamento, que a force a reconhecer os territórios ocupados por Moscou como parte da Rússia ou que interfira na política interna ucraniana
Zelenski chegou nesta tarde à Arábia Saudita. Segundo membros do governo ucraniano, Kiev deve sugerir no encontro uma proposta para uma trégua no ar e no mar por serem mais fáceis de implementar e monitorar. Rubio considerou a proposta promissora para um primeiro passo para o fim das hostilidades.”Não digo que seja suficiente, mas é o tipo de concessão que se necessita para pôr fim ao conflito”, declarou.
Aproximação entre Rússia e EUA
Desde que o presidente Donald Trump retornou à Casa Branca em janeiro, os EUA têm se reaproximado da Rússia de Vladimir Putin. Como parte de sua agenda para pôr fim à guerra, o republicano abriu negociações com o Kremlin sem incluir ucranianos e europeus e pressionou Kiev a ceder direitos de exploração sobre suas riquezas minerais para custear a ajuda militar americana ao país.
Antes do carnaval, Trump e Zelenski se reuniram na Casa Branca para assinar o acordo mineral, mas os dois se desentenderam sobre o papel da Rússia no conflito e bateram boca em pleno Salão Oval. Após a reunião, Washington suspendeu a ajuda militar e parou de compartilhar dados de inteligência com Kiev. Nos últimos dias, já sem essas informações, a Ucrânia sofreu pesados ataques russos dentro do país e na área que ocupa em Kursk, dentro da Rússia.
Segundo uma fonte do governo ucraniano, se os Estados Unidos continuarem omitindo as informações de inteligência de Kiev, a Rússia ganhará uma “vantagem significativa” no campo de batalha. O chefe das Forças Armadas ucranianas, Oleksandr Sirski, anunciou nesta segunda-feira que Kiev vai “reforçar” o contingente militar que luta na Rússia.
Avanço militar russo
Enquanto isso, no front de batalha, forças russas estão tentando cruzar a fronteira e se firmar na província ucraniana de Sumy, à medida que avançam em uma contraofensiva com o objetivo de eliminar a última posição de Kiev na região russa de Kursk. Andrei Demchenko, porta-voz da guarda de fronteira do estado ucraniano, disse à televisão nacional que as forças russas estavam tentando avançar em torno da aldeia ucraniana de Novenke e cortar as linhas de abastecimento.
“Essas são pequenas unidades de assalto, compostas por poucas pessoas. Eles tentam penetrar em nosso território, acumular forças e avançar ainda mais na Ucrânia, provavelmente para cortar as rotas logísticas”, disse ele.
Embora Moscou esteja tentando expulsar as forças ucranianas desde agosto, depois que Kiev tomou cerca de 1.000 km² do território russo em um ataque surpresa, um grupo de especialistas observou que sua taxa de sucesso melhorou drasticamente nos últimos dias.
Na arena diplomática, Zelenski ainda tenta reatar os laços com Trump. O mandatário ucraniano, que também se encontrará com o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, acrescentou que a Ucrânia busca “a paz desde o primeiro segundo da guerra”. “Sempre dissemos que a única razão da guerra continuar é a Rússia”, disse ele em seu canal no Telegram.
De acordo com o enviado dos EUA para o Oriente Médio, Steve Witkoff, a reunião deve definir uma estrutura para um acordo de paz e um cessar-fogo inicial entre Rússia e Ucrânia, após mais de 3 anos de conflito./ NYT, AFP E AP
Estadão