A CNN confirmou que o material é autêntico, gravado secretamente durante uma reunião do partido Forza Italia
CNN Brasil
O ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi provocou polêmica nesta semana quando o áudio divulgado pela agência de notícias italiana LaPresse revelou o homem de 86 anos falando sobre seu relacionamento “reestabelecido” com o presidente russo, Vladimir Putin.
Berlusconi diz no áudio que Putin lhe enviou 20 garrafas de vodka e uma “carta muito doce” em seu aniversário no mês passado.
Seu escritório confirmou à CNN na quinta-feira (20) que os materiais eram autênticos – aparentemente gravados secretamente durante uma reunião do partido Forza Italia de Berlusconi na câmara parlamentar na terça-feira (18.out.2022).
“Enviei a ele garrafas de Lambrusco (vinho espumante italiano) e uma carta igualmente doce”, diz Berlusconi no clipe de áudio LaPresse. Ele também diz que “restabeleceu relações com o presidente Putin” e continua se gabando de que o líder russo o chamou de “o primeiro de seus cinco verdadeiros amigos”.
Um porta-voz do partido negou que Berlusconi estivesse em contato com Putin, dizendo que o ex-primeiro-ministro estava contando aos parlamentares “uma velha história referente a um episódio de muitos anos atrás”.
No entanto, no áudio do LaPresse, pode-se ouvir Berlusconi dizendo que Putin “era contra qualquer iniciativa” de guerra contra a Ucrânia. Os comentários levantaram sobrancelhas entre os observadores ucranianos, já que Berlusconi deve fazer parte do novo governo de coalizão da Itália liderado pela ultraconservadora Giorgia Meloni – que tem sido firme em seu apoio à Ucrânia.
Berlusconi também é ouvido no clipe de áudio conversando com membros de seu partido e parecendo culpar a Ucrânia pela invasão da Rússia: ninguém ataca o outro”, diz ele. “A Ucrânia joga este tratado no inferno um ano depois e começa a atacar as fronteiras das duas repúblicas. Ambas as repúblicas sofreram perdas entre os militares”.
“Não nego minha antiga amizade”
O governo ucraniano em Kiev afirma que as duas regiões separatistas estão, na verdade, temporariamente ocupadas pelos russos. As repúblicas autodeclaradas não são reconhecidas por nenhum governo internacional, exceto a Rússia e alguns de seus aliados.
“Desesperadas, as duas repúblicas… enviaram uma delegação a Moscou… e finalmente conseguiram falar com Putin. Eles dizem: ‘Vladimir, não sabemos o que fazer, você (tem que) nos defender’”, diz Berlusconi no áudio.
“(Putin) se opõe a qualquer iniciativa (de atacar a Ucrânia), ele resiste. (Depois) enfrentando forte pressão de toda a Rússia, ele decidiu inventar uma operação especial: as tropas (russas) entram na Ucrânia, chegam a Kiev em uma semana, derrubam o governo em exercício, (presidente ucraniano Volodymyr) Zelensky, etc., e estabelecer um governo já escolhido pela minoria ucraniana de pessoas boas e de bom senso, e uma semana para as tropas retornarem à Rússia”.
Na gravação, pode-se ouvir Berlusconi dizendo: “Ele (Putin) entrou na Ucrânia e se viu diante de uma situação inesperada e imprevisível de resistência dos ucranianos, que começaram a receber dinheiro e armas do Ocidente no terceiro dia (da guerra) e o conflito, em vez de ser uma operação de duas semanas, tornou-se uma guerra de dois séculos. Então, esta é a situação da guerra na Ucrânia”.
Ele também duvida que “Putin e Zelensky possam se sentar em uma mesa de mediação. Porque não há caminho possível”, de acordo com o áudio do LaPresse.
Berlusconi defendeu seus comentários em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera na quinta (20). “Tudo foi tirado do contexto. Ele circulou sem saber o significado global das minhas palavras. Com o único escopo de espalhar desinformação e mentiras”, disse.
“Não nego minha antiga amizade com Vladimir Putin, que trouxe resultados importantes, que foram alcançados em pleno acordo com nossos aliados ocidentais… Mas hoje as circunstâncias mudaram.”
*Com informações de Valentina Di Donato e Sharon Braithwaite