A passagem de Rafah tem contado com centenas de voluntários e caminhões esperando há dias para ajudar região palestina
Estadão
A passagem de fronteira de Rafah, que liga a Península do Sinai, no norte do Egito, à Faixa de Gaza abriu seus portões neste sábado, 21, para permitir a entrada de carga de ajuda humanitária aos palestinos pela primeira vez desde que Israel isolou o território após o sangrento ataque do Hamas há duas semanas.
Centenas de voluntários e mais de 200 caminhões carregando cerca de 3 mil toneladas de ajuda estão fazendo fila para ter acesso à passagem há dias. Embora o número total seja maior, apenas 20 caminhões da Cruz Vermelha, responsável pelo transporte da ajuda de várias agências da Organização das Nações Unidas (ONU), entraram no terminal egípcio até o momento. Do lado palestino, 36 semirreboques vazios entrarem no terminal, em direção ao Egito, para carregar ajuda.
O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou na quarta-feira um acordo com o Egito para permitir um primeiro comboio de até 20 caminhões carregados com remédios, alimentos e água. Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, “estes caminhões não são apenas caminhões, são salva-vidas, [que] fazem a diferença na vida ou na morte”.
Centenas de portadores de passaportes estrangeiros também esperavam para atravessar de Gaza para o Egito para escapar do conflito. Os trabalhadores humanitários no lado egípcio da travessia podiam ser vistos cantando e batendo palmas enquanto os caminhões passavam pelo portão principal de Gaza.
Em 9 de outubro, Israel impôs um “cerco total” à Faixa de Gaza, controlada pelo movimento terrorista do Hamas, que dois dias antes lançou uma incursão sem precedentes em solo israelita, que já deixou mais de 1.400 mortos, a maioria civis, segundo as autoridades israelenses. O exército israelita matou cerca de 1.500 combatentes do Hamas na sua contra-ofensiva para recuperar o controle das áreas atacadas no sul do país.
Dentro da Faixa de Gaza, mais de 4.100 palestinos, a maioria civis, foram mortos em incessantes bombardeios retaliatórios israelenses desde 7 de outubro, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas.
Os 2,3 milhões de palestinos de Gaza, metade dos quais fugiram de suas casas, estão racionando alimentos e bebendo água suja. Os hospitais dizem que estão ficando sem suprimentos médicos e combustível para geradores de emergência em meio a um apagão de energia em todo o território.
Enquanto isso, havia indicações de que a passagem de Rafah, entre o Egito e Gaza, seria aberta em breve para permitir a entrada de ajuda humanitária.
A Embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém disse que tinha informações de que Rafah abriria ainda no sábado para que estrangeiros saíssem de Gaza, mas anúncios anteriores semelhantes se mostraram prematuros.
A abertura ocorreu após mais de uma semana de diplomacia de alto nível por vários mediadores, incluindo visitas à região pelo presidente dos EUA, Joe Biden, e pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. Israel havia insistido que nada entraria em Gaza até que cerca de 200 pessoas capturadas pelo Hamas fossem libertas, e o lado palestino da passagem havia sido fechado por ataques aéreos israelenses.
A liberação ocorreu e Israel disse na sexta-feira, 20, que não planeja assumir o controle de longo prazo sobre o minúsculo território.
Americanas libertas
A abertura ocorreu horas depois que o Hamas libertou uma mulher americana e sua filha adolescente, as primeiras de cerca de 200 prisioneiros a serem libertos após a incursão do grupo militante em Israel, em 7 de outubro. Não ficou imediatamente claro se havia alguma conexão entre os dois.
O Hamas disse que libertou Judith Raanan e sua filha de 17 anos, Natalie, por razões humanitárias em um acordo com o Qatar, uma nação do Golfo Pérsico que tem servido frequentemente como mediadora no Oriente Médio.
As duas estavam em uma viagem de sua casa no subúrbio de Chicago a Israel para comemorar os feriados judaicos, disse a família. Elas estavam no kibutz de Nahal Oz, perto de Gaza, em 7 de outubro, quando o Hamas e outros terroristas invadiram as cidades do sul de Israel, matando centenas de pessoas e sequestrando outras 203.
A família não teve mais notícias delas desde o ataque e, mais tarde, foram informados por autoridades americanas e israelenses que elas estavam presas em Gaza, disse Ben, irmão de Natalie.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que transportou as americanas libertadas de Gaza para Israel, disse que a libertação delas era “uma ponta de esperança”. Parentes de outros prisioneiros saudaram a libertação e fizeram um apelo para que mais pessoas fossem libertas.
O Hamas disse em um comunicado que estava trabalhando com mediadores “para encerrar o caso” dos reféns, se as circunstâncias de segurança permitissem. O grupo acrescentou que está comprometido com os esforços de mediação do Egito, do Catar e de outros países. O Catar disse que continuaria seu diálogo com Israel e com o Hamas na esperança de ganhar./AP, AFP e EFE