Grupos antiditadura em Belarus pulverizam protestos para driblar repressão.

Polícia cercou centro de Minsk e prendeu ao menos 250 neste domingo no país; grupo de hackers ameaça sites do regime.

Manifestantes se abraçam para tentar impedir detenções durante o 34º dia seguido de protestos contra a ditadura na Belarus. /Vadim Zamirovski / TUT.BY / AFP.

Por Folha de São Paulo 

Apesar do grande número de tropas nas ruas de Minsk neste domingo,  bielorrussos que protestam contra a ditadura desafiaram as proibições e fizeram nova marcha na cidade, no 36º dia seguido de manifestações na Belarus.

À decisão do regime do ditador Aleksander Lukachenko de elevar o número de tropas na capital, bielorrussos responderam com manifestações maiores em outras cidades do país. O governo registrou 17 focos de protesto.

Em Minsk, os manifestantes alteraram rotas e pulverizaram protestos pela cidade, segundo relatos feitos à Folha por telefone e rede social. Veículos de informação locais falam em dezenas de milhares de participantes.

Ao menos 250 pessoas foram presas, segundo balanço parcial divulgado pelo Ministério do Interior (respnsável pela segurança) às 15h (horário local, 9h no Brasil).

A partir desse horário, a internet começou a falhar na capital. A agência oficial afirmou que a largura de banda da internet móvel foi reduzida, o que dificulta a transmissão de dados e pode interromper o serviço.

A repressão usou arame farpado para isolar ruas em Minsk e canhões d’água para dispersar manifestantes em várias cidades do interior.

Em Zhodzino, um policial bateu no rosto de uma mulher com tanta força que ela caiu no chão, provocando revolta nos que participavam do protesto.

Além das marchas nos finais de semana, os bielorrussos têm feito “protestos internos” nos pátios e jardins comuns dentro de superquadras de prédios de apartamento.

Há campanhas inusitadas, como pendurar de forma alternada peças de roupa vermelha e branca —uma foto com três calcinhas formando a bandeira antiditadura viralizou nas redes sociais.

Brinquedos dos parquinhos, cercas e bancos de jardim são pintados de branco e vermelho (cores da bandeira histórica, que virou símbolo da oposição à ditadura.

No bloco de Sônia (que preferiu não dizer o sobrenome), em um bairro de Minsk, fitas brancas e vermelhas foram amarradas por toda a extensão do jardim interno.

Cartazes com críticas ao ditador Aleksandr Lukachenko e frases de apoio aos manifestantes também são comuns. “Nosso movimento não tem líderes. Nós somos a rua”, e “Três cabeças surgirão a cada cabeça cortada” são algumas delas.

A violência crescente do governo contra as mulheres começou a provocar reações femininas. Em alguns pontos, elas arrancaram máscaras dos policiais e investiram contra eles para tentar impedir que manifestantes fossem arrastadas para dentro dos camburões. ​
Uma das figuras mais ativas nessa luta contra as detenções é a ativista Nina Bahinskaia, 73, que ficou conhecida como a “bisavó dos protestos”.

Apesar das reações, foram detidas 114 pessoas (99 na capital), segundo o governo.

Algumas manifestantes trocaram flores e fitas por panelas e frigideiras.

“Quanto mais eles tentarem nos calar, mais barulho faremos”, disse Sônia.

As manifestantes também pediam a libertação de Maria Kalesnikava, líder da oposição detida desde 8 de setembro, quando frustrou uma tentativa da ditadura de tirá-la à força do país.

Ao menos dois jornalistas, da TV Belsat, foram detidos no sábado. Desde o começo dos protestos, policiais têm levado repórteres mesmo que eles estejam credenciados e identificados.

À noite, um grupo de hackers soltou um comunicado ameaçando invadir o sistema da Receita da Belarus se houvesse repressão no domingo.

“Se pelo menos um manifestante for detido em 13 de setembro de 2020, a Belarus vai esquecer o que são os impostos até que as prisões parem e Lukashenka deixe seu posto”, disse o comunicado.

Na semana passada, hackers invadiram o site do Ministério do Interior, responsável pela segurança no país, e estamparam mensagens de apoio aos oposicionistas.

No novo comunicado, prometeram uma resposta “dolorosa” ao governo: “Primeiro vai cair o sistema tributário, depois vai acabar a eletricidade no país, depois vai cair o sistema bancário”.

Eles também exigiram que Lukachenko pedisse desculpas pessoalmente, por alto-falante, à população do país.

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