Índia bombardeia alvos no Paquistão e na Caxemira; maior conflito de duas potências nucleares depois de 6 anos

Ataque escala tensões entre os dois países vizinhos, que possuem armas nucleares; Índia diz que alvos foram ‘infraestruturas terroristas’

M.d. Mughal/Associated Press
Ataques a bombas em Muzaffarabad, capital da parte da Caxemira controlada pelo Paquistão, após bombardeio da Índia.  Foto: M.d. Mughal/Associated Press

A Índia anunciou nesta terça-feira, 6, que bombardeou alvos no Paquistão e na região da Caxemira. Os disparos colocam as duas potências nucleares em conflito direto pela primeira vez em seis anos.

Após dias de tensão entre os países, a Índia anunciou o ataques direcionados contra “infraestruturas terroristas”, em resposta ao atentado que matou 26 turistas na parte da Caxemira controlada por Nova Délhi.

O comunicado das forças armadas da Índica afirma que nenhuma nenhuma instalação militar do Paquistão foi atingida, caracterizando o bombardeio como “focado, medido e de natureza não escalonada”.

Mas o Paquistão condenou rapidamente o ataque. “A Índia atacou descaradamente a população civil, e o ataque será respondido à altura”, disse o ministro da Defesa paquistanês, Khawaja Asif, em rede nacional de televisão.

Segundo informações do Tenente-General, Ahmed Sharif, porta-voz das Forças Armadas, 26 pessoas foram mortas nos ataques com mísseis e outros cinco civis também morreram ao longo da Linha de Controle por fogo de artilharia.

O primeiro-ministro Muhammed Shehbaz Sharif disse em um comunicado que “o Paquistão tem todo o direito de dar uma resposta adequada a esse ato de guerra imposto pela Índia e uma resposta adequada está sendo dada”.

Na Índia, pelo menos sete civis foram mortos e outros 30 ficaram feridos nos tiros e bombardeios paquistaneses em vários pontos da Linha de Controle.

Autoridades militares do Paquistão disseram que cinco locais foram atingidos, na parte da Caxemira que controla e na província de Punjab. Embora a Índia tenha disparado contra a parte paquistanesa da Caxemira em períodos de maior tensão nos últimos anos, o ataque em Punjab, fora da região disputada, representou uma escalada.

Diante da crise, o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, disse em um comunicado que o secretário-geral Antonio Guterres está pedindo moderação aos dois países. “O mundo não pode se permitir um confronto militar entre a Índia e o Paquistão”, afirma.

A Índia culpa o Paquistão por apoiar grupos separatistas da Caxemira — alegações que Islamabad nega. A região, de maioria mulçumana, é dividida entre os dois países, mas insurgentes na parte indiana lutam contra o domínio de Nova Délhi desde 1989

Em 2019, outro ataque dos rebeldes na Caxemira desencadeou uma breve batalha aérea ao longo da Linha de Controle, que divide a região entre Índia e Paquistão. Um frágil cessar-fogo foi alcançado em 2021 e se manteve até agora.

Na Casa Branca, o presidente americano Donald Trump classificou a escalada entre Índia e Paquistão como “uma vergonha” e disse esperar que “isso acabe muito rápido.”

Na última semana, o governo americano pediu aos dois países que reduzissem as tensões, mas Nova Délhi deixou claro que retaliaria ao atentado. Em conversa por telefone na semana passada, o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, disse ao Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, que o Paquistão deveria “pagar o preço”, segundo diplomatas que falaram sob condição de anonimato.

No dia 22 de abril, um grupo armado atacou turistas na cidade de Pahalgam, na parte indiana da região, matando 25 indianos e 1 nepalês. O Paquistão negou envolvimento com o ataque, reivindicado por um grupo terrorista islâmico pouco conhecido chamado Frente de Resistência – que tinha hindus como alvo. A Índia acusa Islamabad de armar e abrigar o grupo. O Ministério da Defesa do Paquistão sugeriu que o ataque foi uma “operação de false flag”.

No dia seguinte ao atentado, Nova Déli expulsou diplomatas, suspendeu vistos e fechou fronteiras terrestres com o Paquistão. Islamabad respondeu suspendendo acordos bilaterais, fechando fronteira e espaço aéreo a companhias indianas, e impondo sanções comerciais.

Desde 24 de abril há registros de trocas diárias de tiros na Caxemira e ambos os exércitos estão em alerta máximo. Apesar dos arsenais nucleares, a tendência é que nenhum lado acione armas atômicas a menos que esteja encurralado. Mas mesmo confrontos convencionais poderiam ser devastadores.

Nos últimos dias, a Índia também suspendeu o Tratado das Águas do Indo, assinado em 1960, que garante o acesso do Paquistão ao rio Indo, responsável por 90% de sua irrigação. Em resposta, Islamabad afirmou que se a Índia reduzir a quantidade de água que lhe é atribuída, isso seria considerado um ato de guerra. /COM AP, NY Times e W. Post

Estadão

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